Publicado na Quinta-Feira, dia 09 de Agosto de 2012, por Paulo Sousa Mendes
Há muitos, muitos anos, o meu bisavô atravessava a zona do cabrito, em direção às Cinco Ribeiras, quando ouviu alguém que lhe gritou: – Olha, esse toiro! Mas, o meu bisavô, ao julgar que estaria a ser alvo de alguma brincadeira, não teve a atenção de se virar para ver o que lhe esperava, foi então 'atropelado' por um toiro.
Serve esta pequena 'estória' como introdução a um tabu que aflige a nossa ilha, a segurança nas touradas à corda.
Manda o senso comum, mas não o bom senso, nunca questionar tudo o que faz parte do 'universo' tauromáquico. Desde o próprio conceito que sustenta o tabu, a tradição, tido, erradamente, como algo imutável e inquestionável até às alegadas vantagens económicas para a ilha, mesmo se, porventura, essas vantagens se repercutam, com maior peso, na designada economia paralela da ilha. Se calhar, por isso, nunca se fez qualquer estudo sistemático que confirme ou não, o contributo económico das touradas na ilha Terceira. Até seria interessante conhecer o volume de negócios gerado pela venda de DVDs de aficionados a serem marretados pelos bravos toiros.
Mas retomando a questão da segurança. Ao longo de muitos anos, eu, pelo menos, nunca me questionei acerca do número de feridos e mortes por cada época de touradas. Mas, qual a razão para essa ausência de discernimento? Bem, porque, simplesmente, «no news is good news». De facto, os eventuais feridos e mortes numa tourada nunca foram e não são motivo para notícia, pelo que equivale, no senso comum, à ausência de perigo das touradas à corda. E compreende-se o porquê. A constante tentativa de “colar” o turismo às touradas é uma razão, pois não seria favorável apresentar o carácter perigoso que envolve a tourada à corda.
E se realmente se pudesse traçar um paralelismo entre o turismo e a tourada à corda, a julgar-se pelo número de dormidas, não seria muito favorável às touradas…se é que me entendem.
Claro há sempre, aqueles mais gabarolas que argumentam que só vai à tourada quem quer, mas isso não explica os motivos de um autêntico pacto social, com vista à proteção de uma tradição. Contudo, até mesmo os mais aficionados e interessados na tauromaquia e mais, especificamente, na tourada à corda, deveriam ter o bom senso de quererem conhecer e dar a conhecer ao público, os dados sobre feridos, vidas comprometidas e mortes provocadas pelas touradas à corda, pois não é por se ignorar um problema que este desaparece. Aliás, o conhecimento do problema é o primeiro passo para o solucionar e pelo que constato, tem sido sempre preferível fazer do problema uma piada «encassetada», ou melhor, digitalizada, do que o levar, realmente, a sério.
Nota- Também publicado no Diário Insular no dia 10 de Agosto de 2012
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