11.12.11

Veterinário escreve sobre o sofrimento do cavalo e do touro




Percurso do touro usado para toureio.

Um exemplo: vive uns 4 anos bem na campina, espaço largo e com boas condições. Desenvolve-se. Um dia alguém decide escolhê-lo para a lide numa tourada. Enxotam-no, com ou sem medicação, para uma manga e enfiam-no numa caixa apertada onde mal se pode mexer. O stress da claustrofobia é tremendo, ao passar da liberdade e tranquilidade da campina para o caixote, onde fica confinado. A seguir acresce a ansiedade/pânico do transporte. Depois a espera, provavelmente, com pouco ou nenhum alimento e bebida. Talvez sendo injectado, a ponta dos cornos cortada até ao vivo e muito enervado, ficando extrema e dolorosamente sensível ao contacto. Mais tarde, a condução ao curro da praça de touros. Empurrado depois para a arena = beco cruel sem saída, suportando logo o enorme alarido, que ainda o assusta mais. Depois a provocação, o engano, o cravar dos ferros, que o ferem através da pele, aponevrose, mais ou menos músculo, tendão e, por vezes até pleura e pulmão (meu testemunho) e o fazem sangrar e sofrer. Tudo isto o enfurece, o magoa, o deprime e o esgota. Depois é retirado com as “chocas”. Brutalmente, tal como foram cravados, os ferros são agora retirados. Depois o sofrimento cresce pela dor provocadas pelos ferimentos, infectando e provocando febre, animicamente derrotado, até que o abate liberte de tamanho sofrer esta desgraçada vítima dos chamados humanos, “corrido” e torturado unicamente para diversão de aficionados, alimentar de vaidades, de negócios de tauromáquicos e no prosseguimento de uma cruel tradição.
É, portanto, uma aberração, comprovativa da maior hipocrisia, quando tauromáquicos e ganadeiros afirmam serem as pessoas que mais gostam dos touros.
Revoltante e vergonhoso é que tal crueldade seja permitida legalmente, feita espectáculo e publicitada.


Percurso do cavalo usado para toureio
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É um animal de fuga, que procura a segurança e que a atinge pondo-se à distância daquilo que desconfia ou que considera ser perigoso. Defende-se do agressor próximo com o coice e por vezes com a sapatada do membro anterior, se for mais afoito ou considerar o perigo menor.
No treino e na lide montada, ele é dominado pelo cavaleiro com ferros mais ou menos serrilhados na boca (freio, bridão) mais ou menos castigadores e incitado de tal maneira pela voz e por outras acções, chamadas hipocritamente de “ajudas”, como sejam de esporas que são cravadas provocando muita dor e até feridas sangrentas.
Ele é impelindo para a frente para fugir à acção das esporas, devido à dor que elas lhe provocam e a voltar-se pela dor na boca e pelo inclinar do corpo do cavaleiro .
Resumindo: o cavalo é obrigado a enfrentar o touro pelo respeito/receio que tem do cavaleiro, que o domina e o castiga, até cravando-lhe esporas no ventre e provocando-lhe dor e desequilíbrio na boca. Isso transtorna-o de tal maneira, que o desconcentra do perigo que o touro para ele representa de ferimento e de morte e quase o faz abstrair disso.
É, portanto, uma aberração, comprovativa da maior hipocrisia, quando cavaleiros tauromáquicos afirmam gostarem muito dos seus cavalos e lhes quererem proporcionar o bem estar.
Revoltante e vergonhoso é que tal crueldade seja permitida legalmente, feita espectáculo e publicitada.

Vasco Reis, médico veterinário

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