22.1.14

Um breve olhar sobre o movimento animalista nos Açores


Um breve olhar sobre o movimento animalista nos Açores

O movimento animalista pode ser definido como uma nebulosa de associações formais ou informais que defendem os direitos dos animais e que pugnam pelo seu tratamento ético na sociedade.
Para a consecução dos seus fins, as diversas organizações recorrem a diferentes meios, como manifestações, petições, sabotagens, boicotes, ações de sensibilização, etc., conducentes a, por um lado, mudar a legislação em vigor e, por outro, promover uma alteração das atitudes e comportamentos das pessoas face aos animais.
Minoritárias, pelo menos atualmente, são as associações que responsabilizam o atual modo de produção e de consumo pelo sofrimento infligido aos animais pelo que consideram que a luta pela libertação animal não é uma luta desligada das outras. Assim, defendem a interligação entre a libertação animal, a humana e a da Terra.
Outra corrente, também minoritária mas em expansão, é a que combate o especismo, isto é a descriminação de um indivíduo em função da espécie. Para os antiespecistas o objetivo comum é “a abolição da matança e exploração de animais conforme já acontece com os seres humanos”.
Nos Açores, as primeiras associações de proteção dos animais surgiram no início do século passado. Assim, em 1911, foi criada em Angra do Heroísmo a SPAAH - Sociedade Protetora dos Animais de Angra do Heroísmo, instituição que tinha por fim, de acordo como art. 1 dos seus estatutos, “proteger dos maus tratos todos os animais não considerados daninhos… e animar o exercício da caridade para com os animais, estabelecendo para isso prémios e recompensas sempre que permitam os recursos da sociedade” e a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais que tinha como “fim melhorar por todos os meios ao seu alcance a sorte dos animais e conferir prémios a quem por qualquer forma se distinguir pela compaixão e bom tratamento para os mesmos, punir os que maltratarem e estabelecer um Lazareto para tratamento dos animais achados quando abandonados pelo dono”.
De então para cá algumas associações se criaram, especialmente dedicadas à proteção dos animais de companhia, com destaque para os cães, mas sem descurarem os gatos.
Para além das referidas associações, que têm uma atuação fortemente assistencialista, têm, também, surgido alguns coletivos de proteção dos animais, mais ou menos voláteis, com atuações essencialmente cívicas, destacando-se de entre eles um coletivo abolicionista da tauromaquia.
Nos últimos tempos, aproveitando as potencialidades das redes sociais têm proliferado as páginas e grupos de defesa dos animais, nomeadamente dos de companhia, e de oposição às touradas.
Ao contrário da maioria outros movimentos existentes na nossa sociedade cuja expansão estagnou e a sua atividade sofreu um forte declínio, não mencionando aqui os grupos caritativos cujo aparecimento é, do nosso ponto de vista, conjuntural, o movimento animalista, embora ainda muito débil, é o que maiores potencialidades tem de crescimento.
O movimento animalista se quiser vir a influenciar a sociedade açoriana terá de estar consciente de todos os obstáculos que terá de enfrentar, como as tradições retrógradas que não fazem sentido quando estão associadas ao sofrimento animal ou a legislação existente que ou “beneficia” os infratores ou que por si só não impede a violação dos direitos dos animais. Por exemplo, não é por existir legislação relativa à proteção do ambiente que os crimes ambientais deixaram de ocorrer ou a existência de legislação relativa aos direitos humanos não levou ao desaparecimento da violação dos referidos direitos. Em relação aos animais a situação é (será?) semelhante. Ainda em relação aos animais, não é absurdo que haja legislação que puna o mau trato quando o animal é um cão e não o faça quando o mesmo for um bovino?
Por último, os ativistas dos direitos dos animais têm de ter uma atuação que evite darem tiros nos pés, como acontece muitas vezes. Para tal, Henry Spira, que é o “pai do selo “não testado em animais" recomenda que o ativista:
- Tente compreender o pensamento do público e não se isole da realidade;
- Não divida o mundo entre santos e pecadores;
- Procure o diálogo e tente trabalhar, na medida do possível, em conjunto com seu oponente para encontrar soluções.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 3002, 22 de Janeiro de 2014 p.16)

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