23.2.14

Tauromaquia prejudica crianças




Tauromaquia prejudica crianças
Psicólogas entendem que actividades tauromáquicas prejudicam crianças
Integrar actividades tauromáquicas na infância e adolescência pode levar as crianças a apreender a noção de que “a violência é uma ferramenta para lidar com a vida” e torná-las mais insensíveis ao sofrimento, o que é “mais preocupante” quando esse sofrimento é da “responsabilidade” delas. A opinião é da psicóloga e docente da Universidade de Lisboa, Margarida Gaspar de Matos, para quem estas actividades encerram, em si mesmas, “violência” e implicam “risco para a vida e para a saúde de todos os envolvidos”.
Outro aspecto focado por Margarida Gaspar de Matos é o “medo” que as actividades podem provocar nos mais pequenos. Se sentirem “muito medo” e persistirem nas práticas, tal pode levar “precocemente a perturbações e rituais obsessivo-compulsivos, comuns em profissões de risco”.
A psicóloga admite que haja casos em que possam “criar boa auto-estima e coragem”. “Mas à custa de quê?”, questiona, frisando que, “segundo os novos conhecimentos de neurociências, em sentido estrito, só depois dos 24 anos”, é que se está “menos em risco” ao participar nestas actividades. “No mínimo, penso ser de bom senso não formatar as crianças com estas experiências antes da saída da adolescência”, diz.
A psicóloga e docente do Instituto de Educação da Universidade do Minho, Ana Tomás de Almeida considera que “a bestialidade, que é uma marca simbólica deste espectáculo, não é recomendável para crianças”. Para a psicóloga, “os maiores prejuízos” serão “os morais”. “A exaltação da crueldade e o fascínio pelo maltrato aos animais no contexto de um espectáculo têm efeitos nefastos na formação social e moral da criança”, diz, explicando que “do ponto de vista emocional e cognitivo há um conjunto de distorções que se operam com a exposição à violência”.
O presidente da Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR), Armando Leandro, vai debruçar-se sobre a participação de crianças em escolas de toureio, assistência e participação em espectáculos, “tendo em vista a legislação portuguesa e as recomendações” da ONU, considerando “exclusivamente o ponto de vista do interesse superior das crianças” e “sem qualquer juízo prévio”.
Já em 2009, num ofício que seguiu para as comissões de protecção de crianças e jovens e sem “qualquer juízo sobre a legitimidade dos espectáculos tauromáquicos”, a CNPCJR considerava que “os animais utilizáveis em espectáculos tauromáquicos, independentemente do seu peso” têm “características de ferocidade/agressividade, inerentes à natureza do espectáculo, que podem colocar em perigo crianças ou jovens, em função da desproporcionalidade entre aquelas características e as limitações do seu estado de desenvolvimento”. 

Fonte do texto: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/um-matador-de-touros-esta-sempre-no-fio-da-navalha-1625819#/0

Foto:https://www.google.pt/search?q=crian%C3%A7as+e+touradas&espv=210&es_sm=93&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei=JysKU47TLoK27Qa2uIAY&ved=0CAkQ_AUoAQ&biw=1440&bih=809&dpr=1#facrc=_&imgdii=_&imgrc=mAoSItzPCPRfEM%253A%3B-dd9bHxfJ_DeFM%3Bhttp%253A%252F%252Fimages.cdn.impresa.pt%252Fsicnot%252F2011-06-27-benavente_touro.jpg%253Fv%253Dw960%3Bhttp%253A%252F%252Fsicnoticias.sapo.pt%252Fpais%252F2014-02-05-onu-quer-limitar-participacao-de-criancas-portuguesas-em-touradas%253Bjsessionid%253D02EC3C5778E5FC89246719F97236A696%3B960%3B540

19.2.14

Alice Moderno



A propósito do aniversário da morte de Alice Moderno

No próximo dia 20, do corrente mês de fevereiro, fará 68 anos que faleceu Alice Moderno, personagem ímpar que marcou a sua época e que continua a inspirar todos os que lutam por uma sociedade melhor, nomeadamente para quem se bate para que o bem-estar animal e os direitos dos animais sejam reconhecidos na prática e não passem de meras palavras para embelezar discursos de circunstância.
Um trabalho importante, talvez o de maior envergadura até ao momento, para a perpetuação da memória de Alice Moderno foi feito pela professora Doutora Maria da Conceição Vilhena que, para além de vários textos, foi autora dos livros Alice Modernoa mulher e a obra”, editado pela Direção Regional dos Assuntos Culturais e “Uma Mulher Pioneira” editado pelas Edições Salamandra.
Nos nossos tempos livres, temos procurado pesquisar e compilar, nos jornais de Ponta Delgada onde ela colaborou ou chegou a dirigir, como o “Correio dos Açores”, onde manteve durante muitos anos a seção “Notas Zoófilas” “A Folha”, “O Recreio das Salas”, o “Diário dos Açores” e o Académico”, os seus escritos relativos à questão animal, com vista a conhecer melhor a sua vultuosa obra, a aprender com os erros do passado e a divulgar, sobretudo junto das pessoas que hoje, nos Açores, estão a prosseguir a luta por ela abraçada durante uma parte significativa da sua vida.
Conhecendo relativamente bem a sua personalidade, tal como já esperávamos, temos encontrado textos de Alice Moderno que com ligeiras adaptações mantêm-se perfeitamente atuais. De entre os exemplos possíveis, destacamos “Animais nossos amigos…”, texto de um discurso proferido por Alice Moderno numa reunião da SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, que foi publicado, no Correio dos Açores, a 30 de Janeiro de 1934.
No referido texto, Alice Moderno depois de mencionar que “em todos os países cultos, a proteção e assistência aos animais constitui um dever cívico, a que ninguém se exime, e pelo cumprimento do qual as leis olham cuidadosamente, rigorosamente, mesmo”, lamenta que, “em São Miguel, com sincera mágoa” pouco havia sido feito.
Sabendo-se que a SMPA foi fundada em 1911 e que uma vintena de anos depois a situação, segundo ela, estava muito longe de ser a ideal interessa-nos saber a razão?
As autoridades não colaboravam com a SMPA, as propostas da SMPA eram muito avançadas para a época, em que as dificuldades económicas de uma parte significativa da população eram enormes, ou os próprios dirigentes da sociedade pela sua apatia não foram capazes de implementar as suas ideias/propostas?
Hoje, em que uma parte crescente dos cidadãos se empenha em movimentos de solidariedade, não só para com humanos que vivem em regiões com poucos recursos naturais ou são governados por dirigentes corruptos, mas também para com quem na nossa terra foi espoliado do seu direito a ter um trabalho digno e uma remuneração justa, e onde a causa animal ganha, dia a dia, cada vez mais seguidores, é indispensável conhecer a vida e a obra de uma mulher que despendeu muitas das suas energias em várias causas humanitárias, como é a proteção dos animais, que segundo ela “sofrem muitas vezes estoicamente, sem um queixume, os maus tratos que a crueldade humana lhes inflige”.
Desafiamos as entidades oficiais a organizar um ou mais eventos que contribuam para dar a conhecer a obra de Alice Moderno, na literatura, no ensino, na luta pelos direitos das mulheres, na defesa dos animais e das plantas, às gerações que hoje a ignoram por completo.
Se nenhuma entidade oficial se mostrar disponível para tal, as associações de proteção dos animais deviam juntar esforços para o fazer, pelo menos no que diz respeito à causa que abraçaram.
Outro grande passo para perpetuar a sua memória será a luta pela concretização do grande sonho da SMPA e de Alice Moderno que era “estabelecer um Lazareto para tratamento dos animais achados quando abandonados pelo dono” e que hoje deve ser o de “criar” um moderno Hospital Veterinário “Alice Moderno”.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 3023, 19 de Fevereiro de 2014, p.11)

5.2.14

O Comité dos Direitos das Crianças da ONU aconselha Portugal a criar legislação que restrinja a participação de crianças em touradas

O Comité dos Direitos das Crianças da ONU aconselha  Portugal a criar legislação que restrinja a participação de crianças em  touradas, quer como participantes quer como espetadores, mostrando preocupação  com os efeitos na saúde física e mental dos menores. 

"O Comité está preocupado com o bem-estar físico e mental das crianças  envolvidas em treino para touradas, bem como com o bem-estar mental e emocional  das crianças enquanto espetadores que são expostas à violência das touradas",  refere um relatório hoje divulgado por aquele organismo das Nações Unidas.

Por isso, é recomendado que Portugal tome medidas legislativas para  proteger todas as crianças envolvidas em touradas, "tendo em vista uma eventual  proibição". 

O Comité sugere que uma das medidas seja a imposição de uma idade mínima  de 12 anos para treino ou frequência de escolas de tauromaquia e de seis  anos para assistir a espetáculos com touros. 

"O Comité também exorta o Estado para empreender medidas de sensibilização  e conscientização sobre a violência física e mental associada às touradas  e o seu impacto nas crianças", refere o relatório hoje apresentado. 

Esta questão sobre a participação das crianças em touradas ou escolas  de tauromaquia foi apenas um dos aspetos analisados pelo Comité da ONU sobre  a situação portuguesa no que respeita aos direitos das crianças. 

A próxima avaliação de Portugal será feita em outubro de 2017. 
 

Lusa, 5 de Fevereiro de 2014

4.2.14

Os valores da festa brava




Os valores da festa brava

(e um Fórum que foi declarado de reconhecido interesse público)


In his biological writings, Aristotle (384–322 bc) repeatedly suggested that animals lived for their own sake, but his claim in the Politics that nature made all animals for the sake of humans was unfortunately destined to become his most influential statement on the subject.
(Encyclopaedia Britannica, Animal rights)

Em 1952 escrevia meu Pai, na introdução de pequeno livrinho que então publicou, o seguinte: “Há na Sagrada Escritura dois provérbios característicos pela sua aparente contradição. Um diz: não respondas ao louco segundo a sua loucura, para não vires a ser semelhante a ele. O outro aconselha: responde ao louco segundo a sua loucura, para que ele não imagine que é sábio. Perante a nota de reportagem “Festa brava oferece “escola de vida” – presente no Diário Insular, na sua edição de 28/Jan. do ano corrente, onde se apresentam algumas conclusões do III Fórum Mundial da Cultura Taurina, durante algum tempo, vacilando entre os dois conselhos, hesitei em “responder”, isto é, em pronunciar-me sobre o assunto…mas tal como em tempos decidiu meu Pai, decidi-me hoje pela resposta.

As referidas conclusões, que foram lidas por um conhecido autor de obras sobre a “corrida” e defensor da cultura tauromáquica, o filósofo e professor Francis Wolff, apontam constantemente para os “valores” ligados à tauromaquia, não os identificando ou concretizando porém (e por que não? Pensar-se-á, acaso, que todos os “valores” são desejáveis e moralmente defensáveis?) enquanto parecem reflectir o sentimento dos participantes, que será de perseguição perpetrada pelos ferozes anti-taurinos - que surgem em toda a nota como os maus da fita.

Anti taurina ou, mais bem dizendo, anti-tauromaquia como me assumo, e isto desde que aos seis ou sete anos de idade assisti a uma tourada à corda e acto contínuo me coloquei, mentalmente, ao lado do animal desnorteado e confuso - que claramente vi como o mais fraco - jamais persegui, insultei ou injuriei quem quer que fosse por pensar de modo diverso daquele que reconheço como o meu, muito embora possa, evidentemente, lamentar que se torne ainda necessário a alguns, no momento evolutivo em que a espécie se encontra, demonstrar em praça pública que são mais espertos do que um touro – o que é forçosamente sempre verdade, mesmo para o mais bronco exemplar de homo sapiens sapiens que possamos imaginar. Porque dos valores da cultura taurina, tantas vezes referidos, nomeadamente nestas conclusões, mas raramente identificados pelos seus defensores, imagino eu que o principal será a modalidade de coragem que leva um humano de físico comparativamente insignificante a se colocar perante um bicho irracional, mas dotado de poderosos músculos - coragem essa que não me parece lá muito superior, porém, à de algum desocupado que finte uma locomotiva que não consegue, por si mesma, sair dos carris onde foi colocada. Claro que pode acontecer um acidente, uma escorregadela, um tropeção, e num acaso, ser colhido o homem, que nesta insensatez perde a sua irrepetível vida, na tentativa de demonstrar mais uma vez o que toda a gente já sabe. Mas, em princípio, é sabido que o touro procurará a capa que esvoaça, tal como é sabido que a locomotiva não sairá dos carris – e com um bocado de sorte ninguém tropeçará.
Bastante maior coragem revela, quanto a mim, o boxeur que enfrenta um seu semelhante em força física, habilidade e inteligência, muito embora o fomento do pugilismo também não esteja nos meus planos culturais para a terra onde nasci.
Aprecio a coragem e a destreza físicas, mas mais defendo a promoção de um outro tipo da mesma, que passe muito menos pelos músculos e muito mais pela força de carácter, que tenha pouco de esperteza saloia e muito de honesto aprumo, que encare o mais fraco como destinatário dos cuidados e da sabedoria do mais forte – e nunca como objecto de diversão ou de libertação de instintos sádicos, de que é alvo fácil. No confronto homem-touro, este é o mais fraco, e não ao contrário – assim o vi naquela tourada à corda de há muitos anos, assim o vejo hoje.

Como se pode afirmar que, e transcrevo: “Contra o doutrinamento do politicamente correcto a tauromaquia tem-se como uma experiência de beleza, paixão, inteligência, que deveria ganhar espaço como modelo de comportamento, para uma sociedade que vai perdendo as suas referências essenciais” no contexto de um evento que foi, se a memória me não falha, subsidiado por dinheiros públicos - que são administrados e atribuídos por políticos - em pelo menos 60000 euros? Por outro lado, serão porventura, para os participantes deste Fórum, referências essenciais da nossa sociedade o conseguirmos divertimento (e proventos económicos, talvez um outro dos valores que não são explicitados) à custa do sofrimento e da confusão de animais irracionais? Se assim for, pois é bom que se percam; eu advogo, e outros como eu advogarão, o surgimento de uma sociedade em que as referências passem pela compaixão, que não pelo sadismo; pela elevação artística, que não pelo divertimento boçal; pela sabedoria, numa palavra, que nos levará a compreender o nosso lugar no planeta como guardiães atentos, que não como usuários aproveitadores, desinteressados do dia de amanhã que de qualquer modo não nos atingirá - e já agora aí vai outra expressão que está muito em moda, como está esta dos “valores” - dado que uma das minhas referências para a sociedade que almejo é, precisamente, o desenvolvimento… sustentável.

Muitas vezes tenho constatado com tristeza que, neste meio onde vivemos, parece não ser necessário compreendermos a fundo o significado das palavras para as repetirmos de modo considerado oportuno.

Mas voltando à questão, todos estamos no mesmo barco, homens, touros e árvores; mas só uma das espécies viventes apresenta o apodo duplo de sapiens, que, muito embora se trate de uma auto-denominação, deveria implicar forte responsabilização do mais sábio, logo mais forte, pelos mais fracos.

É verdade que os participantes do Fórum em questão, mai-lo seu porta voz e aficionados em geral, têm em pleno a liberdade de não concordar com a minha postura, nestas linhas expressa, de apreciar uma actividade que outros reputam atávica, desprovida de dignidade e cruel, e até de a praticar, pelo menos enquanto as leis do nosso país o permitirem. Não podem é supor que acreditamos que o rei traz vestido um esplêndido fato quando afinal vem o mais nu que é possível, e isto por muito filósofo (e especialista em Aristóteles), que seja o porta voz das conclusões… Aristóteles, que aliás e por não dizer sempre a mesma coisa, acabou por ficar com as famas de entender a existência dos animais para exclusivo proveito dos seres humanos - quando afinal, se o disse, também disse o contrário. Mas que trapalhão.

E, para terminar, que me seja permitido dizer que a bela ilha Terceira, tão cheia de (outras) tradições interessantes e de grande importância em termos culturais (e bastará lembrar aqui o seu valiosíssimo corpo folclórico musical, que me é tão próximo e não cesso de admirar) não precisa de nada disto para se confirmar como um destino turístico de primeira água, que manifestações desta natureza só poderão, infelizmente, deslustrar.

Respondi! e disse.
Maria Fraga

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10200580034982820&set=a.1530868091126.61304.1817484358&type=1&theater