A alimentação de animais na rua não é a solução para acabar com o problema dos animais abandonados (como cães e gatos) nem é uma boa opção para os animais que vivem de forma semi-doméstica nas cidades (como os pombos). Na realidade, muitas vezes o efeito desta alimentação é precisamente contrário àquele pretendido.
Muitas pessoas alimentam animais nas ruas porque são incapazes de assistir ao seu sofrimento. No entanto, desta forma conseguem que, onde havia 10 animais a passar fome, passa a haver 100 animais esfomeados. Onde podiam morrer 5 animais à fome passam a morrer 50. E isto é simplesmente devido a que os animais que estão na rua se reproduzem quando têm comida disponível e, desta forma, o problema multiplica-se. Afinal, o número total de animais existentes nas ruas estará sempre em função da comida disponível, e o seu número aumentará quando houver uma maior quantidade de comida.
Para os animais domésticos a solução seria: a adopção e a esterilização de todos os animais actualmente existentes na rua, um controlo adequado para que não sejam abandonados novos animais (chip obrigatório também para gatos), e a proibição definitiva da sua alimentação nas ruas (impedindo a aparição de novas populações de animais). No caso dos animais semi-domésticos, a solução seria limitar a sua alimentação para conseguir ter uma população muito reduzida e adequada às características do meio urbano em que vivem.
Ter populações de animais nas ruas é mau para os próprios animais:
- Os animais alimentados nas ruas vivem num ambiente totalmente desadequado. Muitos acabam por morrer atropelados ou são vítimas de vandalismo.
- Estes animais muitas vezes são obrigados a viver, no pouco espaço disponível na rua, em condições de alta densidade populacional, tendo por isso uma maior incidência de doenças e parasitas e umas condições de vida lamentáveis.
- Estas altas densidades criam também problemas sanitários para as pessoas e outros animais.
- Muitas pessoas podem não concordar com a manutenção de animais no espaço comum das ruas. E alguns animais, maltratados, doentes ou não socializados, podem ser vistos também por estas pessoas como uma ameaça para as crianças.
- Os animais domésticos existentes nas ruas ou noutros espaços abertos têm também um impacto sobre outros animais. Alguns gatos domésticos, por exemplo, são capazes de matar dezenas de pássaros silvestres por ano, incluindo também crias de aves ameaçadas como os cagarros e outras aves marinhas. E os cães poderão atacar o gado, nomeadamente ovelhas e bezerros.
Confrontados com as actuais políticas municipais de passividade no problema dos animais abandonados, de falta de prevenção e fiscalização do seu abandono, de recolha e abate generalizado de cães e gatos nos canis, alimentar os animais abandonados na rua pode ser visto como um acto bem-intencionado para evitar sofrimento aos animais, mas na realidade é adiar, prolongar e muitas vezes aumentar esse sofrimento, sem dar nenhuma solução efectiva.
David M. Santos
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