Um
breve olhar sobre o movimento animalista nos Açores
O
movimento animalista pode ser definido como uma nebulosa de associações formais
ou informais que defendem os direitos dos animais e que pugnam pelo seu
tratamento ético na sociedade.
Para
a consecução dos seus fins, as diversas organizações recorrem a diferentes
meios, como manifestações, petições, sabotagens, boicotes, ações de
sensibilização, etc., conducentes a, por um lado, mudar a legislação em vigor
e, por outro, promover uma alteração das atitudes e comportamentos das pessoas
face aos animais.
Minoritárias,
pelo menos atualmente, são as associações que responsabilizam o atual modo de produção e de consumo pelo
sofrimento infligido aos animais pelo que consideram que a luta pela libertação animal não é uma luta desligada das
outras. Assim, defendem a interligação entre a libertação animal, a humana e a
da Terra.
Outra corrente, também minoritária mas em expansão, é a que
combate o especismo, isto é a descriminação de um indivíduo em função da
espécie. Para os antiespecistas o objetivo comum é “a abolição da matança e
exploração de animais conforme já acontece com os seres humanos”.
Nos Açores, as primeiras associações de proteção dos animais
surgiram no início do século passado. Assim, em 1911, foi criada
em Angra do Heroísmo a SPAAH - Sociedade Protetora dos Animais de Angra do
Heroísmo, instituição que tinha por fim, de acordo como art. 1 dos seus
estatutos, “proteger dos maus tratos todos os animais não considerados
daninhos… e animar o exercício da caridade para com os animais, estabelecendo
para isso prémios e recompensas sempre que permitam os recursos da sociedade” e
a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais que tinha como “fim melhorar por
todos os meios ao seu alcance a sorte dos animais e conferir prémios a quem por
qualquer forma se distinguir pela compaixão e bom tratamento para os mesmos,
punir os que maltratarem e estabelecer um Lazareto para tratamento dos animais
achados quando abandonados pelo dono”.
De
então para cá algumas associações se criaram, especialmente dedicadas à
proteção dos animais de companhia, com destaque para os cães, mas sem
descurarem os gatos.
Para
além das referidas associações, que têm uma atuação fortemente
assistencialista, têm, também, surgido alguns coletivos de proteção dos
animais, mais ou menos voláteis, com atuações essencialmente cívicas,
destacando-se de entre eles um coletivo abolicionista da tauromaquia.
Nos
últimos tempos, aproveitando as potencialidades das redes sociais têm
proliferado as páginas e grupos de defesa dos animais, nomeadamente dos de
companhia, e de oposição às touradas.
Ao
contrário da maioria outros movimentos existentes na nossa sociedade cuja expansão
estagnou e a sua atividade sofreu um forte declínio, não mencionando aqui os
grupos caritativos cujo aparecimento é, do nosso ponto de vista, conjuntural, o
movimento animalista, embora ainda muito débil, é o que maiores potencialidades
tem de crescimento.
O
movimento animalista se quiser vir a influenciar a sociedade açoriana terá de
estar consciente de todos os obstáculos que terá de enfrentar, como as
tradições retrógradas que não fazem sentido quando estão associadas ao
sofrimento animal ou a legislação existente que ou “beneficia” os infratores ou
que por si só não impede a violação dos direitos dos animais. Por exemplo, não
é por existir legislação relativa à proteção do ambiente que os crimes
ambientais deixaram de ocorrer ou a existência de legislação relativa aos
direitos humanos não levou ao desaparecimento da violação dos referidos
direitos. Em relação aos animais a situação é (será?) semelhante. Ainda em
relação aos animais, não é absurdo que haja legislação que puna o mau trato quando
o animal é um cão e não o faça quando o mesmo for um bovino?
Por
último, os ativistas dos direitos dos animais têm de ter uma atuação que evite
darem tiros nos pés, como acontece muitas vezes. Para tal, Henry Spira, que é o
“pai do selo “não testado em animais" recomenda que o ativista:
-
Tente compreender o pensamento do público e não se isole da realidade;
-
Não divida o mundo entre santos e pecadores;
-
Procure o diálogo e tente trabalhar, na medida do possível, em conjunto com seu
oponente para encontrar soluções.
Teófilo
Braga
(Correio
dos Açores, nº 3002, 22 de Janeiro de 2014 p.16)
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