11.3.15

Contra as touradas

Sobre a oposição às touradas na ilha de São Miguel, no século XIX

É antiga, não há qualquer dúvida, a prática de maltratar animais, tal como àquela sempre esteve associada a oposição aos maus tratos. O caso dos maus tratos na tauromaquia não foge à regra, havendo ao longo dos tempos várias vozes que se opuseram à mesma em todos os países do mundo onde aquela existe ou já existiu.
No século XIX, a oposição à tauromaquia, na ilha de São Miguel, também foi feita através das páginas dos jornais “O Repórter” e “O Sul”.
“O Repórter”, dirigido por Alfredo da Câmara, um dos fundadores da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, no dia 11 de Abril de 1897, num texto intitulado “Guerra de Morte às touradas” para além de criticar a tauromaquia, faz ironia com as reportagens tauromáquicas e satiriza os jornais que a promovem.
Sobre os jornais podemos ler o seguinte:

“Assim, vai dedicando à santa missão da educação do povo, extensos artigos em que relata até às últimas minudências as peripécias selváticas acontecidas nas touradas, soltando ao mesmo tempo profundos e dolorosos gemidos porque os touros perderam a ferocidade que apresentavam noutro tempo.
Estas lamentações fazem-nos crer que o touro é menos refratário à civilização do que o próprio homem, pois que vai diminuindo de ferocidade, enquanto o homem aumenta.”

Sobre os repórteres, o extrato seguinte diz-nos tudo sobre o pensamento do autor do texto:
“…Segue-se àquela interessantíssima narração uma outra em telegrama de Valência referindo que “os touros de Saltillo saíram muito bons”.
Se cá os houvesse assim, pagava-se com certeza o deficit.
Morreram 14 cavalos”, diz ainda o telegrama.

Não pode haver espetáculo mais comovente e que melhor satisfaça um coração bem formado do que ver morrer 14 cavalos, em agonia prolongadíssima com o corpo transformado num crivo, deixando passar pelos buracos os intestinos, arrastando-os pela arena e pisando-os muitas vezes com as próprias patas!

O selvagem do correspondente do “Século” devia exultar de satisfação todas as vezes que via desaparecer as armas do touro no corpo de um misero cavalo, que recebia assim o pagamento dos serviços que prestou ao homem durante toda a vida trabalhando para ele!

Termina o selvagem a sua notícia dizendo que “foi uma corrida magnífica”!...

Por seu lado, o jornal semanal “O Sul”, que se publicou em Vila Franca do Campo, em Julho de 1898, ridicularizou os espanhóis aficionados das touradas, através de um texto magistral que, com as devidas alterações e atualizações se aplica ao que está a acontecer hoje na ilha Terceira, onde perante uma situação que poderá ser dramática para a mesma, em termos de aumento de desemprego, com a saída de militares norte-americanos da Base das Lajes, as “elites” quase só pensam em tornar as touradas ainda mais sangrentas. Para memória futura e porque é mais esclarecedor do que uma síntese, aqui fica um excerto do texto mencionado:
“Viva los Toros
Ao passo que em Cuba e nas Filipinas os soldados espanhóis caem varados pelas balas dos insurgentes, a população de Madrid entrega-se levianamente ao seu espetáculo favorito, como se o estado do país fosse o mais próspero possível.
Há dias houve ali uma bezerrada, em que tomaram parte atores, jornalistas, etc.
Entretanto a pátria gemia..,.
Pois não gema!
A nacionalidade vai-se perdendo…
Pois não se perca!
E as derrotas têm sido formidáveis…
Que se amanhem!
….”
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 30577, 11 de março de 2015, p.18)

9.3.15

Entre em ação



RTP tem um NOVO conselho de administração, que tem orientações superiores para "envolver e escutar os cidadãos". 

Por favor, pelo fim da emissão televisiva de touradas rumo à abolição da tauromaquia, envie para os membros da nova administração a mensagem abaixo sugerida e divulgue esta campanha (evento para divulgação/envio de convites:https://www.facebook.com/events/1417188491916007/

Endereços dos destinatários da mensagem:


Mensagem sugerida:

Aos membros do novo Conselho de Administração da RTP: 

Exmos. Srs./Sra.,
Dr. Gonçalo Reis, 
Dr. Nuno Artur Silva,
Eng.ª Cristina Vaz Tomé, 

Foi com agrado que tomei conhecimento que entre as linhas estratégicas definidas pelo recém criado Conselho Geral Independente consta “envolver e escutar os cidadãos” naquela que se quer “uma empresa aberta à sociedade e ao país” (http://www.rtp.pt/wportal/grupo/cgi/LOE_pdf.php). 

Estando esse recém eleito Conselho de Administração já em funções e a preparar um “programa de transformação da RTP” (http://www.rtp.pt/wportal/grupo/cgi/PE_pdf.php), considero oportuno expor a minha perspectiva sobre aquela que tem sido, mas não deve continuar a ser, a postura da RTP em relação à tauromaquia.

A RTP tem vindo a envolver-se na promoção, organização e exibição de touradas, desrespeitando não só os animais como as pessoas que por eles sentem compaixão. Tem insistido em fazê-lo, desvalorizando o seu mais volumoso processo de queixas (http://youtu.be/xQbaNCYkxU4) e dando uma abusiva utilização às suas receitas, maioritariamente provenientes da contribuição para o audiovisual, não prestando sequer contas sobre gastos com tauromaquia (http://youtu.be/39o-ZZp20cU). Não é, pois, de estranhar que não mereça a confiança de pessoas como eu e tenha uma imagem tão descredibilizada.

É vergonhoso que, em pleno Séc. XXI, a RTP se permita levar a casa dos cidadãos e cidadãs um espectáculo tão violento e degradante como a tourada, em que predominam imagens de animais a serem perfurados por ferros e a jorrarem sangue, para gáudio de uma minoria arreigada a uma tradição que deve ser esquecida. É inaceitável que apoie uma actividade assente na tortura de animais indefesos, algumas vezes também causadora de ferimentos graves e morte de humanos, que nos remete para uma situação de atraso civilizacional. Nada justifica a manutenção, por parte da estação de serviço publico de televisão, desta conduta moralmente reprovável e socialmente deseducativa e obstrutiva do progresso moral. É tempo de a RTP mudar.

Apelo a V. Exas. para que definam, desde já, orientações de gestão conducentes ao corte absoluto de qualquer tipo de envolvimento da RTP com touradas e restantes actividades tauromáquicas, com particular destaque para a promoção e transmissão destas.

Agradecendo muito a atenção dispensada e ficando na expectativa de uma resposta positiva,
Com os melhores cumprimentos,
(Nome)



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