31.5.16
O FRACASSO DA PRETENSA TOURADA DE SOLIDARIEDADE
O FRACASSO DA PRETENSA TOURADA DE SOLIDARIEDADE
Apesar da publicidade na RTP-Açores, na RDP- Açores e no canal Azores TV (1) a tourada cujo lucro estava previsto ser doado à Liga Portuguesa Contra o Cancro foi um fracasso que os seus organizadores não assumiram por completo.
O porta-voz dos adeptos da tortura, o jornal Diário Insular limitou-se a publicar, no dia 31 de maio, um texto intitulado “Objetivo Cumprido”, o que, diga-se em abono da verdade, espelha o pretendido pelos organizadores, isto é, divertir-se com o sofrimento e a morte desnecessária de animais.
De acordo com o texto referido, o balanço do evento foi o seguinte: os espetadores nem encheram metade da praça, segundo o autor, devido ao estado do tempo que “não ajudou a que os indecisos de última hora rumassem à Monumental de Angra”, um forcado, Carlos Vieira, ficou lesionado e “os valores apurados, sendo muito ou pouco, serão sempre reconhecidos”
Face ao exposto, as seguintes hipóteses poderão ser levantadas:
1- Os ditos espetáculos de cravar ferros em animais, fazendo-os sangrar antes de serem mortos depois dos mesmos, já não têm os adeptos que tinham;
2- As pessoas que pretendem colaborar acham que o podem fazer ajudando diretamente as instituições, considerando que a solidariedade faz-se sem torturar animais;
3- Os contribuintes consideram que apoiar a entidade escolhida seria o mesmo que pagar mais um imposto, pois tratava-se de um serviço de um hospital público e que o governo já cobra impostos mais do que suficientes para financiar todos os serviços sob a sua responsabilidade.
(1) Video promocional:https://www.youtube.com/watch?v=OqsGyyi7NWQ&feature=youtu.be
http://www.rtp.pt/acores/sociedade/tourada-polemica-entrega-receita-ao-hospital-da-ilha-terceira-video_50502
José da Agualva
A propósito de declarações do papa Francisco
A propósito de declarações do papa Francisco
“A razão por que eu dedico muito do meu tempo a ajudar animais, é porque já existe muita gente dedicada a fazer-lhes mal” (Autor desconhecido)
De vez em quando, surgem afirmações alegadamente atribuídas ao papa Francisco que são alvo de algum debate, acompanhado de insultos, por parte de quem nada faz e se dedica a enxovalhar quem se dedica, sem esperar por qualquer recompensa material, a defender causas sejam elas quais forem.
De acordo com alguma comunicação social, o papa Francisco terá lamentado, recentemente, que algumas pessoas sentem compaixão pelos animais e são indiferentes face às dificuldades dos vizinhos.
Não podemos confirmar a veracidade da afirmação, em que contexto foi proferida e se a comunicação social truncou parte do discurso, mas uma coisa é certa as pessoas que se servem da frase para menorizar quem abraçou a causa animal antes de atirarem pedras aos outros deviam ter em conta os seus telhados de vidro. Algumas delas nada fazem em prol dos seus semelhantes e quando o fazem é de modo interesseiro e exibicionista que humilha quem é “ajudado”.
A causa animal não compete com as outras e se há quem dê mais importância aos animais do que às pessoas, a esmagadora maioria dos animalistas defende um mundo mais justo e solidário para todos os animais, humanos ou não, ajuda diretamente os cidadãos mais frágeis, pois a sua entrada em organizações caritativas está vedada em virtude de muitas destas serem elitistas e dedicarem-se mais à caridadezinha do que à solidariedade, que são coisas bastante diferentes.
A propósito da relação entre humanos e animais, num magnífico texto intitulado “Vadios”, o escritor, recentemente falecido, Paulo Varela Gomes escreveu o seguinte:
“Na devastação causada pela desigualdade e a injustiça, os humanos podem contar com o animal que os protege e ampara desde sempre. Aparentemente não podem contar com mais nada.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30946, 31 de maio de 2016 p.16)
27.5.16
Há uma ligação íntima entre touradas à corda e festas do Espírito Santo?
Há uma ligação íntima entre touradas à corda e festas do Espírito Santo?
Os defensores das touradas à corda, nomeadamente aqueles que querem que aquela brutalidade seja considerada património imaterial da humanidade, pretendem fazer crer que não há festas do Espírito Santo sem touradas à corda.
Se formos às origens das festas do Espírito Santo em Portugal Continental ou mesmo nas várias ilhas dos Açores facilmente se concluirá que tal não corresponde à verdade. Com efeito, consulte-se os micaelenses Armando Corte Rodrigues ou Aníbal Bicudo e não verão qualquer referência a touradas nas festas do Espírito Santo. De igual modo, sendo a introdução das touradas em São Jorge e na Graciosa datadas do século passado, a partir da Terceira, prova-se que só passou a haver associação entre as duas coisas a partir de então.
Na ilha de São Miguel, sendo a reintrodução das mesmas mais recente, também se confirma que só por oportunismo da indústria tauromáquica e falta de fé, de compaixão, de educação e de escrúpulos, por parte dos mordomos de algumas irmandades é que se associam impérios do Espírito Santo a touradas à corda que até, em abono da verdade, não o são.
Se formos à ilha Terceira, onde as duas coisas parecem estar intimamente associadas, a verdade é que tal se deve ao oportunismo da indústria tauromáquica que se aproveita da ingenuidade, da deseducação e do vício das pessoas para sacar dinheiro. A confirmar o mencionado, o insuspeito historiador terceirense Frederico Lopes, no seu livro Notas Etnográficas, afirmou que as touradas à corda são o “remate certo de todas as festas, quer religiosas quer profanas”.
Como afirmou Frederico Lopes a indústria tauromáquica também associou touradas às festas do Espírito Santo, mas como se verá a seguir nem sempre às de corda. Com efeito, uma consulta ao jornal “O Angrense”, que se publicou na ilha Terceira entre 1836 e 1910, verifica-se que se realizavam touradas de praça para apoiar impérios e claro os ganadeiros e outros.
A título de exemplo, abaixo transcrevemos as seguintes notícias:
“Realiza-se amanhã, 30, uma corrida de touros, na praça de São João em benefício do Espírito Santo de S. João de Deus” (O Angrense, 3 de agosto de 1874).
“Deve realizar-se, no próximo domingo, a corrida de touros, na praça de S. João, em benefício do Império dos Quatro Cantos”(O Angrense, 31 de outubro de 1875)
Embora desconheçamos mais pormenores, parece-nos que no passado há algo de diferente com o que se passa hoje. Assim, se no passado as touradas, embora condenáveis, eram de beneficência, isto é, em princípio destinavam-se a financiar os impérios, hoje, com a inclusão das touradas nos programas dos impérios o objetivo é precisamente sacar dinheiro dos irmãos ou da irmandade, que se devia destinar à solidariedade com os mais desfavorecidos, para o entregar a uma indústria anacrónica e imoral.
Face ao exposto, por que mantém um silêncio cúmplice a hierarquia da Igreja Católica?
Açores, 26 de maio de 2016
José Ormonde
26.5.16
25.5.16
Beneficência com tortura
Por favor, mostre a sua indignação e peça ao Governo Regional de repudie a realização de uma tourada supostamente para angariação de fundos para um hospital público.
Contactos:
Para: presidencia@azores.gov.pt, sres@azores.gov.pt,
CC: sres-drs@azores.gov.pt, sres-hseit@azores.gov.pt, hseit.adm.secretariado@azores.gov.pt, deputados@alra.pt, acoresmelhores@gmail.com
Exmo. Senhor
Presidente do Governo Regional dos Açores
Exmo. Senhor
Secretário Regional da Saúde
A Tertúlia Tauromáquica Terceirense e o Núcleo dos Açores da Liga Portuguesa Contra o Cancro anunciaram a realização de uma tourada de praça “de beneficência” para o próximo dia 29 de Maio que foi, muito bem, repudiada pela Direção Nacional da Liga Portuguesa Contra o Cancro.
No entanto, depois da recusa desta organização, a verdadeira organizadora da tourada, a Tertúlia Tauromáquica Terceirense, não desiste dela e como forma de lavar a imagem das sangrentas e cada vez mais repudiadas touradas alteram o beneficiário, que passa a ser Hospital de Angra do Heroísmo, nomeadamente o seu Serviço Especializado de Epidemiologia e Biologia Molecular.
Considerando que é um insulto ao sentir generalizado da maioria dos açorianos e de todas as pessoas que, em todo o mundo, respeitam todos os seres vivos, associar a tortura de animais a fins e propósitos nobres de beneficência,
Considerando que é um gravíssima afronta a todos os açorianos que um hospital do Serviço Regional de Saúde e, por extensão, o Governo Regional dos Açores e a própria Região, figurem publicamente como promotores de uma tourada,
Tendo em conta que é possível a angariação de fundos através de práticas pacíficas e consensuais, que não envolvem sofrimento de animais para divertimento de pessoas pouco sensíveis,
Pedimos ao Secretário Regional da Saúde, Sr. Luís Mendes Cabral, e ao Presidente do Governo Regional dos Açores, Sr. Vasco Alves Cordeiro, que repudiem, da mesma forma como já fez a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a realização desta tourada e não permitam que a Região Autónoma dos Açores, ou um qualquer dos seus serviços públicos, figure como promotora de um espectáculo de tortura animal.
Com os melhores cumprimentos
Nome
18.5.16
Motivações para maltratar um animal
Motivações para maltratar um animal
Quase todos os dias recebemos denúncias sobre animais chamados de companhia ou de produção que de uma forma ou de outra são alvo de crueldade por parte dos seus donos e não só. De igual modo, e com uma frequência quase igual, tomamos conhecimento de abandonos de animais pelas mais diversas razões.
No passado dia 13 de maio, assistimos a uma conversa na qual uma senhora, que havia sido intimada pelo SEPNA-GNR a colocar um chip no seu cão, dizia que ia ver se era possível colocá-lo num canil para ser mais barato e que se tal não fosse possível deixava o animal lá.
Face ao exposto, as autarquias têm de tomar medidas para penalizar todas as pessoas que por dá cá aquela palha deixam os seus animais “de estimação” nos canis.
Mas, o que leva as pessoas a tratarem com crueldade os animais?
Antes de citar dois autores que escreveram sobre o assunto, quero referir que uma das razões está na manutenção de algumas tradições que teimam em sobreviver aos avanços da ciência e da ética, como é caso das touradas.
Num texto intitulado “O desenvolvimento da crueldade para com os animais e humanos nas crianças”, da autoria de Mark Dadds e Cynthia Turner, da Universidade de Griffith, publicado na Revista Portuguesa de Pedagogia, no ano 2000, os autores citam nove motivações que justificam o comportamento cruel contra os animais, mencionadas por S Kellert e A. Felthous num texto datado de 1985.
Aqui vão elas:
- Motivação para controlar um animal, incluindo a motivação para “moldar o comportamento de um animal ou eliminar características indesejáveis do mesmo”;
- Retaliação contra um animal, por exemplo bater num animal pelo facto de ele ter feito algo de que não se gosta;
- Satisfação com o dano causado a uma espécie ou raça de que se não gosta;
- Expressão de agressividade através de um animal, esta diz respeito ao treino de animais para agredirem outros ou pessoas;
- Aperfeiçoar a agressividade de um animal;
- Valor do choque e do divertimento, por exemplo queimar um gato.
- Vingança ou retaliação contra outras pessoas através de maus tratos aos seus animais de estimação;
- A deslocação da hostilidade e agressividade de uma pessoa para um animal;
- O sadismo não-específico, abrangendo “o desejo de infligir danos, sofrimento, ou morte a um animal, na ausência de qualquer provocação ou sentimentos especialmente hostis em relação ao animal”, tendo como principal objetivo “o prazer que resulta de causar danos e sofrimento”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30936, 18 de maio de 2016, p.14)
5.5.16
Tourada cancelada
A Direcção Nacional da Liga Portuguesa Contra o Cancro anulou a decisão do seu Núcleo Regional dos Açores de organizar uma tourada.
Parabéns a uma instituição que se rege pelos princípios da ética e do compromisso e que não se deixa submeter aos interesses da indústria tauromáquica, que possui tentáculos em várias organizações.
Por favor, escrevam à Direcção Nacional para agradecer a anulação deste atentado contra os animais e contra as pessoas (info@ligacontracancro.pt).
RESPOSTA DA LPCC:
Exmo. Senhores,
Os meus melhores cumprimentos.
Venho informar que a Direcção da Liga Portuguesa Contra o Cancro é absolutamente contra a realização de Touradas ou de espetáculos semelhantes e, que, de imediato, providenciamos no sentido da anulação do espetáculo programado pelo Núcleo Regional dos Açores.
Apresentamos as nossas desculpas por tão insólita organização que só por descuido, desatenção e inexperiência foi anunciado,
Com a certeza que não pactuamos com este tipo de espetáculo, reiteramos os melhores cumprimentos.
Dr. Vítor Veloso
Presidente Nacional
Liga Portuguesa Contra o Cancro
3.5.16
Em memória de Paulo Varela Gomes
Em memória de Paulo Varela Gomes
“Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?” (Paulo Varela Gomes)
No passado sábado, dia 30 de abril, faleceu o historiador, escritor e jornalista Paulo Varela Gomes que nasceu em 1952. Era filho de João Varela Gomes e Maria Eugénia Varela Gomes, dois combatentes pela liberdade e opositores ao Estado Novo.
Enquanto lutava contra um cancro, escreveu um magnífico texto que merece uma reflexão de todos nós que, transitoriamente, habitamos neste planeta, tão maltratado, intitulado “Morrer é mais difícil do que parece”.
Do referido texto, publica-se, abaixo, um excerto:
«A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte. É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio. Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido. Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar”.
De entre os vários combates que travou ao longo da vida, integrado em organizações estudantis, políticas, sindicais ou individualmente, não podemos esquecer a defesa dos animais, sendo de destacar a sua clarividente opinião relativa à tauromaquia.
Num texto publicado no jornal Público intitulado “Morrer como um touro”. Paulo Varela Gomes manifesta-se contra a criação por parte do Ministério da Cultura de uma seção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura, alegando que se tratava de uma tradição que devia ser mantida.
De entre os argumentos dos defensores das touradas, Paulo Varela Gomes refere-se ao da tradição nos seguintes termos:
“Mas a tradição é mais antiga, do tempo em que humanos e animais lutavam na arena para excitar os nervos da multidão com o sangue e a morte anunciada. A piedade, que é um valor mais antigo do que Cristo, veio, na sua interpretação cristã, salvar disto os humanos. Esqueceu-se, porém, dos animais”.
E acrescenta:
“…Por desespero, coragem ou raiva (não é o mesmo?), o touro arremete pela última vez. Em Espanha morre. Aqui, neste país de maricas, é levado lá para fora para, como é que se diz? ah sim: ser abatido. A multidão retira-se humanamente, portuguesmente, de barriga cheia de cultura portuguesa, na tradição milenar à qual nenhuma piedade chegou.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30925, 4 de maio de 2016, p.13)
2.5.16
Maio mês da tortura
Maio de 2016, mês da tortura
Tal como manda a tradição e impõe o vício adquirido por muita deseducação que começa quase no berço, a 1 de Maio começa a época oficial das touradas à corda.
Hoje, na ilha que as importou e as manteve e que é centro difusor das mesmas, a ilha Terceira, estão marcadas três touradas à corda e este mês realizar-se-ão 35 (trinta e cinco).
Segundo um economista que deve ser bom no excell mas má na vida real, isso será um grande contributo para o PIB pois há muitas despesas na realização das ditas, como o pagamento aos ganadeiros, as taxas e licenças cobradas pelas autarquias, as licenças para os foguetes, a gasolina e o gasóleo para os transportes, os custos dos tratamentos dos feridos, se houver mortes há ainda as despesas com os funerais, etc. Enfim, não se cria riqueza, mas é uma alegria e haverá sempre alguém que pagará a crise, distribuindo migalhas pelos mais desfavorecidos e milhões pelos empresários chupistas.
Como se isso não bastasse, uma associação que devia ser solidária, mas que é adepta da caridadezinha e pouco açoriana, decide organizar a 29 de maio uma tourada para angariar fundos para a criação de uma bolsa para estudos na área da oncologia.
Sobre a sua falta de açorianidade todos sabemos que desde sempre a direção da Liga- Liga Portuguesa Contra o Cancro esteve centrada na ilha Terceira e as delegações noutras ilhas nunca tiveram qualquer autonomia, o que não sabíamos era que, para além da localização, havia ligação à indústria tauromáquica que como se sabe vive da exploração, tortura e morte de animais para divertimento humano.
Conhecendo como se conhece os dirigentes terceirenses da Liga e os da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, entidades parceiras no infeliz evento, não é difícil concluir que se o objetivo fosse a criação de uma bolsa, eles a título individual ou através das suas empresas possuem meios mais do que suficientes para a criação de três ou quatro bolsas.
Mas, a bolsa não é mais do que um pretexto para organizarem mais uma tourada que é o que, no fundo, eles gostam.
José Ormonde
Açores, 1 de maio de 2016
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