Foi com
profunda tristeza, para não dizer revolta, que tomei conhecimento da informação
intimidatória divulgada nos media pela polícia municipal de Ponta Delgada relativamente
à ilegalidade do ato de se alimentarem os animais abandonados. Triste e incerto
já não fosse o destino destes animais, o de deambularem pelas ruas da cidade, cabisbaixos
e olhar profundo, sem segurança, sem abrigo, sem comida e sem água, até terem o
infortúnio de serem capturados pelos funcionários do canil, ainda por cima são
enfiados em boxes frias e superlotadas, num
misto de histerismo e confusão, e aguardam no canil, que nada mais é do que um
corredor da morte, o seu destino final, o abate. E não se convença o leitor, em
jeito de vã consolação, de que este é o destino tão somente dos velhinhos e
doentinhos. Não! A sentença de morte não descrimina nenhum, apenas poupa por
mais alguns dias os animais ditos com elevado potencial de adotabilidade e, se a
sorte lhes sorrir, poderão ser adotados a tempo de se evitar mais um
sacrifício.
Em causa
estará supostamente a saúde pública, mas garanto-lhes que a minha ficou por um
fio sabendo que estes animais nem com a mão bondosa dos cidadãos podem contar
mais. Importa referir que de sensibilização para a questão do abandono animal
ainda não ouvi ou vi por parte das entidades responsáveis pela recolha e
tratamento destes animais abandonados, entendidos por muitos como lixo urbano e
não como os seres sencientes que são e que também têm direito a partilhar este
mundo. Quando sei que o custo de um abate de um animal equivale à esterilização
do mesmo, muitas vezes causa do abandono de ninhadas indesejadas, não percebo
porque ainda não se desenvolveu uma política de esterilização e de apoio às
pessoas que não podem custear os preços das clínicas privadas. Infelizmente a
verdade é que a dita política de bem estar animal dos municípios deste país
nada mais é do que uma política de extermínio puro e duro de todo e qualquer
animal indesejado. E podem crer que os números de animais abatidos são bastante
assustadores. Aduzir argumentos do género “não existe outra solução” é
demasiadamente fácil e conveniente; no entanto, a verdade é que é necessário
empreender um conjunto de soluções capazes de produzir importantes mudanças a
médio prazo.
Da legalidade
ou não de se alimentarem estes animais abandonados pouco importa; as leis não
passam de textos escritos que legitimam atitudes que nem sempre exprimem a
vontade de todos. Importa sim a moralidade deste pequeno ato de compaixão para
com um animal não humano que compartilha muitos dos nossos sentimentos.Vivo
numa rua onde proliferam atos cruéis contra os animais, e apesar de se
encaminharem os casos para as entidades competentes, desconhece-se até ao
momento qualquer aplicação de coima ou de punição, sendo que estas mesmas
pessoas que cometem estes atos horrendos continuam impunes, livres para
cometerem estes “crimes” vezes sem conta. No entanto, parece que tempo e
recursos existem para se perseguirem as pessoas que alimentam os animais vadios
que lhes passam pela porta ou que não colocam o chip nos seus animais. Será que
só a mim esta lógica das coisas parece estar um tanto ou quanto invertida???
Marlene Dâmaso - PAN (Partido pelos Animais e
pela Natureza)
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