20.10.12

Manuel António Pina e as touradas

Faleceu ontem Manuel António Pina. Deixamos aqui um texto da sua autoria.




Viva a morte!
"Viva la muerte"

(Por Manuel António Pina. In JORNAL DE NOTÍCIAS, 23 de Fevereiro de 2010)

Só nos faltava esta: uma ministra da Cultura para quem divertir-se com o sofrimento e morte de animais é... cultura. Anote-se o seu nome, porque ele ficará nos anais das costas largas que a "cultura" tinha no século XXI em Portugal: Gabriela Canavilhas. É esse o nome que assina o ominoso despacho publicado ontem no DR criando uma "Secção de Tauromaquia" no Conselho Nacional de Cultura. Ninguém se espante se, a seguir, vier uma "Secção de Lutas de Cães" ou mesmo, quem sabe?, uma de "Mutilação Genital Feminina", outras respeitáveis tradições culturais que, como a tauromaquia, há que "dignificar".

O património arquitectónico cai aos bocados? A ministra foi ali ao lado "dignificar" as touradas. O património arqueológico degrada-se? Chove nos museus, não há pessoal, visitantes ainda menos? O teatro, o cinema, a dança, morrem à míngua? Os jovens não lêem? As artes estiolam? A ministra foi aos touros e grita "olés" e pede orelhas e sangue no Campo Pequeno. Diz-se que Canavilhas toca piano. Provavelmente também fala Francês. E houve quem tenha julgado que isso basta para se ser ministro da Cultura...

10.10.12

Um documentário bestial

O realizador Nuno Costa, o etólogo Manuel dos Santos, o psicólogo Vítor Rodrigues, a especialista em Património Margarida Ruas e o investigador de História e Cultura Pedro Teixeira da Mota em diálogo, após a ante-estreia do documentário, sobre o touro, as touradas, aficionados e não aficionados, violência e amor, e quais as melhores e mais evolutivas soluções.

1ª parte
http://www.youtube.com/watch?v=0BJbNWzahr0&feature=share&list=UL0BJbNWzahr0

2ª parte
http://www.youtube.com/watch?v=xwHO4fCWiEo&feature=share&list=ULxwHO4fCWiEo

3ª parte
http://www.youtube.com/watch?v=eyAPtndlvGI&feature=share&list=ULeyAPtndlvGI

4ª parte
http://www.youtube.com/watch?v=mmHOX4obHN8&feature=share&list=ULmmHOX4obHN8



Breve reflexão sobre a tauromaquia, a propósito de “Um Documentário Bestial” de Nuno Costa,



A tauromaquia, o combate do homem contra o touro, tem a sua origem na ritualização de intemporais mitos dualistas acerca do combate originário entre a luz e as trevas, o bem e o mal, o puro e o impuro, para que o cosmos vença o caos e a ordem predomine sobre a desordem. Estes mitos dualistas acerca do combate entre a luz e as trevas, o homem e o animal, expressam na verdade o sentimento humano, presente em todos nós, de uma divisão e um combate interno, entre a luz da consciência, da razão e da ética e as trevas da irracionalidade, dos instintos mais básicos e das emoções destrutivas.

Num ciclo de civilização antropocêntrica como o nosso, o homem foi identificado com a polaridade positiva e o animal com a negativa, sendo muitas vezes convertido num bode expiatório da violência, do mal-estar psicológico-existencial e dos conflitos e tensões resultantes da repressão dos mais irracionais impulsos e instintos humanos em prol da vida em sociedade. Projectar a necessidade de luta e triunfo da luz sobre as trevas interiores, do melhor sobre o pior de nós, num combate exterior com um animal, como se humilhá-lo, torturá-lo e vencê-lo, pela dor e pela morte na arena ou no matadouro, tornasse alguém melhor, é uma manifestação grosseira de ignorância e do esquecimento da dimensão simbólica e psicológica daqueles mitos arcaicos.

A esta luz, e num tempo onde o homem já não necessita sequer de se treinar para a guerra lutando contra animais, a tauromaquia revela-se um espectáculo de pura agressão bárbara e gratuita contra um ser senciente e pacífico, forçado a sofrer terrivelmente num confronto que não deseja. Na tauromaquia há uma dissimulação do mal da violência e do sofrimento, anestesiando-se a natural tendência do homem, presente já nos mamíferos e em inúmeros outros animais não-humanos, para a empatia e para se colocar no lugar do outro: em primeiro lugar, pela convicção ignorante, entranhada desde há milénios no subconsciente humano, de que o homem é o “bom” e o animal o “mau”; em segundo lugar, pela estética do espectáculo, com as luzes, as cores (incluindo o vermelho vivo do sangue), a música, as vestes e os movimentos rituais que prendem a atenção, excitam os sentidos e adormecem a consciência crítica; em terceiro lugar, pelo êxtase emocional de uma multidão a vibrar em uníssono, onde as pessoas esquecem o mal-estar psicológico-existencial, os problemas da vida e as razões da consciência nesses momentos fugazes de gratificante diluição numa festa social que proporciona a alegria da reunião de parentes e amigos, bem como da comunhão da comida e da bebida.

Para além daqueles que fazem da tauromaquia o seu modo de vida e estão directamente ligados aos interesses económicos da indústria tauromáquica, a maioria dos aficionados vê apenas nas corridas de touros a estética do espectáculo e o convívio social, que lhes confere um sentimento de identidade e de participação comunitária numa era de globalização e de fragmentação das relações humanas. É por isso que ganadeiros, cavaleiros, toureiros, forcados e aficionados não vêem nas corridas de touros senão isso e quase nunca o evidente sofrimento do animal, seja o cavalo ou o touro. Há um obscurecimento da percepção, que só vê o que está tradicionalmente programada, pelo meio familiar e pela pressão social, para ver, sendo cega para a presença do animal como um ser vivo e senciente, com interesses próprios que não permitem reduzi-lo a mero objecto e instrumento do prazer humano.

Mas o sofrimento dos animais, capazes como nós de sentir a dor e o prazer psicofisiológicos, é o que acima de tudo vêem os que lutam pela abolição da tauromaquia, pois esse sofrimento e a brutal transgressão da regra de ouro de toda a ética – o não fazer ao outro o que não desejamos que nos façam a nós – surgem em toda a sua injustificada e brutal nudez quando despidos dos véus da mítica superioridade humana, da tradição cultural, da beleza estética e da festa social. A tortura, a violação e o assassínio serão sempre tortura, violação e assassínio, e como tal inaceitáveis, por mais que nalgum lugar do mundo se convertam numa tradição cultural apreciada por alguns e numa festa social encenada com requintes estéticos de luz, cor, som e movimento.

A consideração dos interesses dos animais como um critério ético objectivo e inultrapassável é o que impede de reduzir a questão da legitimidade da tauromaquia a uma questão de liberdade de opção e de gosto humano, em que seria igualmente aceitável gostar ou não, como em geral argumentam os aficionados. Esta é decerto uma perspectiva nova e desafiante, para quem foi educado e pressionado familiar e socialmente para ver os animais como existindo naturalmente para satisfazer todos os desejos humanos, mas com o devido tempo e abertura todo o aficionado pode chegar no mínimo a compreendê-la, tornando possível um diálogo hoje difícil. Acredito inclusivamente, com esta compreensão, e por virtude da inteligência e sensibilidade presentes em todos os homens, não ser impossível que, como já tem acontecido, alguns aficionados de hoje se convertam nos abolicionistas de amanhã.

Todavia, a abolição da tauromaquia, que lenta mas firmemente se desenha no horizonte da civilização, apenas exige o fim da presença dos animais, touros e cavalos, no espectáculo, e não o do próprio espectáculo. Tal como os touros bravos e os montados podem sobreviver ao fim da tauromaquia, convertendo-se em santuários da vida selvagem, reservas ecológicas e pólos de atracção turística, criando novos empregos, também o actual espectáculo, sem animais, se pode converter numa encenação não-violenta, mantendo toda a sua estética tradicional, enquanto expressão de uma dada identidade cultural, a exemplo do que aconteceu com muitas práticas semelhantes em todo o mundo, que hoje são apreciadas como artes lúdicas livres de dor, sangue e morte, como as antigas artes marciais do sabre japonês, o kendo, e da capoeira afro-brasileira. Livre de animais, o actual espectáculo continuará a ser uma festa e um foco de convívio e coesão social, mas deixará de ser a festa da violência e da dor que actualmente lesa os animais e indigna e envergonha a nossa consciência, ferindo o mais fundo da nossa sensibilidade humana à dor do outro, à aflição do próximo, humano ou não-humano.

Na impossibilidade de estar pessoalmente presente na ante-estreia deste filme onde tive a honra de participar, quero expressar os mais sinceros parabéns ao Nuno Costa e a toda a equipa que produziu este Documentário Bestial, que é também "bestial" pelo inestimável serviço público de, num país onde o Estado se demite desta tarefa, contribuir para uma reflexão aprofundada e alargada sobre questões onde se joga o sentido mais fundo da nossa humanidade e da nossa evolução social e cultural. Quero também aproveitar esta oportunidade para apelar a que todos continuemos a assinar e divulgar - com a intenção de proteger animais e homens, bem como de fazer avançar a civilização - a petição pela abolição das touradas e de todos os espectáculos com touros, da qual sou o primeiro subscritor e que já excedeu as 50 000 assinaturas: http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=010BASTA

Bem hajam!
Paulo Borges, Presidente da Direcção Nacional do PAN

9.10.12

Homem morre em Tourada à corda




Confirma-se a morte de um homem numa tourada à corda realizada no Pico no passado fim de semana.

A ida para o Hospital da Horta foi infrutífera.

Mais uma morte estúpida, numa prática que não tem razão de existir no século XXI.

8.10.12

Um morto e dois feridos em tourada no Pico, em 2006



Um morto e dois feridos em tourada no Pico

Um homem com cerca de 70 anos não resistiu aos ferimentos provocados por um touro

Actualizado em 2 de Julho 2006, às 19:14

Um homem morreu e dois ficaram feridos sábado à tarde, no Pico, durante uma tourada à corda, disse hoje à Agência Lusa o director da Unidade de Saúde daquela ilha.

Segundo Ivo Soares, o homem aparentando cerca de 70 anos deu entrada ao final da tarde de sábado no Centro de Saúde das Lajes com 'ferimentos múltiplos graves', vindo a falecer depois.

O responsável disse ainda que o idoso terá sido colhido pelo touro e projectado para a orla marítima.

Adiantou que um jovem também recebeu tratamento hospitalar, por 'apresentar ferimentos ligeiros, mas já teve alta'.

'Um outro ferido, com cerca de 67 anos, encontra-se internado, em vigil ância, uma vez que apresenta uma fractura da bacia', disse o director da Unidade de Saúde da ilha do Pico.

Fonte: http://www.dnoticias.pt/actualidade/madeira/157045-um-morto-e-dois-feridos-em-tourada-no-pico

7.10.12

A Tourada à corda pode ser Património Imaterial da Unesco?



(Veja o vídeo e tire as suas conclusões)


O Jurista Arnaldo Ourique responde ao Diário Insular

Escreveu recentemente um texto sobre a necessidade de se instituir a Tourada à Corda como Património da Humanidade. Como é que a ideia nasceu?

Para a feitura do meu recente livro Taurinidade Açoriana tive de fazer vários inquéritos a variadíssimas pessoas e juntei ao meu conhecimento anterior, sobretudo jurídico, um vasto leque de saberes desta área. Foi daqui que nasceu a ideia. Já tinha percebido pela análise da legislação que faço no dia-a-dia como investigador da Constituição Autonómica, que as artes taurinas estão em perigo porque o legislador regional é fraco e precário a fazer leis. Mas juntando a esse saber o conhecimento específico de todos quantos fazem uma parte técnica da taurinidade açoriana apercebi-me que era necessário chamar a atenção para esta problemática. Quando eu digo que a lei, por exemplo, altera o conceito de toiro de praça, isto nada diz às pessoas; parece assunto sem importância, mas não se apercebe da dimensão: foram proibidos de correr nas praças açorianas os toiros da Ilha Terceira. Daí, pois, a necessidade de sublinhar a necessidade para uma declaração da Unesco de modo a salvaguardar a nossa cultura. Agora sim, todos reparam nisto.
Qua reações teve quanto a esta ideia?

As melhores. Primeiro, tal texto está sendo traduzido para o inglês e o russo para oferecer ao turismo. Segundo, algumas pessoas dizem-me que é uma excelente ideia porque a taurinidade açoriana é um caso sério da cultura açoriana. E adentro dum círculo de pessoas desta área existe uma forte esperança de que pelo menos alguém olha para este tipo de assunto.
Quais os principais entraves para que a Tourada à Corda da Ilha Terceira seja declarada, ou pelo menos estudada no sentido de ser declarada Património da Humanidade?

Como é evidente não é, em rigor, a Unesco que faz esse trabalho. São os órgãos representativos do povo e esse povo que se organiza e prepara esse tipo de projeto. O maior entrave, pois, são as pessoas. Para já existe o choque da ideia. Mas estamos esperançados que depois disso virá finalmente o interesse genuíno; considero estranho que esta ideia nunca tivesse sido projetada.
Diário Insular, 02/10/2012

6.10.12

Tourada: património imaterial da Unesco?




A indústria tauromáquica, baseia-se na Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO para candidatar a tauromaquia a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Corresponde tal desejo ou sonho a uma possiblidade?

Vejamos o que diz a dita Convenção:

“Art.2º

1. Entende-se por “património cultural imaterial” as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural. Esse património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio, da sua interacção com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana. Para os efeitos da presente Convenção, tomar-se-á em consideração apenas o património cultural imaterial que seja compatível com os instrumentos internacionais existentes em matéria de direitos do homem, bem como com as exigências de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos e de desenvolvimento sustentável”.

Analisando o artigo em questão, imediatamente dois problemas se levantam:

1º A tauromaquia não é compatível com os instrumentos internacionais de direitos humanos existentes. A tauromaquia de per si, não é um direito humano.

2º A tauromaquia não se integra no imperativo de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, bem pelo contrário, a tauromaquia divide comunidades, grupos e indivíduos.

No ponto dois do artigo segundo da Convenção, é referido que se entende por património cultural imaterial as artes do espectáculo, os usos sociais, rituais e os actos festivos.

Se bem que as touradas sejam consideradas espectáculos, nos países onde ainda são permitidas e considerando que esses países as catalogam com culturais, existe uma grande diferença entre o que é considerado pelas convenções internacionais entre o direito à cultura e a suposta cultura tauromáquica. Em direito, há que analisar o espírito do legislador, e obviamente que nesse espírito nunca esteve em causa considerar a tauromaquia como cultura. O que o legislador refere nessas convenções internacionais no que à cultura respeita como direito humano, é essencialmente o direito à educação. Essa é a definição de cultura como direito humano.

Assim sendo, a tauromaquia não está incluída nos tratados internacionais como um direito à cultura. Por outro lado, a tauromaquia é uma das actividades, senão mesmo a única, que consegue dividir e de que maneira comunidades inteiras, grupos e indivíduos.

Somente a título de exemplo, sempre que um jornal publica uma noticía sobre tauromaquia, não só os comentários são às centenas, como a maioria é contra essa prática.

Certas terrinhas deste país e dos outros, podem ter declararado a tauromaquia como património cultural imaterial, mas conseguir que a mesma seja declarada como tal pela Convenção da UNESCO, é uma questão totalmente diferente.

Se a UNESCO o fizesse violaria os termos da Convenção que criou.

Portanto, senhores autarcas as vossas declarações valem o que valem ou seja ZERO. Mas num país onde à viva força nos querem impingir touradas, quem tem olho acha que é rei e estes autarcas pensam que são os suprasumos da genialidade e para isso contam com a conivência dos partidos que os elegeram.

Mas ainda mais grave do que declarar a tauromaquia como património cultural imaterial destes lugarejos, é o facto que isso implica a sua promoção e consequentemente isso implica gastar o dinheiro dos contribuintes nessa aberração. Para um país que já não está de tanga mas sim nu, isto não é uma obscenidade, é um crime.

Prótouro
Pelos touros em liberdade

Fonte: http://protouro.wordpress.com/2012/10/06/tauromaquia-aceite-pela-unesco-sonhar-ainda-nao-paga-imposto/

3.10.12

Pelos animais


No Dia do Animal por uma nova política para os animais de companhia

Há um século foram fundadas as primeiras associações de proteção dos animais dos Açores que tinham como preocupação principal combater o abandono e os maus tratos de que eram alvo os animais de companhia e lutar por melhores condições de existência para os animais de tiro, nomeadamente cavalos, bois e burros, que eram vítimas de maus tratos, trabalhavam mesmo doentes e em muitos casos eram mal alimentados.

Desde então até hoje, muitos açorianos se têm dedicado à causa da proteção dos animais, sendo incompreensível como 34 anos depois de aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, na nossa região, como um pouco por todo o mundo, o flagelo do abandono e dos maus tratos aos animais de companhia não tenha sido erradicado.

Hoje, 4 de Outubro de 2012, um conjunto de associações e coletivos dos Açores, consciente da crescente preocupação da sociedade face à proteção dos direitos dos animais, vem manifestar a sua concordância e apoio à petição “Por uma nova política para os animais de companhia” (*), que já conta com mais de 1000 (mil) subscritores.

Assim, considerando também que a presença de animais de companhia no seio das famílias, desde que estas tenham condições para os ter, contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e pode constituir um precioso instrumento de educação das crianças, vimos apelar para que seja:

- Criada, pela Assembleia Legislativa Regional, legislação que promova uma política responsável para os animais de companhia, de forma a evitar o contínuo abate de animais abandonados nos canis municipais e baseada, por um lado, na esterilização dos animais errantes, como método mais eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, na adoção responsável dos animais abandonados;

- Criados acordos com as associações de proteção dos animais dos Açores devidamente legalizadas para a implementação a nível local das políticas de defesa dos animais;

- Respeitada a memória de Alice Moderno, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos, incluindo a esterilização, a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função e propósitos do Hospital Alice Moderno deveria ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.

(*) http://www.peticaopublica.com/?pi=P2012N28493

Açores, 4 de Outubro de 2012

(Nome das Associações por ordem alfabética)
Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Associação Açoreana de Proteção dos Animais
Associação Cantinho dos Animais dos Açores
Associação dos Amigos dos Animais da Ilha Graciosa
Associação Faialense dos Amigos dos Animais
CADEP-CN - Clube dos Amigos e Defensores do Património-Cultural e Natural de Santa Maria
CAES – Coletivo Açoriano de Ecologia Social
MCATA – Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores

2.10.12

Alice Moderno e Maria Evelina Sousa e a Proteção dos Animais


Rua Pedro Homem, 15, r/c - local onde funcionou a primeira sede da SMPA

O dia de amanhã, 4 de Outubro, desde 1930, é dedicado, por vários países do mundo, aos animais. Neste dia, são homenageados os nossos amigos animais que, infelizmente, continuam, ainda hoje, a ser desrespeitados por muitos humanos.

Neste texto, uma vez mais, vamos recordar duas pessoas que dedicaram a sua vida à proteção dos animais, Alice Moderno e Maria Evangelina de Sousa.

Alice Moderno, francesa por nascimento, nasceu a 11 de Agosto de 1868 e açoriana pelo coração, faleceu, em Ponta Delgada, a 20 de Fevereiro de 1946. A primeira estudante a frequentar o Liceu de Ponta Delgada perdurará para sempre na memória de todos os que, nos Açores, têm compaixão para com os animais, a quem ela, tal como São Francisco de Assis, designava por “nossos irmãos inferiores”.

Toda a vida de Alice Moderno foi dedicada à procura de melhores de condições de vida para os animais, nomeadamente os de tiro, como cavalos, bois, mulas e burros que transportavam pesadas cargas, por vezes insuportáveis para as suas forças, em muitos casos doentes e famintos, sendo alvo de pancadaria sempre que as suas forças faltavam ou tinham o azar de escorregar em caminhos mais íngremes. Os animais de companhia, nomeadamente os cães que abandonados e depois de recolhidos pelas carroças municipais eram envenenados pelos serviços camarários ou que não sendo apanhados pelas sinistras carroças vagueavam pelas ruas, incluindo as de Ponta Delgada, eram envenenados com doses de estricnina, também, não foram por ela esquecidos.

O labor de Alice Moderno em defesa dos animais não se limitou à escrita, quer nos jornais que criou, como “A Folha”, quer noutros jornais dos Açores onde colaborou, como o Correio dos Açores, onde durante muito tempo manteve a seção “Notas Zoófilas”. Com efeito, para além de ter sido uma das fundadoras da SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1911, foi sua presidente entre 1914 e 1946, data do seu falecimento.

Mas, a sua preocupação e amor pelos animais era tanta que vinte dias antes de morrer mandou redigir o seu testamento, onde deixou à Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada alguns dos seus bens com vista à criação de um hospital veterinário o qual, segundo o Diário dos Açores de 11 de Agosto de 1967, “à parte a dedicação dos técnicos “, não correspondia à importância do património legado. O mesmo jornal sugeria, na altura, que o mesmo fosse valorizado com vista “a honrar, com inteira justiça, a memória da sua instituidora”.

Na criação da SMPA outra mulher teve um papel de destaque. Com efeito, foi a professora do primeiro ciclo, Maria Evelina de Sousa, diretora da “Revista Pedagógica” quem, com base noutros estatutos, redigiu os da SMPA os quais foram aprovados com pequeníssimas alterações. Evelina de Sousa que também divulgou a causa animal na “Revista Pedagógica” foi colaboradora de Alice Moderno, ao longo da sua vida, tendo sido, também, membro da direção daquela associação.

Hoje, passadas mais de seis décadas do falecimento tanto de Alice Moderno como de Maria Evelina de Sousa, já não se vêm as barbaridades de então, sobretudo porque o progresso fez com que os animais de tiro fossem substituídos por veículos a motor, mas o abandono de animais de companhia não para de crescer como não para de crescer o número dos que são abatidos nos canis. De igual modo é quase diária a chegada de notícias de maus tratos aos animais de companhia um pouco por todo o lado e os animais de tiro que ainda existem nas freguesias rurais continuam a ser tratados como pedras de calçada.

Face ao exposto, para honrarmos a memória das duas pioneiras referidas e de todas as outras pessoas que ao longo dos anos têm dedicado as suas vidas a tentar mudar mentalidades, é fundamental exigir novas políticas públicas para o tratamento dos animais que acabem de uma vez por todas com a que é seguida até hoje e que é a do abate para combater o abandono e a sobrelotação dos canis.

Hoje, numa região que se diz civilizada, é necessário, a par da exigência de uma vida digna para todos os seres humanos, a reivindicação de melhores condições para os animais que connosco partilham a vida na Terra.

É este apelo que fazemos a todas as pessoas de boa vontade e a todas as associações de proteção dos animais que existem nas várias ilhas dos Açores.

Teófilo Braga