26.5.12

Sem a tourada a Terra girava ao contrário


CONSELHO INTERMUNICIPAL PARA A TOURADA À CORDA

Publicado na Sexta-Feira, dia 25 de Maio de 2012, por António Ventura


Os Vereadores do PSD apresentaram uma recomendação na Câmara Municipal de Angra para se constituir um Conselho Intermunicipal para a Tourada à Corda na Ilha Terceira. Uma iniciativa entregue em Setembro do ano passado, mas que ainda não viu a luz dia.

A ideia parte do pressuposto de que interessa contribuir localmente para o desenvolvimento da Tourada à Corda quer numa continuada avaliação e consequente implementação de procedimentos da sua regulamentação, quer na promoção, divulgação e defesa desta atividade.

É, neste sentido, útil articular e debater as questões da tourada à corda na ótica dos vários intervenientes, como sejam as Associações de Ganadeiros, Tertúlia Tauromáquica, Capinhas, Poder Local e Governo Regional.

A tradição da tourada à corda sempre esteve na origem dos usos e costumes, nas expressões linguísticas, na história, nas festas locais, nas lendas e narrativas, no quotidiano social e, de forma substancial, na economia da população da Ilha Terceira. E constitui a maior manifestação popular no Arquipélago, assumindo-se como genuína e rara.

É, acima de tudo, um símbolo das gentes da Terceira representando uma riqueza etnográfica e um importante cartaz turístico dos Açores que atrai milhares de visitantes às nossas freguesias durante grande parte do ano e cujo reconhecimento tem sido várias vezes manifestado fora deste Arquipélago.

No nosso entendimento, ganha assim importância a criação de um fórum de debate que envolva as duas Câmara Municipais e que reúna, pelo menos, em cada época da Tourada à Corda.

Fonte: http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=28131

Nota: Parabéns aos industriais do turismo da Ilha Terceira por não estarem a sofrer a crise que afecta os Açores. Será verdade o que diz o senhor Ventura?

13.5.12

Touradas, garraiadas e outras palhaçadas


Touradas, garraiadas e (pseudo-)tradições: feminismo faz pega de caras ao patriarcado


Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos. Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.
opiniao | 13 Maio, 2012| Por Paula Sequeiros

O garbo, a pose, o traje de luzes! O cheiro a sangue a borbotar do cachaço do touro ferido pela espada, pelas bandarilhas. O homem macho feito espetáculo. Que melhor nome podia ter? O marialva, o matador. O touro bravo, a natureza bruta, dominada, jaz aos pés.
Versão mais soft(?), sem morte do animal. À vista. Morte assegurada, muitas horas mais tarde, fora da arena. Versão espetáculo do sofrimento de animais, de todas as maneiras. Dos touros, mas também dos cavalos treinados para enfrentar outro animal, tornado inimigo pela tourada.
O dicionário define garraio: 1. Touro novo (que ainda não foi corrido). 2. [Figurado] Homem inexperiente.i
Touro não é animal em estado natural. É produto de apuramento genético para fabricar animal de aspeto fero, inimigo-ator, animal-espetáculo, animal-para-morrer. Produto, portanto, mais que animal. Garraio: produto incipiente na linha de produção, pretérito do produto final.
Homem domina animal, civilização domina natureza – duplamente. Recria-a por capricho, cria-a para morrer à mão. Tradição ancestral. Imagem dum passado em caixilho dourado, pechisbeque. História-mito, almofada onde adormece a consciência do animal humano para esquecer que o é, para ascender a diferente, superior animal com direito à vida e à morte de todos os outros. Mito caprichado da supremacia. Retirado da natureza, estádio vil em que animal mata animal para comer.
Dentro da civilização duma natureza-objeto, no abuso por gozo puro, requinte cultural do homem-macho. Natureza criada pelo patriarcado e pelo industrialismo à sua própria imagem. No mundo há muitas outras naturezas. A tradição estava criada. A tradição está servida.
«Civilização, obviamente, refere-se a um padrão complexo de dominação de pessoas e de toda a gente (todas as coisas) mais, atribuído frequentemente à tecnologia – fantasiada como «a Máquina». Natureza é um símbolo tão potente de inocência em parte porque 'ela' é imaginada como privada de tecnologia, para ser o objeto da visão e assim uma fonte tanto de saúde como de pureza. Homem não está na natureza em parte porque não é visto, não é espetáculo».ii
Praxe académica, garraiada, queima-das-fitas.
«A praxe, enquanto ritual iniciático, transmite todo o tipo de valores reacionários. Valores como a submissão, o sexismo, a homofobia e o corporativismo são exaltados, numa 'escola de vida' na qual se ensina a supressão do pensamento crítico, a obediência cega à ordem estabelecida e a necessidade de impor hierarquias de tipo militarista na sociedade». iii
Garraiada vai bem com praxe. Praxe também é tradição, ou não? Faz-se correr animal jovem (também podia ter sido aluno, como antigamente, outro garraio), enquanto outros maltratam, batem, puxam o rabo. Não o fariam se fosse outro animal, talvez. Garraio existe para ser garraiado. Caloiro existe para ser praxado.
Morreu? Foi sem querer. Bicho é coisa, bicho é não-homem, bicho é apenas natureza. Feito para isso. Homem-macho opõe-se a bicho, não tem 'coisas' por animais, não é abichanado. Civilização é homem-macho.
Praxe rima com abuso. Praxe rima com macho.
Abusos sobre raparigas? Não é praxe, é exagero. Acontece é muito.
«A contestação da Praxe em Portugal não é coisa recente. Em textos que datam da primeira metade do século XVIII, já alguns estudantes atacam, por vezes em forma versificada, as assuadas rituais ou verbais: canelões e investidas».iv
A tradição reinventa-se, justifica-se todos os dias. Ou transforma-se.
Que tem feminismo a ver com touradas e garraiadas? Tem tudo.
O pensamento feminista associa natureza e humanidade, não as opõe. Forjado na luta contra a opressão de género, opõe-se a todo o género de opressões. Contesta a história patriarcal, as tradições de negar direitos, de naturalizar maus-tratos. Celebra a reinvenção do quotidiano, sonha outras tradições.
Contra as touradas, contra garraiadas, contra abusos.
Estas tradições e outras pseudo-tradições peguêmo-las de caras.



i Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
ii Haraway, Donna. 1994. “Teddy bear patriarchy: taxidermy in the garden of Eden, New York city, 1908-1936.” P. 49-95 in Culture power history: a reader in contemporary social theory, edited by Nicholas B. Dirks, Geoff Eley, and Sherry B. Ortner. Princeton, N.J.: Princeton University Press.: Princeton University.
iii Coelho, Ricardo. 2012. A praxe como escola de vida. Esquerda.net. 22 abril.
iv Frias, Aníbal. 2003. “Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógicas das tradições e dinâmicas identitárias.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 2003 (66, Outubro):81-116.
Sobre o autor

Paula Sequeiros
Investigadora em sociologia da cultura
http://www.esquerda.net/opiniao/touradas-garraiadas-e-pseudo-tradi%C3%A7%C3%B5es-feminismo-faz-pega-de-caras-ao-patriarcado/23123

11.5.12

Passos Coelho recebe defensores da abolição das touradas



Foto: www.portugal.gov.pt

Na passada terça-feira o movimento abolicionista das corridas de touros em Portugal viveu um dia histórico ao ser recebido pelo senhor Primeiro-Ministro na sua residência oficial.

O movimento pela abolição das corridas de touros foi claramente o mais popular numa votação promovida pelo Governo português no início deste ano, e foi por isso recebido pelo Chefe do Governo, Passos Coelho, e pelo Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.

Pela primeira vez, a vontade clara da maioria da sociedade portuguesa em abolir definitivamente estes espetáculos foi ouvida pelo poder político português ao mais alto nível, e no final ficou a certeza de que este movimento não se ficará por aqui já que os abolicionistas conseguiram a abertura do Governo para serem ouvidos na revisão do Regulamento do Espetáculo Tauromáquico que atualmente serve apenas os interesses da indústria tauromáquica, sem proteger as crianças, nem tendo em conta as regras de Bem-estar Animal da União Europeia que Portugal ratificou.

Os três representantes do movimento abolicionistas fizeram questão de informar o Primeiro-ministro de Portugal sobre o outro lado das corridas de touros, nomeadamente desmistificando a falsa ideia de que as touradas em Portugal são menos cruéis do que em Espanha. Os abolicionistas explicaram ao Chefe do Governo que as touradas realizadas em Portugal são dos eventos mais cruéis do mundo, uma vez que os animais, depois de lidados na arena e depois de lhes serem arrancadas as bandarilhas com uma navalha, têm que aguardar vivos, feridos e em intenso sofrimento durante vários dias até serem finalmente abatidos no matadouro. Uma situação deplorável e inaceitável nos dias de hoje que muitos cidadãos desconhecem. Foram ainda realçados muitos outros aspetos de exceção totalmente inaceitáveis de que esta atividade injustificadamente beneficia.

Esta audiência com o Primeiro-ministro marca o início de uma nova era em Portugal rumo à abolição destes espetáculos que já no século XIX eram considerados "impróprios de uma nação civilizada" e que chegaram a estar proibidos durante o reinado de D. Maria Pia.

A sociedade portuguesa, tal como as sociedades dos restantes países onde ainda se realizam corridas de touros, está a evoluir e quer que as touradas sejam abolidas. É tempo de dizer Basta, respeitando o público taurino, mas ouvindo finalmente aquela que é a vontade da maioria.

O movimento iniciado com esta iniciativa do Governo terá continuidade no futuro dando expressão à vontade da maioria da sociedade, até que abolição das touradas seja uma realidade em Portugal.