1.8.10

Galiza e touradas


De touros, touradas e sensibilidade moral


Outras vozes
Quarta, 28 Julho 2010 02:00

Domingos A. Garcia Fernandes

Prestes a começar as touradas da Peregrina em Ponte Vedra nom está por demais recordar que som alheias à nossa cultura e que 80% da populaçom é contrário às mesmas (em modo algum se trata dumha tradiçom).

E cumpre assim mesmo recusar umha série de mitos como:

A tam espalhada ideia de que há que preservar as tradiçons - umha tradiçom, a das corridas, que na Galiza, já se indicou, nom seria tal -. Porém nom fica de sobejo explicitar que entender por tradiçom. De acudir a María Moliner: "passagem dumhas geraçons a outras através da vida dum povo, umha família, et cetera, de notícias, costumes e criaçons artísticas colectivas." E de o fazer ao Novo Grande Dicionário da Língua Portuguesa: "transmissom de valores espirituais..." ou "conhecimento ou prática que provém da transmissom oral ou de hábitos inveterados."

Sublinhemos o de colectividade, valores espirituais ou hábitos inveterados (rem a ver com a festa dos touros). Amais disso nom por algo ser tradicional tem de ser mantido, há costumes a erradicar o antes possível por ser defesa de destruiçom e violência.

Que o touro é umha raça brava. Nom, seriam mestiços (é doado consultar estudos na rede) sem raça determinada, umha casta de pseudorraças de Bos Taurus com agressividade instintiva quando som provocados ou assediados característica, a agressividade, que partilham com outras muitas espécies e mesmo com exemplares de outras raças bovinas. Nom se decidiu, por negócio, criar um protótipo e os touros de lide de ontem nom se parecem aos de hoje e, a bom seguro, tampouco aos de amanhá.

Que o touro é agressivo. Rem de rem. É um ruminante pacífico que somente deseja se esgueirar da praça, fugir dos magarefes, pastejar e ruminar em paz, de nom ser por toda umha panóplia de torturas para o irritar e dilacerar, para o louquejar de dor e o obrigar a combater.

Que o toureio é umha arte. De voltar ao María Moliner, arte por antonomásia seria "a actividade humana dedicada à criaçom de cousas belas" . Semelha que deveria ser um processo criativo para dar e nom apagar vida. Aniquilar nom engrandece. A formosura nom está na morte, no estrago, na danificaçom, na degradaçom. Na arte há de primar o biófilo fronte ao necrófilo.

As corridas fam parte do panem et circenses, das velhas carniçarias de animais e humanos, das queimas de hereges, dos grosseiros espectáculos para as massas (ir passar o domingo), do guilhotinar público... É no século XVIII, ou mesmo no XIX, quando esta má-criaçom, em paralelo com a Ilustraçom, diminui em toda a Europa, nom o fai no Estado espanhol anti-ilustrado, que nom só nom proíbe estes divertimentos, ao contrário, impulsiona-os, regulamenta, muda em oficiais, preside... E como ideologia de mascarada umha série de mitos baseados na mais espessa ignorância.

Os mal chamados festejos som actuaçons cruéis com puas, farpas e estocadas. Traia-se à memória que é o córtex cerebral o que nos diferência dos outros mamíferos e permite que falemos, calculemos ou sejamos artistas. Porém as emoçons, o prazer, a dor, os medos, os anseios, as ledícias e as frustraçons som compartilhadas. Os centros de prazer e dor no sistema límbico fam parte das estruturas em comum.

As puas lesionam apófises espinhosas de vértebras, podem provocar hemorragias que cheguem a 18% do volume sanguíneo...

As farpas provocam lesons musculares, de vasos sanguíneos e nervos.

As estocadas quase que endejamais desembocam numha morte rápida ao estar deslocadas e o touro afoga no seu próprio sangue.

Nom me vou adentrar em argumentos tam à moda a respeito dos Direitos dos Animais ou falsos razoamentos sobre a sobrevivência das pastagens (de certo que som um património natural de grande valor e lugar de passagem de aves e outros animais), que transformadas en reservas naturais podem acolher bovinos em liberdade e ser compartidas com outras espécies. As devanditas pseudorraças de lide nom tenhem de deixar de ser ao se suprimir as touradas e os antitaurinos de certo que lutaríamos para os proteger.

Para rematar unhas consideraçons acerca de Ética e Moral, pois usufruir desses festejos implica umha degradaçom moral, umha sensibilidade atordoada.

A Ética estaria ligada ao comportamento racional do indivíduo corpóreo e alicerçaria-se no princípio de conservaçom da esfera corpórea (fortaleza) e no de solidariedade com outras esferas corpóreas (generosidade).

A Moral abrangeria as normas vinculadas aos mesmos indivíduos corpóreos, mas em tanto que membros de grupos, comunidades, sociedades, culturas... Mesmo os seus princípios podem colidir com os imperativos éticos. Em todo lugar e tempo costumam referir-se à isonomia, à justiça recíproca... e sempre há umha incomensurabilidade entre as esferas ideal e real de aplicaçom.

Nom se vai cair em aplicar aos touros discursos antropomórficos e os olhar como seres humanos.

Mas sim convidar a reflectir arredor das supraditas fortaleza, generosidade, isonomia e justiça. Sentir prazer com espectáculos cruéis, violentos, nom invalidará essas virtudes?


Fonte:http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=5116:de-touros-touradas-e-sensibilidade-moral&catid=100:outras-vozes&Itemid=21

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