Crise, falta de adaptação família/animal e redução do espaço disponível são
principais factores apontados pelos donos
Há quem diga que gosta, mas que é demasiado grande, ou que vai mudar de casa, ou que com a crise já não tem dinheiro para o sustentar, ou que, afinal queria era um gato em vez de um cão, ou que até não sabia que era de uma raça potencialmente perigosa. Por estas e por muitas outras razões invocadas, as entregas de animais no Canil de Ponta Delgada aumentaram em 20%, enquanto que o número de abandonos decresceu. São menos os animais errantes e sem ninguém que lhes estenda a mão ou uma tigela de comida nas ruas da maior cidade açoriana, mas o facto é que, face a todas estas supostas “razões”, o número de abates, especialmente cães, semanalmente, já chega, em média, aos 40 animais. Semanalmente são doados 10 a 15 cães e gatos.
O Verão e as férias estão no fim. Que balanço é possível fazer-se ao nível do abandono de animais, tendo em conta ainda a tão badalada crise?
Ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, temos assistido a mais entregas e menos abandonos. O número de capturas tem vindo a diminuir e notamos que as pessoas estão um pouco mais civilizadas e conscientes. No entanto, estamos a assistir a um aumento de casos de entregas ao canil municipal de Ponta Delgada, especialmente porque falamos de animais muito jovens, muitas vezes chegando ao cúmulo de chegarem animais que ainda nem são autónomos em termos de idade. Por uma razão ou por outra as pessoas entregam-nos aqui, ou abandonam-nos ao portão ou, até mesmo, atirá-los por cima do muro. Infelizmente, ainda se assiste a estas situações, e julgo que estas atitudes vêm de pessoas que não querem dar a cara. Inevitavelmente, o seu destino acaba por ser, na grande maioria das vezes, fatídico.
Estamos a falar de uma percentagem de entregas na ordem que quanto?
Ao nível das entregas, teremos cerca de mais 20% a mais do que nos anos anteriores.
As desculpas situam-se entre a mudança de casas para apartamentos e a redução de espaço disponível para ter os animais; a falta de adaptação e a crise. Também há quem venha trocar cães por gatos, ou até trocar um cão grande por um pequeno. Há de tudo. As raças perigosas também têm entrado com alguma abundância, uma vez que são animais que exigem algum dispêndio financeiro, nomeadamente o pagamento de seguros, alimentação específica, entre outras situações. Também a fiscalização sobre os donos aumentou e, para além disso, o facto de terem sido noticiados alguns casos de agressões que vitimaram algumas pessoas recentemente, tem também sido razão para algumas destas entregas, pela perda de confiança entre dono e animal ou até mesmo como forma de assegurar que os animais não serão perigosos para nenhum elemento do agregado familiar, nomeadamente quando existem crianças nestas casas.
Qual é, então, o destino destes animais?
Infelizmente é também o abate, tal como acontece com os que não são autónomos em termos de idade. Por semana estamos no Canil de Ponta Delgada a abater cerca de 40 animais, na sua grande maioria por estarem doentes ou velho ou então por serem demasiado novos para sobreviver ou pertencerem a raças ou cruzamentos de raças potencialmente perigosas.
No caso dos animais de raças que podem significar alguma perigosidade para os seres humanos, é sempre complicado conseguir a sua socialização. Por isso mesmo o destino acaba por ser sempre o abate.
Pela cadência normal deste Verão, os abates, semanalmente, atingem cerca de 40 animais. Não tanto pela lotação do canil, mas especialmente porque a política do canil tem sido a de realizar abates em animais que não têm qualquer potencial de adopção e não tanto por não termos espaço para os manter aqui.
Semanalmente temos cerca de 100 cães e 25 gatos. Essa é a nossa população média. Diariamente tanto podem dar entrada 20, como nenhum – o que acaba por ser um milagre. Doamos entre 10 a 15 por semana, muito embora haja alguns destes que acabam por voltar para o canil novamente, por motivos relacionados com a tal adaptação que não acontece.
BE/A quer mais centros de recolha licenciados
A Comissão Permanente de Economia reuniu no passado dia 24 de Julho a fim de apreciar e dar parecer sobre o Projecto de Resolução n.° 27/2012 - “Promoção do bem-estar animal e controlo das populações de animais errantes”, apresentado pelo Bloco de Esquerda, sendo que este documento visava, genericamente, recomendar ao Governo Regional a adopção de determinadas medidas no sentido da promoção do bem-estar animal e controlo das populações de animais errantes.
A iniciativa em apreciação defendia que “o quadro normativo legal em vigor sobre a protecção dos animais de companhia e a promoção do bem-estar animal, só por si, tem sido insuficiente para reduzir o número de animais de companhia errantes na Região Autónoma dos Açores, pelo que urge reunir medidas que o tornem consequente” e, segundo o BE, a implementação imediata de medidas justifica-se face à situação actual, da qual destaca: a existência de apenas um Centro de Recolha Oficial (CRO) devidamente licenciado na Região Autónoma dos Açores, o qual se situa em Ponta Delgada; a existência de vários municípios nos Açores que não têm veterinários municipais, os quais contribuem decisivamente para o cumprimento do quadro normativo legal inerente aos CRO.
Para além do mais, a iniciativa refere o registo de taxas de occisão superiores nos canis municipais que apresentam falta de condições para procederem a uma política de controlo reprodutivo dos animais recolhidos.
Assim, em concreto, para dar resposta ao quadro acima exposto, a iniciativa resolveu recomendar ao Governo Regional que “reforce o acompanhamento ao licenciamento dos centos de recolha oficiais, assegurando que são cumpridas as normas de saúde e bem-estar animal” e “promova uma política de não occisão dos animais errantes recolhidos nos centros de recolha oficiais, adoptando, nomeadamente, meios eficazes de controlo da reprodução” para além de promover e facilitar “a contratação de veterinários municipais”, prevendo ainda meios para que “os CRO detenham condições de alojamento adequadas e condições para a realização de tratamentos rnédico-veterinários, cumprindo, assim, as normas de saúde de bem-estar animal, bem como meios para que os CRO possam realizar a esterilização dos animais errantes recolhidos, em especial dos não reclamados nos prazos legais”.
Esta iniciativa legislativa salienta que o Governo regional deverá “promover a realização de campanhas de sensibilização pública e dos detentores de animais contra o abandono, assim como para a adopção responsável dos animais recolhidos nos CRO” e “preveja que os animais a cargo de associações de protecção dos animais ou de detentores em incapacidade económica possam aceder a tratamentos médico-veterinários, nomeadamente a prática de esterilização, a preços simbólicos, nos CRO”.
Outro dos pontos do documento apresentado refere que deve ser “facilitado o registo no SICAFE [Sistema de Identificação e Registo de Caninos e Felinos], por parte dos veterinários responsáveis pela colocação do chip nos animais.”
Há quem diga que gosta, mas que é demasiado grande, ou que vai mudar de casa, ou que com a crise já não tem dinheiro para o sustentar, ou que, afinal queria era um gato em vez de um cão, ou que até não sabia que era de uma raça potencialmente perigosa. Por estas e por muitas outras razões invocadas, as entregas de animais no Canil de Ponta Delgada aumentaram em 20%, enquanto que o número de abandonos decresceu. São menos os animais errantes e sem ninguém que lhes estenda a mão ou uma tigela de comida nas ruas da maior cidade açoriana, mas o facto é que, face a todas estas supostas “razões”, o número de abates, especialmente cães, semanalmente, já chega, em média, aos 40 animais. Semanalmente são doados 10 a 15 cães e gatos.
O Verão e as férias estão no fim. Que balanço é possível fazer-se ao nível do abandono de animais, tendo em conta ainda a tão badalada crise?
Ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, temos assistido a mais entregas e menos abandonos. O número de capturas tem vindo a diminuir e notamos que as pessoas estão um pouco mais civilizadas e conscientes. No entanto, estamos a assistir a um aumento de casos de entregas ao canil municipal de Ponta Delgada, especialmente porque falamos de animais muito jovens, muitas vezes chegando ao cúmulo de chegarem animais que ainda nem são autónomos em termos de idade. Por uma razão ou por outra as pessoas entregam-nos aqui, ou abandonam-nos ao portão ou, até mesmo, atirá-los por cima do muro. Infelizmente, ainda se assiste a estas situações, e julgo que estas atitudes vêm de pessoas que não querem dar a cara. Inevitavelmente, o seu destino acaba por ser, na grande maioria das vezes, fatídico.
Estamos a falar de uma percentagem de entregas na ordem que quanto?
Ao nível das entregas, teremos cerca de mais 20% a mais do que nos anos anteriores.
As desculpas situam-se entre a mudança de casas para apartamentos e a redução de espaço disponível para ter os animais; a falta de adaptação e a crise. Também há quem venha trocar cães por gatos, ou até trocar um cão grande por um pequeno. Há de tudo. As raças perigosas também têm entrado com alguma abundância, uma vez que são animais que exigem algum dispêndio financeiro, nomeadamente o pagamento de seguros, alimentação específica, entre outras situações. Também a fiscalização sobre os donos aumentou e, para além disso, o facto de terem sido noticiados alguns casos de agressões que vitimaram algumas pessoas recentemente, tem também sido razão para algumas destas entregas, pela perda de confiança entre dono e animal ou até mesmo como forma de assegurar que os animais não serão perigosos para nenhum elemento do agregado familiar, nomeadamente quando existem crianças nestas casas.
Qual é, então, o destino destes animais?
Infelizmente é também o abate, tal como acontece com os que não são autónomos em termos de idade. Por semana estamos no Canil de Ponta Delgada a abater cerca de 40 animais, na sua grande maioria por estarem doentes ou velho ou então por serem demasiado novos para sobreviver ou pertencerem a raças ou cruzamentos de raças potencialmente perigosas.
No caso dos animais de raças que podem significar alguma perigosidade para os seres humanos, é sempre complicado conseguir a sua socialização. Por isso mesmo o destino acaba por ser sempre o abate.
Pela cadência normal deste Verão, os abates, semanalmente, atingem cerca de 40 animais. Não tanto pela lotação do canil, mas especialmente porque a política do canil tem sido a de realizar abates em animais que não têm qualquer potencial de adopção e não tanto por não termos espaço para os manter aqui.
Semanalmente temos cerca de 100 cães e 25 gatos. Essa é a nossa população média. Diariamente tanto podem dar entrada 20, como nenhum – o que acaba por ser um milagre. Doamos entre 10 a 15 por semana, muito embora haja alguns destes que acabam por voltar para o canil novamente, por motivos relacionados com a tal adaptação que não acontece.
BE/A quer mais centros de recolha licenciados
A Comissão Permanente de Economia reuniu no passado dia 24 de Julho a fim de apreciar e dar parecer sobre o Projecto de Resolução n.° 27/2012 - “Promoção do bem-estar animal e controlo das populações de animais errantes”, apresentado pelo Bloco de Esquerda, sendo que este documento visava, genericamente, recomendar ao Governo Regional a adopção de determinadas medidas no sentido da promoção do bem-estar animal e controlo das populações de animais errantes.
A iniciativa em apreciação defendia que “o quadro normativo legal em vigor sobre a protecção dos animais de companhia e a promoção do bem-estar animal, só por si, tem sido insuficiente para reduzir o número de animais de companhia errantes na Região Autónoma dos Açores, pelo que urge reunir medidas que o tornem consequente” e, segundo o BE, a implementação imediata de medidas justifica-se face à situação actual, da qual destaca: a existência de apenas um Centro de Recolha Oficial (CRO) devidamente licenciado na Região Autónoma dos Açores, o qual se situa em Ponta Delgada; a existência de vários municípios nos Açores que não têm veterinários municipais, os quais contribuem decisivamente para o cumprimento do quadro normativo legal inerente aos CRO.
Para além do mais, a iniciativa refere o registo de taxas de occisão superiores nos canis municipais que apresentam falta de condições para procederem a uma política de controlo reprodutivo dos animais recolhidos.
Assim, em concreto, para dar resposta ao quadro acima exposto, a iniciativa resolveu recomendar ao Governo Regional que “reforce o acompanhamento ao licenciamento dos centos de recolha oficiais, assegurando que são cumpridas as normas de saúde e bem-estar animal” e “promova uma política de não occisão dos animais errantes recolhidos nos centros de recolha oficiais, adoptando, nomeadamente, meios eficazes de controlo da reprodução” para além de promover e facilitar “a contratação de veterinários municipais”, prevendo ainda meios para que “os CRO detenham condições de alojamento adequadas e condições para a realização de tratamentos rnédico-veterinários, cumprindo, assim, as normas de saúde de bem-estar animal, bem como meios para que os CRO possam realizar a esterilização dos animais errantes recolhidos, em especial dos não reclamados nos prazos legais”.
Esta iniciativa legislativa salienta que o Governo regional deverá “promover a realização de campanhas de sensibilização pública e dos detentores de animais contra o abandono, assim como para a adopção responsável dos animais recolhidos nos CRO” e “preveja que os animais a cargo de associações de protecção dos animais ou de detentores em incapacidade económica possam aceder a tratamentos médico-veterinários, nomeadamente a prática de esterilização, a preços simbólicos, nos CRO”.
Outro dos pontos do documento apresentado refere que deve ser “facilitado o registo no SICAFE [Sistema de Identificação e Registo de Caninos e Felinos], por parte dos veterinários responsáveis pela colocação do chip nos animais.”
Autor: Ana Coelho
Correio dos
Açores, 5 de Setembro de 2012
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