13.9.12

Concretizar o sonho de Alice Moderno



Concretizar o sonho de Alice Moderno  

Como se não bastasse toda uma vida empenhada na defesa de várias causas, com destaque para proteção dos animais, Alice Moderno, no seu testamento, deixou uma verba necessária para a construção de um Hospital Veterinário, onde os animais de companhia, em especial os pertencentes aos mais desfavorecidos da sociedade, pudessem ser devidamente tratados.

Um arremedo de hospital começou a funcionar, em 1948, num pequeno pavilhão pouco espaçoso na rua Coronel Chaves, onde até há alguns anos funcionou o CATE. As suas minúsculas dimensões e por se assemelhar mais a um canil do que a um hospital fizeram com que o mesmo nunca tenha chegado a ser oficialmente inaugurado.

Mais tarde, a Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada construiu um edifício na Estação Agrária, em São Gonçalo, com um pouco mais de espaço. O mesmo foi dotado do material e da aparelhagem necessária, tendo a sua manutenção ficado a cargo dos rendimentos obtidos através do legado da benemérita Alice Moderno.

Nos primeiros anos, sob a administração da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, presidida pela Dona Fedora Serpa Miranda, com a colaboração da Junta Geral, foi assegurada a enfermagem permanente aos pequenos animais e a consulta diária a animais de todas as espécies, através do veterinário municipal de Ponta Delgada.

Hoje, não se pode falar em hospital veterinário pois no espaço existente funciona um consultório veterinário que era, pelo menos até há pouco tempo, assegurado por vários médicos veterinários que exerciam as suas funções a título privado. Segundo Ana Coelho, em 2009, o número de atendimentos era diminuto e ainda existia graças à boa vontade dos Serviços de Desenvolvimento Agrário e dos especialistas que ali trabalhavam diariamente.

Todos os anos, ultrapassa largamente dois mil o número de animais de companhia (cães e gatos) que são abandonados, acabando na sua maioria por serem abatidos nos canis municipais ou atropelados nas estradas. A título de exemplo, só no canil de Ponta Delgada, em 2009 deram entrada 2088 animais, tendo sido encaminhados para adoção cerca de 780, o que significa que foram abatidos cerca de 1300. Em 2010, deram entrada no mesmo canil  2177 animais, tendo sido abatidos 1278.

No atual contexto socioeconómico da região, onde muitas pessoas perderam emprego e apoios sociais e têm dificuldades em cumprirem o pagamento de todas as despesas destinadas à sua sobrevivência com dignidade, prevê-se que aumente o número de animais que não terão o devido acompanhamento médico veterinário e que aumente o número de abandonos.

O esforço que é feito pelas associações de proteção dos animais, que se debatem com falta de meios e de apoios públicos, acaba por ser muito modesto pois, através dele, só uma pequena parte dos animais irá conseguir tratamento adequado e uma percentagem, também, pequena dos abandonados conseguirá um novo lar.
Sabendo-se que estamos perante um problema humanitário e de saúde pública cuja resolução não pode depender, exclusivamente, do setor privado da atividade médico-veterinária, a situação só poderá ser alterada se a Região Autónoma dos Açores tomar as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.
Por último, para que a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, seja respeitada sugere-se a transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção de animais ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos.
Este hospital poderia ser cogerido pelas associações de proteção dos animais com atividade, em São Miguel, em parceria com o Governo Regional dos Açores. Assim, seria respeitado o desejo de Alice Moderno que era que fosse assegurado tratamento “aos pobres irracionais desprotegidos da sorte”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 12 de Setembro de 2012)Concretizar

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