3.11.15

Gérald Le Grand


Gérald Le Grand

Sempre que se quiser fazer uma história da conservação da natureza nos Açores e se se quiser mencionar personalidades que deram o seu contributo para tal o nome do ornitólogo e ecologista francês Gérald Le Grand não pode ser esquecido.

Gérald Le Grand, ao contrário de muitos outros, não se limitou aos seus estudos teóricos na Universidade dos Açores e aos seus trabalhos de campo para melhor conhecer o património natural do nosso arquipélago. Com efeito, sempre que lhe era possível fez intervenções junto do grande público, através da comunicação social, e participou ativamente no movimento associativo de defesa do ambiente, sobretudo através da Delegação dos Açores do Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem.

Hoje, em São Miguel, poucas pessoas, sobretudo entre as mais novas, não saberão o que é o priolo, ave endémica dos Açores conhecida desde os tempos mais remotos do povoamento da ilha de São Miguel e que durante algum tempo foi perseguido e abatido, o que terá ajudado a levá-lo à beira da extinção. Mas, quase ninguém sabe que a Gérald Le Grand, se deve o despertar do interesse pela sua proteção.

No que diz respeito ao associativismo, ele e o Eng. Duarte Furtado, foram os principais dinamizadores da Delegação dos Açores do Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem, associação que teve sede em Vila Franca do Campo e que entre outras iniciativas publicou o boletim “Priôlo”.

No referido boletim, Gérald Le Grand foi autor de textos sobre a avifauna em geral e sobre o priolo, em particular e contra o uso “pacífico” da energia nuclear que produz resíduos que eram lançados “em pleno oceano longe de zonas habitadas…cujo condicionamento está muito longe de tomar em conta a nossa ignorância”.

Ainda no que diz respeito ao associativismo, Gérald Le Grand prestou grande apoio aos Amigos dos Açores, através da autorização que concedeu para a utilização dos seus textos e sobretudo dos seus desenhos, sendo ele o autor do seu logotipo.
Sobre a sua participação na imprensa, a título de exemplo, menciono a sua colaboração, em 1981, no jornal Açores, onde questionou as autoridades, nos seguintes termos: ”Pedimos uma vez mais aos Açorianos e ao Governo Regional para abrir o debate sobre a caça à baleia, para discutir sobre a reconversão de fábricas baleeiras e dos seus empregados, para discutir a promoção turística, caça fotográfica, regatas de baleeiras, festas de baleia… para discutir a criação de santuário para os mamíferos, as aves e tartarugas marinhas na ZEE dos Açores”.
Em 1980, em depoimento ao jornal a Ilha, o Prof. Doutor Vasco Garcia deu a conhecer a (re) descoberta do priolo, na vertente sul do Pico da Vara e informou que iriam “ser acionados todos os mecanismos a fim de aquela zona ser considerada protegida para a recuperação da ave rara”.
Terá sido na sequência daquela descoberta que foi elaborada uma proposta de classificação da área intitulada “Pico da Vara- uma zona de valor internacional a preservar”, da autoria de Géral Le Grand, Erik Sjogren e Duarte Soares Furtado.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30774, 3 de novembro de 2015, p.19)

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