19.7.10

Alguns Apontamentos sobre a Sociedade Micaelense Protectora dos Animais



Um texto, da autoria de João Anglin, publicado no Jornal Vida Nova, em 15 de Agosto de 1910, que foi transcrito por Alice Moderno no seu jornal A Folha, foi a primeira pedra na construção do que viria a ser a SMPA-Sociedade Micaelense Protectora dos Animais.

Depois de elaborados os estatutos, por Maria Evelina de Sousa, directora da Revista Pedagógica, que terão tido como modelo os da Sociedade Protectora dos Animais de Lisboa, realizou-se a primeira reunião a que assistiram um representante de cada uma das seguintes publicações: Diário dos Açores, O Correio Micaelense, Revista Pedagógica, A Persuasão e A Folha, bem como Amâncio Rocha, Fernando de Alcântara, Henrique Xavier de Sousa e Manuel Botelho de Sousa.

Legalizada a SMPA, a 13 de Setembro de 1911, foram seus fundadores: Caetano Moniz de Vasconcelos (governador civil), Alfredo da Câmara, Amâncio Rocha, Augusto da Silva Moreira, Fernando de Alcântara, Francisco Soares Silva (director do jornal anarquista Vida Nova), José Inácio de Sousa, Joviano Lopes, Manuel Botelho de Sousa, Manuel Resende Carreiro, Marquês de Jácome Correia, Miguel de Sousa Alvim, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa. De entre estes, destacaram-se pelo seu empenho na criação da sociedade, Maria Evelina de Sousa que se responsabilizou por toda a parte burocrática e Augusto da Silva Moreira que adiantou a verba necessária para o arranque.

Os primeiros três anos de vida da SMPA foram de quase apatia. De acordo com Maria da Conceição Vilhena, no seu livro “Alice Moderno, a Mulher e a Obra”, muito pouco foi feito e tanto o primeiro presidente, António José de Vasconcelos, como o segundo, Tibúrcio Carreiro da Câmara, terão manifestado falta de iniciativa e entusiasmo.
Com a presidência de Alice Moderno, a partir de 1914, a vida da SMPA alterou-se por completo, tanto no que diz respeito à tomada de medidas conducentes a acabar com os maus tratos que eram alvo os animais usados no transporte de cargas diversas, nomeadamente os que transportavam beterraba para a fábrica do açúcar, à educação dos mais novos através do envio de uma comunicação aos professores “pedindo-lhes para que, mensalmente, façam uma prelecção aos seus alunos, incutindo no espírito dos mesmos a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal”e à criação de condições para o seu funcionamento, como foi a aquisição de uma sede e mobiliário.

Em Agosto de 1945, ter-se-á realizado a última reunião assistida por Alice Moderno, com a presença de Olga Amélia Lima, Francisco Silveira Rodrigues, José Soares de Albergaria e Luciano Mota Vieira e Maria Evelina de Sousa, em representação de Oliveira S. Bento, na qual foi debatido o problema que preocupou a sociedade desde o início, o peso excessivo da carga que os animais eram obrigados a suportar.

No final da década de oitenta do século passado, a sociedade possuía cerca de 600 sócios com as quotas em dia, tendo-se a partir daí assistido ao seu declínio de tal modo que hoje não se conhece qualquer actividade.

Desaparecidos os problemas associados ao transporte de cargas, hoje a atenção deverá recair sobre o abandono de animais domésticos, o tratamento dos animais de produção e o retrocesso civilizacional que se está a assistir com a tentativa de introduzir touradas onde não são tradição e de agravar a tortura dos touros bravos, com a legalização da sorte de varas e touros de morte. Face ao exposto, seria de todo o interesse o ressurgimento ou a reactivação da Sociedade Micaelense Protectora dos Animais. Todos são poucos para o que urge fazer.

Teófilo Braga

Pico da Pedra, 17 de Julho de 2010

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