27.12.16
John Audubon e as aves
John Audubon e as aves
John Audubon, o mais ilustre e conhecido ilustrador de história natural do século XIX, nasceu em 1875, Santo Domingo, hoje Haiti, e faleceu em 1851, em Nova Yorque.
Aquando da celebração do seu 159º aniversário, o jornal Correio dos Açores publicou um texto sobre a sua vida e obra, onde a dado passo se pode ler que Audubon “foi um profundo observador e intérprete da vida dos animais, pertencendo-lhe algumas das melhores gravuras de aves até hoje pintadas por qualquer artista”.
Para a elaboração das suas obras, a mais famosa dos quais foi “Aves da América”, Audubon recorreu a métodos que hoje não seriam aceites, pois no seu trabalho de campo munia-se “de papel e material de desenho, mas também de uma espingarda que usava para matar as aves que pretendia ilustrar”. Como “atenuante” do seu comportamento refira-se que não existia na altura a consciência ecológica tal como a que existe hoje e Audubon não tinha os recursos tecnológicos agora existentes que permitem observar com pormenor as mais diversas espécies.
Apesar do mencionado, Audubon reconheceu as ameaças à vida selvagem, sobretudo às aves e aos seus habitats, de tal modo que tal facto foi reconhecido, estando o seu nome ligado às Sociedades Audubon que já em 1944 possuíam, nos Estados Unidos da América, “milhares de sócios de todas as idades” e que têm “como objetivo principal a restauração e conservação das espécies características na América”.
Antes da formação da Sociedade Nacional Audubon, foram dados vários passos, sendo o primeiro a organização, em 1896, por parte de Harriet Hememway e de Mina Hall, de uma série de reuniões que tiveram por objetivo convencer as senhoras da alta sociedade para deixarem de usar guarda-sóis com penas de aves.
Na sequência desta campanha contra a matança, por parte da indústria dos guarda-sóis, de milhões de aves aquáticas formou-se a Sociedade Audubon de Massachusetts.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31113, 27 de dezembro de 2016, p.16)
https://www.tes.com/lessons/_om9G1BYe1FOXg/john-james-audubon
25.12.16
20.12.16
Os primeiros passos da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais
Os primeiros passos da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais
No último texto, fizemos referência à fundação da Sociedade Protetora de Animais de Angra do Heroísmo. Hoje, vamos divulgar alguns dados relativos à SMPA - Sociedade Micaelense Protetora dos Animais que foi criada em 1911.
A ideia da sua criação não foi de Alice Moderno, uma das suas fundadoras e mais conhecida e dedicada dirigente. Segundo ela, a primeira pessoa a sugerir a formação de uma sociedade dedicada à proteção dos animais foi o advogado Dr. Henrique Ferreira de Paula Medeiros.
Quinze anos antes da criação da SMPA, num pequeno texto, não assinado, publicado no jornal O Preto no Branco, já se falava na necessidade da constituição de uma associação protetora dos animais e já se denunciava a horrível situação em que se encontravam os animais nos seguintes termos:
“Alguém relembrou, há pouco, a criação, entre nós, duma sociedade destinada a proteger os pobres animaizinhos que nesta terra de brutos são tratados com uma desumanidade só admissível na Hottentocia.
E é possível que lá, nesse rincão do mundo selvagem, haja um poucochinho mais de caridade para com os irracionais que nesta decantada pérola que tanto arrota de civilizada, e todavia, tão pouco o parece a certos respeitos.”
Como de certeza, na altura tal como hoje, existiam vozes que menosprezavam quem abraçava a causa animal, o autor recorda que “proteger os animais é beneficiar a condição humana, naturalmente inclinada ao mal e à guerra viva”.
O texto termina “aplaudindo a criação da sociedade em projeto” e fazendo um apelo para que alguém tome a iniciativa.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31108 de 20 de dezembro de 2016, p. 8)
13.12.16
Ainda sobre zoológicos
Ainda sobre zoológicos
No momento em que escrevo este texto mais de mil e cem pessoas já subscreveram uma petição dirigida ao presidente da Câmara Municipal da Povoação, pedindo para que o mesmo repense o projeto de recuperação do chamado parque zoológico e procure uma alternativa que não implique a manutenção de animais em cativeiro.
O sucesso da petição, lançada por pessoas que acompanham a situação daquele espaço, situado no centro da Povoação, pelo menos desde 2009, deve-se ao facto de não só no estrangeiro, mas também entre nós ser cada vez maior o número de pessoas preocupadas com os direitos dos animais.
A preocupação crescente, a nível mundial, com a situação dos animais e com a deseducação dos humanos associada à criação de animais selvagens em cativeiro tem levado ao encerramento de muitos zoológicos ou à sua reconversão.
De acordo com um “dossier” da responsabilidade do Projeto ZOOXXI, entre os países que têm fechado mais parques e jardins zoológicos estão os Estados Unidos, a China, a Inglaterra, a Austrália e o Canadá.
Ainda segundo o mesmo Projeto, as principais causas para o encerramento de zoológicos são as crises económicas, as condições precárias e um inadequado manejo dos animais e a pressão pública para a sua melhoria ou eliminação, quando estão a causar danos aos animais ou mesmo a prejudicar a imagem das localidades onde estão instalados.
O conhecido escritor inglês Desmond Morris, responsável durante dez anos pelos mamíferos do Zoo de Londres, um dia afirmou: “Sei que os bons jardins zoológicos são importantes por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”
De entre as razões importantes referidas por Desmond Morris, estarão a função educativa e o seu papel na conservação das espécies, as quais são contestadas por vários autores.
No que diz respeito à sua função educativa, o facto dos animais enjaulados em pequenos recintos apresentarem comportamentos anormais em nada contribui para o real conhecimento das diversas espécies.
Alguns pedagogos sustentam mesmo que o cinema, a televisão, as animações informáticas constituem um recurso muito mais útil do que os parques zoológicos.
A segunda ideia, a de que os jardins zoológicos contribuem para a preservação de algumas espécies com vista à sua reintrodução na natureza, é também posta em causa pelos autores que vimos citando. Com efeito, aqueles autores referem que são muito poucos os casos em que tal aconteceu e mencionam o facto de nos anos 90 das três mil espécies em cativeiro em zoológicos apenas 66 estavam em vias de extinção.
No ano 2000, a presidente da Liga Para a Protecção da Natureza, afirmou que “o que se verifica é que os parques zoológicos são meras instituições de atividades lúdicas e até de alguma exploração animal ligada a atividades financeiras, quase industrializadas.”
De então para cá pouco se modificou e no caso da Povoação, para além da manutenção dos animais em condições precárias, mesmo ilegais perante a legislação em vigor, o parque nunca teve nem tem condições para ter uma função pedagógica nem nenhum papel para a conservação de espécies e é insuficiente querer aumentar o tamanho das jaulas quando o que importa é mudar de paradigma.
Termino, apelando ao bom senso da Câmara Municipal da Povoação e citando um comentário, deixado na página web da petição referida no início, de Milou van Mulken, que visitou o local e não gostou: “Eu vi pessoas dando cigarros aos macacos !! E não havia pessoal responsável para evitar que tal fosse feito. Este não é lugar para macacos. Muito pequeno e eles parecem deprimidos.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31103, 14 de dezembro de 2016, p.16)
12.12.16
Os primeiros passos da Sociedade Protetora dos Animais de Angra do Heroísmo
Os primeiros passos da Sociedade Protetora dos Animais de Angra do Heroísmo
Hoje, com a desburocratização de alguns serviços em muito pouco tempo é possível criar e legalizar uma associação de qualquer tipo. No passado, tal não acontecia e há mesmo associações que depois de pensadas só viram a luz do dia mais de uma dezena de anos depois.
Em texto anterior, fizemos referência à criação, em 1911, da SPAAH - Sociedade Protetora dos Animais de Angra do Heroísmo com o fim de “proteger dos maus tratos todos os animais não considerados daninhos… e animar o exercício da caridade para com os animais, estabelecendo para isso prémios e recompensas sempre que permitam os recursos da sociedade”.
Não sabemos, com segurança, quando terá surgido a intenção da sua criação nem de quem terá partido a ideia. Contudo, através de uma nota publicada no jornal vila-franquense “O Autonómico”, a 30 de maio de 1908, fica-se a conhecer que três anos antes da criação da SPAAH a mesma já era aventada.
De acordo com a notícia publicada em primeira mão no jornal A União e assinada por Campos Jr., tratava-se “de reunir esforços para se conseguir n’esta cidade uma sociedade protetora d’animais, a fim de policiar as ruas da cidade e das freguesias e evitar a barbaridade que a cada passo se está vendo de maus tratos aos animais, serem atrelados outros velhos e lazarentos, e de míseros cães e carneiros andarem puxando carroças carregadas de lenha, água e muitas vezes de gente, que barbaramente os espanca por não poderem com tal carga levada a caminhadas longas”.
Pelo que se vê hoje por aí a sociedade pouco evoluiu e ao contrário do que se pensa as preocupações com o bem-estar animal e com os direitos dos animais não são moda recente.
O próximo texto será dedicado à SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais que terá surgido, pelo menos 15 anos depois de pensada.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31102, 13 de dezembro de 2016, p. 16)
5.12.16
Entre toiros e gurus
Entre toiros e gurus
Só agora tive a oportunidade de ler a obra de ficção “Entre toiros e gurus”, da autoria de João Nobre de Carvalho, editada em 2013.
O autor, João Nobre de Carvalho, que nasceu em Goa, em 1940, onde contatou com as religiões orientais, chegou ao posto de Contra-Almirante, tendo servido em várias regiões de Portugal Continental, nas ex-colónias portuguesas e nos Açores.
De acordo com a Drª Isabel Nobre Santos, prefaciadora da obra, o livro tem “uma influência oriental, nomeadamente budista”, apresentando “uma história que prende o leitor, uma investigação profunda das tradições nacionais, um estudo apaixonado das vias da sabedoria que poderiam dar ensejo a que alguém transmutasse os caminhos da tradição em “caminhos de compaixão”.
Embora partes do livro sejam de difícil leitura para quem não está habituado a diversos conceitos usados nas “filosofias” orientais, como é o meu caso, recomendo a sua leitura pois o autor procura “incentivar os jovens a transcenderem os filtros culturais adquiridos através dos genes e da forma como foram educados, segundo os quais observam a vida, de modo a conhecerem-se melhor a si mesmos, olhando de forma mais isenta a realidade do mundo circundante”. Com a sua publicação o autor, também, pretendeu dar um contributo para a construção de um mundo melhor para os humanos e para os animais, acabando com o sofrimento destes, nomeadamente nas touradas.
O livro descreve o percurso de um jovem nascido numa família ligada à agricultura e à criação de touros de lide que ao fazer um trabalho escolar sobre os direitos dos animais se apercebe do sofrimento daqueles e ao contatar com uma colega, por quem se apaixona, inicia um percurso de descoberta das mais diversas fontes da sabedoria oriental, como a Teosofia, o Budismo e o Induísmo.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31097, 6 de dezembro de 2016, p. 20)
22.11.16
São Miguel precisa de um zoológico?
São Miguel precisa de um zoológico?
Com o aumento do número de visitantes à ilha de São Miguel, nos últimos tempos, quase só se pensa em sacar dinheiro aos mesmos, não importa como e com que custos, nomeadamente ambientais. Há quem venda gato por lebre, como peças de “artesanato” que nada têm de açoriano e há quem imagine novas atrações que já tiveram a sua época, mas que hoje estão completamente ultrapassadas, como aquários e zoológicos.
Não me vou pronunciar sobre o anunciado aquário para Ponta Delgada porque os governantes já deram o seu aval, embora não queiram assumir a sua responsabilidade se o dito for à falência por falta de visitantes. Para poderem lavar as mãos inventaram a realização um referendo que à partida terá uma participação ridícula, pensando que a vitória do sim ao mesmo é mais do que garantida, pois uma população desinformada e deseducada facilmente opta pela megalomania e por música mesmo desafinada e roqueiras.
Nadando a favor da maré, tal como faz o peixe moribundo, a Câmara Municipal da Povoação, depois da desistência do Nordeste em criar um jardim zoológico, anuncia que vai investir cerca de 250 mil euros para remodelar o seu parque zoológico pois segundo ela atrai turistas e crianças.
Não posso negar que o referido parque não atraia visitantes e a prova foi que, por curiosidade, e por já ter ouvido falar tão mal da situação em que se encontravam os animais, o ano passado lá fui e saí desolado com o que vi e com o que ouvi de alguns continentais que tal como eu tiveram a oportunidade de ver os macacos a comerem uma pomba que havia ficado detida na prisão onde eram obrigados a sobreviver.
Mas o meu desapontamento ainda é maior ao saber que gente jovem que está à frente dos destinos da autarquia pensa como pensavam os velhos do século XIX, com a agravante de quererem, para não maçar as vistas, fazer a rotação dos animais em exposição, com animais vindos de Lisboa. A que preço para os contribuintes e com que custos para os animais?
Esta ideia enclausurar animais não é de hoje. Com efeito, em 1972, houve uma tentativa de criar um mini zoológico e um aquário em Ponta Delgada, no Parque da Cidade (Jardim António Borges).
De acordo com informações colhidas, já havia a possibilidade de conseguir, a título gratuito, alguns animais nas Províncias Ultramarinas bem como o seu transporte. O Dr. Carlos Medeiros, na altura, defendeu que não fosse sacrificado o Jardim António Borges e que fosse adquirido um terreno “situado no lado nascente daquele jardim para ali se ir instalando o futuro Mini-Zoo” e acrescentou que “no referido terreno se encontra um edifício que poderia, salvo melhor opinião, ser utilizado para se instalar um aquário nos moldes do que foi proposto por nós à Exma. Comissão Executiva da Junta Geral em 8 de maio de 1970”.
Não sei porque falhou a criação do zoológico e do aquário, mas uma explicação plausível foi dada através do seguinte diálogo, entre caçadores, publicado no jornal “A Ilha”:
“ Ouvi que vamos ter um jardim Zoológico? Não é como o de Lisboa, mas será coisa para se ver. Diz que a Câmara é que faz isso? Creio que sim, amigo Xico. Mas por todos os lados se diz que a Câmara não tem dinheiro e até o preço das licenças dos cães subiu, etc.. Como é isso? Os passeios das ruas da cidade mal-amanhados e outras necessidades urgentes mas não há bala, para o Zoo vai aparecer. O que diz o irmão? Ó Xico os tempos são outros e há dinheiro apenas para o que convém…
Passados mais de 40 anos, o que não terá sido feito por falta de dinheiro ou porque o mesmo era usado com parcimónia, volta a estar em discussão.
A grande diferença é que hoje faz-se muita asneira por haver dinheiro a mais e por não haver qualquer receio dos projetos não serem bem-sucedidos pois, quer sejam públicos ou privados, o contribuinte é que acaba por os pagar.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31087, 23 de novembro de 2016, p.16)
17.11.16
AS GAIVOTAS SÃO REALMENTE UMA PRAGA?
COMUNICADO: Perante as alarmantes notícias sobre o abate e envenenamento de gaivotas nos aterros sanitários dos Açores, sendo esta espécie qualificada frequentemente como uma “praga” pelos responsáveis destes aterros e também pela comunicação social, as seguintes Associações e Grupos ecologistas da região, assim como diversas pessoas a título individual, querem fazer público e manifestar o seguinte:
AS GAIVOTAS SÃO REALMENTE UMA PRAGA?
O que é realmente uma praga?
O conceito de praga tem vindo a evoluir no tempo, passando de ser uma simples palavra de uso na linguagem comum a ser actualmente um conceito com um significado técnico e científico muito mais rigoroso.
Tradicionalmente entende-se como praga qualquer tipo de organismo capaz de causar danos consideráveis nas produções agrícolas ou florestais. Estes organismos podem ser animais, plantas ou microorganismos, sendo então habitual falar, respectivamente, de pragas animais, de ervas daninhas ou de doenças das plantas.
O conceito de praga, no entanto, tem-se alargado posteriormente a outros tipos de danos, não apenas às culturas agrícolas ou florestais, e também inclui actualmente os danos causados à saúde humana, aos animais domésticos ou a determinados interesses económicos.
Se antigamente os organismos (animais, plantas ou microorganismos) eram considerados de forma simplista como bons ou maus segundo a sua capacidade de converter-se em pragas, actualmente o conceito de praga não está centrado no organismo mas na situação na qual ele acaba por se converte em praga. Assim, um organismo poderá ser benéfico num determinado lugar e poderá ser, ao mesmo tempo, uma praga noutro lugar diferente. Isto é, não existem espécies-praga, mas espécies que em determinadas condições se convertem em praga.
E em que condições um organismo se converte em praga? Habitualmente isto acontece naquelas condições em que um determinado organismo passa a multiplicar-se de forma rápida e sem controlo, criando subitamente uma superpopulação que é causadora de danos. Ora, estas condições são precisamente as que caracterizam às espécies exóticas invasoras. Estas espécies, introduzidas pelo homem, têm exactamente como característica crescer e multiplicar-se sem controlo por não existir no ecossistema no qual foram introduzidas nenhum factor de equilíbrio sobre a sua população, como poderia ser por exemplo a existência de predadores, de competidores, de parasitas ou de doenças. Assim, as espécies exóticas invasoras facilmente podem converter-se em praga.
Muito mais raras são as condições nas quais uma espécie nativa pode converter-se também em praga, e implicam que esta espécie tenha uma alta taxa de natalidade capaz de criar um aumento súbito da sua população, como acontece por exemplo na África com as pragas nativas de gafanhotos. Estando as espécies nativas em equilíbrio com o seu ecossistema, esse aumento súbito acabará no entanto por ser anulado naturalmente, registando-se assim apenas uma situação de ciclos periódicos de aumento da sua população.
As gaivotas são uma praga?
A Gaivota-dos-Açores (Larus michahellis atlantis) é uma subespécie de gaivota endémica do nosso arquipélago. É portanto uma subespécie que só existe nas ilhas dos Açores (alguns autores, no entanto, incluem nesta subespécie as gaivotas existentes na Madeira e nas Canárias, enquanto outros elevam a Gaivota-dos-Açores à categoria de espécie independente). Calcula-se que exista uma população total de mais de quatro mil casais reprodutores de Gaivota-dos-Açores, distribuídos pelas diferentes ilhas açorianas [1].
A Gaivota-dos-Açores não é, portanto, uma espécie exótica invasora que cresça sem controlo, mas antes uma espécie nativa cuja população está em equilíbrio com o ecossistema do qual faz parte. E tendo ainda uma taxa de reprodução bastante baixa, sem capacidade de ter aumentos rápidos nem súbitos da sua população, não tem objectivamente condições para converter-se ou ser considerada alguma vez uma praga.
O mesmo pode dizer-se de outras espécies e subespécies de aves nativas endémicas dos Açores, como o Pombo-torcaz (Columba palumbus azorica), o Melro-preto (Turdus merula azorensis) e o Estorninho (Sturnus vulgaris granti). Estas espécies não têm capacidade de ser praga, apesar de erroneamente serem muitas vezes referidas como tal na comunicação social açoriana. Também não é uma praga o priolo (Pyrrhula murina), que no passado foi levado quase ao extermínio por ser considerado como tal nas culturas de laranja. Apesar de que todos eles podem causar ou causam danos pontuais em determinadas culturas, nem têm as características nem ocasionam um volume de danos suficientes como para poder ser alguma vez considerados uma praga.
A população de Gaivota-dos-Açores, no entanto, tem sofrido ultimamente um aumento significativo no arquipélago como consequência do desequilíbrio criado pelo homem no seu ecossistema. A incorrecta e negligente gestão dos resíduos sólidos urbanos tem proporcionado a esta espécie um aumento importante de alimento disponível. Assim, nas ilhas de maior dimensão as gaivotas passaram a frequentar principalmente lixeiras e aterros para se alimentar, sendo nelas actualmente o lixo a sua principal fonte de alimentação. Com isto a população de gaivotas tem vindo ultimamente a crescer, estimando-se ter aumentado até num 60 % em duas décadas [1].
As gaivotas, para além dalguns incómodos pontuais, na realidade não ocasionam danos consideráveis ao ser humano. No entanto, a nível sanitário, há uma importante preocupação pela possível transmissão de doenças que possam apanhar nas lixeiras e nos aterros mal geridos onde se alimentam. Também, a nível natural, é preocupante o possível aumento da pressão de predação que podem exercer sobre outras aves nativas, ou ainda, por exemplo, o possível aumento da eutrofização da Lagoa do Fogo, lugar onde está situada a principal colónia de cria destas gaivotas.
O que fazer com as gaivotas?
O aumento da população da Gaivota-dos-Açores é consequência do desequilíbrio criado pela negligente gestão dos resíduos sólidos urbanos. Uma gestão eficiente dos resíduos, onde a fracção orgânica do lixo fosse recolhida e tratada separadamente, sem ir parar às lixeiras ou ao aterro, eliminaria esta fonte extraordinária de alimentação das gaivotas e sua população voltaria automaticamente a níveis normais. Outras melhoras possíveis, como o tratamento biológico dos resíduos ou uma melhor utilização dos aterros, reduziria igualmente a população actual de gaivotas. O problema não está portanto em saber o que fazer com as gaivotas senão em corrigir os maus hábitos e o desequilíbrio causado pelo homem no ambiente e nos ecossistemas das ilhas.
Entretanto, caso se queira insistir por mais tempo num modelo erróneo e insensato de gestão dos resíduos, existe a possibilidade de tomar algumas medidas sobre a população de gaivotas que, sem chegar nunca a solucionar as causas, podem minorar transitoriamente os possíveis danos que possam causar. Estas medidas, especialmente por se tratar de uma subespécie endémica dos Açores, devem ser obrigatoriamente realizadas dentro das normas éticas que merece uma espécie única da nossa ornitofauna. Deste tipo de medidas pode ser um bom exemplo a esterilização de ovos de gaivota que tem vindo a realizar-se na colónia da Lagoa do Fogo e que tem conseguido reduzir em parte a natalidade desta espécie.
Existem no entanto na nossa região numerosos exemplos recentes de uma total falta de ética no tratamento da população de gaivotas, realizados mais ou menos secretamente nos aterros da região e também fora deles. É disto um vergonhoso exemplo a opção de disparar e abater gaivotas no aterro da ilha Terceira, onde recentemente as gaivotas foram mortas às centenas (ou aos milhares se acreditamos no anunciado pelo próprio aterro) [2]. Ou também a opção de colocar iscos envenenados no aterro de São Miguel com um veneno tão perigoso como o pentobarbital sódico, utilizado na eutanásia animal e humana, que tem matado recentemente não só gaivotas, como também outras aves nativas e até vários cães [3].
Olhando para estas acções que atentam de forma vergonhosa contra a natureza, realizadas ou autorizadas pelas administrações regionais e locais, percebemos que o respeito pela fauna nativa continua a ser uma miragem na nossa região. E isto num momento no qual se faz propaganda dos Açores como uma região moderna e sustentável e tenta atrair-se a ela o chamado turismo verde e de natureza.
Há ainda cargos públicos na nossa região que consideram que as gaivotas são “ratos com asas”. E até os próprios deputados regionais, numa recente Resolução de 2015 [4], chegam a equiparar legalmente espécies endémicas como são as gaivotas, os pombos e os melros a espécies exóticas invasoras como são os ratos ou as térmitas, o que diz muito do seu respeito pela fauna dos Açores. Afinal, apetece dizer que a pergunta não será o que é que nós podemos fazer com as gaivotas, senão o que é que as gaivotas e a natureza poderão fazer connosco.
REFERÊNCIAS
[1] Neves, V.C., N. Murdoch, R.W. Furness. 2006. Population status and diet of the Yellow-legged Gull in the Azores. Arquipélago. Life and Marine Sciences 23A: 59-73.
[2] Telejornal. RTP Açores, 11/05/2015.
[3] Produto usado no controlo de gaivotas nos Açores pode ter implicações na saúde pública. Público, 28/10/2016. https://www.publico.pt/local/noticia/produto-usado-no-controlo-de-gaivotas-nos-acores-pode-ter-implicacoes-na-saude-publica-1749131
[4] Plano estratégico de combate às pragas dos Açores e controlo de densidade de espécies protegidas. Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores n.º 14/2015/A.
ASSOCIAÇÕES E GRUPOS ECOLOGISTAS:
Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Coletivo Açoriano de Ecologia Social
Avifauna dos Açores
APOIOS INDIVIDUAIS:
Alexandra Manes
Andrea Fernandes Simões Ribeiro
Ana Margarida de Medeiros Henrique
Ana Teresa Fernandes Baia Simões
António Eduardo Soares de Sousa
Carlos de Bulhão Pato
Clara Rego Costa Oliveira Cymbron
David M. Santos
Erica Del Rei de Sá Perello
Filipe de Chantal Borges Sancho
Gonçalo de Portugal de Almeida Tavares
Helena Câmara
Helena Melo Medeiros
Helena Primo
José Melo
Luís Noronha Botelho
Maria do Carmo Barreto
Maria Margarida Soares de Sousa
Miguel Fontes
Paula Costa
Rita Patuléia Pereira Bernardino
Rui Soares Alcântara
Sérgio Diogo Caetano
Sofia Cassiano de Medeiros
Teófilo José Soares de Braga
14.11.16
Envenenamento de gaivotas
Alguém pensou nas crianças?
Nos últimos dias do mês passado, a comunicação social e as redes sociais divulgaram notícias sobre o que uns chamam controlo e outra matança de gaivotas por parte de uma entidade oficial. Também foram referidos a morte de alguns cães presumivelmente associada à morte das mesmas e de um milhafre.
Não querendo aprofundar este tema, tal é minha indignação no momento em que escrevo, vou apenas fazer uma breve referência ao assunto e dar a conhecer o que se passava no passado já longínquo. Assim, entre outros possíveis exemplos, mencionarei o referido por Alice Moderno, em 1911, e uma opinião datada de 1952.
Sobre o ocorrido apenas queria mencionar que o combate à presença de gaivotas deve ser feito primeiramente fora do aterro sanitário, tomando medidas para que o seu número não cresça. Para isso é preciso não disponibilizar alimento, acabando com as pequenas lixeiras e vazadouros a céu aberto e isto só se consegue se uma parte da população deixar de ser “porca”. Tal só é possível com uma educação a sério e não com campanhas para inglês ver e, por último ou ao mesmo tempo, com castigos exemplares para todos os prevaricadores.
Evitando os depósitos de matéria orgânica, o número de gaivotas diminuiria e as entidades poderiam muito bem, como já se faz por este mundo mais civilizado, optar por estratégias de “sacrifico zero” de controlo de aves.
Há cento e cinco anos, Alice Moderno denunciou, no seu jornal “A Folha”, o uso da estricnina para eliminar cães, nas ruas de Ponta Delgada. Alice Moderno, para além de condenar aquele “bárbaro procedimento”, também, censurava o procedimento dos diretores de farmácias que vendiam o veneno a “criaturas anónimas e inconscientes – que outras não podem ser as que tão cruelmente procedem contra animais inofensivos – habilitando-as assim a, inclusivamente, atentarem contra a vida humana…”
Há sessenta e quatro anos, o senhor Manuel Pereira Duarte, delegado da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, nos Ginetes, denunciou, no Correio dos Açores, num texto intitulado “Em defesa das crianças e também … dos pobres animais”, o facto de na sua freguesia “os facínoras” terem assassinado “algumas dezenas de cães e gatos”, usando para tal “estricnina ou sais deste alcaloide” colocados em “cabeças fritas de chicharro”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31081 de 15 de novembro de 2016 p.16)
8.11.16
Turismo e defesa dos animais
Turismo e defesa dos animais
Um relatório elaborado na sequência de uma investigação realizada pela Unidade de Pesquisa e Conservação da Vida Silvestre da Universidade de Oxford (WildCRU) revelou que 550.000 animais silvestres sofrem devido a atrações turísticas irresponsáveis.
No mesmo relatório é revelado que a maioria das pessoas desconhece que os animais são tratados com crueldade, mas que, ao tomar consciência do facto, decidem não mais visitar os locais onde os maus tratos são praticadas.
O relatório mencionado apresenta o que de pior e o que de melhor se faz na indústria do entretenimento e mapeia “as soluções para desenvolver uma indústria de turismo amiga dos animais, destacando o papel crítico do TripAdvisor”.
O TripAdvisor, que é a maior rede de avaliações turísticas online, disponível em cerca de 50 países e em cerca de 30 idiomas diferentes, por sua vez, no passado dia 11 de outubro, anunciou que vai deixar de vender bilhetes para experiências turísticas em que os viajantes entrem em contato físico com animais selvagens e espécies ameaçadas que estejam em cativeiro.
No que diz respeito às touradas, tal como outros “desportos de sangue”, a referida empresa reafirmou que são um dos negócios que vão manter-se fora da sua listagem de ofertas.
Para o próximo ano, a empresa comprometeu-se com o lançamento de diversas ações que se traduzirão na implementação de mudanças na sua política de venda de bilhetes para atrações com animais e no lançamento de um novo portal educacional com vista a “ajudar a informar os viajantes sobre os padrões de cuidado e proteção de espécies de animais selvagens, ameaçadas e em cativeiro no setor do turismo, sobre a interação destes animais com os turistas e o seu impacto na conservação da vida selvagem”.
Terminamos, saudando a posição da TripAdvisor e condenado todos os que nos Açores ainda não perceberam que o bem-estar animal e os direitos dos animais devem ser respeitados se queremos criar riqueza e distribuí-la equitativamente pelos seus habitantes.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31075, 8 de novembro de 2016, p.16)
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7.11.16
Contra a vacada de São Martinho
O MCATA repudia a realização da vacada de São Martinho na Lagoa
No próximo dia 12 de novembro está programada a realização duma “vacada” integrada nas tradicionais comemorações de São Martinho na freguesia de Santa Cruz, concelho da Lagoa, a qual merece o nosso total repúdio.
O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) considera que nenhum entretenimento que use animais, como as “vacadas”, constitui uma atividade que enriqueça qualquer programa festivo tanto mais que as “vacadas” para além de causarem sofrimento aos animais – em ano anterior, por exemplo, um animal partiu um corno e mesmo a escorrer sangue não foi poupado – põem em risco as próprias pessoas e em nada contribuem para a educação das mesmas.
A prova de que a vacada é perfeitamente dispensável é que em São Miguel sempre se festejou a efeméride sem a importação destes tristes e bárbaros costumes e que no próprio concelho da Lagoa, na freguesia do Cabouco, o São Martinho vai ser festejado tradicionalmente sem recurso a “vacadas”.
No que diz respeito ao evento anunciado, não deixa de ser estranha a vinda dos animais e de “artistas” da ilha Terceira. Sobre isto, fica a seguinte dúvida: como é que uma irmandade duma festa local tem tanto dinheiro para pagar todas as despesas? E não seria mais útil e sensato utilizar o referido dinheiro noutros convívios ou na solidariedade a quem está a passar dificuldades na vida?
Se há talvez mecenas públicos ou privados envolvidos no pagamento do transporte, do aluguer dos animais ou das licenças, eles não devem ter a sua consciência tranquila, pois os seus nomes não são divulgados em toda a informação disponibilizada. A título de exemplo, em anos anteriores houve o apoio explícito da Câmara Municipal da Lagoa, mas também da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, o que não deixa de ser muito estranho tratando-se duma festividade local da Lagoa.
Face ao exposto, o MCATA apela a todas as pessoas para manifestarem o seu desacordo, quer diretamente à Câmara Municipal da Lagoa quer à Junta de Freguesia da Santa Cruz, e para assinarem e divulgarem a seguinte petição, que conta já com mais de um milhar de assinaturas:
https://www.change.org/p/c%C3%A2mara-municipal-da-lagoa-e-junta-de-freguesia-de-santa-cruz-s%C3%A3o-martinho-sem-vacadas
Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
07/11/2016
3.11.16
São Martinho sem vacadas
Para: Câmara Municipal da Lagoa e Junta de Freguesia de Santa Cruz
Exmos Senhores
No próximo dia 12 de novembro está programada a realização duma “vacada”, integrada nas comemorações de São Martinho, na freguesia de Santa Cruz, concelho da Lagoa, na ilha de São Miguel.
- Considerando que as touradas ou “vacadas” em nada contribuem para educar os cidadãos e cidadãs para o respeito aos animais, além de causarem sofrimento aos mesmos;
- Considerando que põem em risco, de forma absurda, a integridade física e até em algumas ocasiões a vida das pessoas;
- Considerando que não há tradição ou divertimento que justifiquem o sofrimento e maus tratos a um animal;
Vimos apelar:
- À Câmara Municipal da Lagoa e à Junta de Freguesia de Santa Cruz para que não apoiem a iniciativa, como fazia o antigo presidente João Ponte;
- Aos lagoenses e demais micaelenses para boicotarem a iniciativa e participarem noutros convívios onde não há o gasto inútil de dinheiros para alimentar a indústria tauromáquica terceirense, como o São Martinho da Freguesia do Cabouco.
Assine aqui:
https://www.change.org/p/c%C3%A2mara-municipal-da-lagoa-e-junta-de-freguesia-de-santa-cruz-s%C3%A3o-martinho-sem-vacadas
1.11.16
FERNÃO BOTTO MACHADO E A PROTEÇÃO DOS ANIMAIS
FERNÃO BOTTO MACHADO E A PROTEÇÃO DOS ANIMAIS
No texto anterior, fizemos referência à proposta de Fernão Botto Machado, solicitador e jornalista, deputado da Assembleia Nacional Constituinte, em 1911, para acabar com as touradas em Portugal.
Antes de fazer menção ao que fez Botto Machado pela causa animal, quero que fique bem presente que ele não era um “maluquinho” que apenas se preocupava com os animais e ignorava o resto. Com efeito, entre outras, ele tomou iniciativas relativamente à duração da jornada de trabalho e lutou pela emancipação da mulher.
Na sessão da Assembleia Nacional Constituinte, de 20 de julho de 1911, Botto Machado apresentou “um projeto de lei fixando em oito horas por dia o trabalho normal do operariado”.
Através do conteúdo da conferência “A queda do monstro. Pela emancipação da mulher. Pela liberdade de consciência” proferida, em 1910, segundo Carlos Bobone, fica-se a saber que “a elevação do papel social da mulher depende, inteiramente, da sua conversão aos valores laicos, da sua transformação num agente do progresso liberal, da sua adaptação a um mundo sem igrejas, sem confessores, sem a sujeição das consciências aos ditames clericais”.
No que diz respeito à questão animal, Botto Machado foi porta-voz no parlamento das associações de proteção dos animais, tanto de Lisboa como do Porto.
No que toca a esta última, Fernão Botto Machado apresentou, a 1 de agosto de 1911, um projeto de lei com vista à punição dos “maus tratos exercidos contra os animais, sempre que resultem da ação direta e violenta da parte dos delinquentes, quando tenham por fim produzir nos animais sofrimentos que a necessidade absoluta não justifique”.
A 4 de Agosto do mesmo ano, Botto Machado apresentou na referida Assembleia Legislativa um texto da responsabilidade da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa, onde esta associação “solicita a Vossa [deputados] atenção, para o referido projeto de lei, rogando-vos que não lhe recuseis nem demoreis a vossa aprovação, ficando certos de que com ela não só prestam um belo serviço à causa da civilização, como praticais um nobilíssimo ato de verdadeira justiça, a qual, como sabeis, não restringe nem exclui, sendo por igual devida a todos os auxiliares do homem”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31070, 1 de novembro de 2016., p. 16)
30.10.16
25.10.16
FERNÃO BOTTO MACHADO E A ABOLIÇÃO DAS TOURADAS
FERNÃO BOTTO MACHADO E A ABOLIÇÃO DAS TOURADAS
Fernão Botto Machado foi um solicitador e jornalista que, embora autodidata, possuía uma vasta cultura, tendo nascido, em Gouveia, em 1865 e falecido, em 1924, em Lisboa.
Foi um ativo militante político na área socialista e republicana e participou nas ações que conduziram à implantação da República.
Depois da implantação da República foi eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1911, tendo-se destacado como orador e autor de diversas propostas legislativas, com destaque para uma proposta de Constituição da República.
A proposta de Constituição da República de Botto Machado apresenta no Título VII intitulado “Altruísmo e solidariedade social” um conjunto de medidas conducentes à proteção dos mais fracos, nomeadamente das classes trabalhadoras, e inclui o artigo 127º com o seguinte teor: A República Portuguesa empenhará todos os seus esforços para extinguir as touradas.
No seu discurso proferido na Assembleia Constituinte, mais tarde editado em livro, Botto Machado referiu-se às touradas nos seguintes termos: “Esse cruel e perigoso sport só é defendido nos nossos dias, ou por interesses de exploração ou por aficionados del redondel, mas sem fundamentos que o justifiquem e sem sequer razões que o desculpem.”
Em relação ao (pretenso) carácter benemérito de algumas touradas, Botto Machado denunciou-o veementemente nos seguintes termos:
“A sua caridade, fria, egoísta, incerta e desigual, visto que era só para os seus adeptos; belo luxo, porque lhes dava ensejo para ostentações caras; hipócrita, porque visava criar anjos de caridade com asas de pau e coração de pedra... a sua caridade, em regra, procurava receitas imundas, ou à custa da tortura e da agonia de animais nobres e bons como os bois, e lindos, amorosos e elegantes como os pombos, ou à custa do suor do povo que caía nas armadilhas, e do sangue e da vida de picadores que morriam nas arenas, como no caso trágico do cavaleiro Fernando de Oliveira.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31064, 25 de outubro de 2016, p.7)
17.10.16
Goya e a tauromaquia
Goya e a tauromaquia
Muito recentemente adquiri a publicação “A Vida e a Arte de Goya”, inserida na publicação quinzenal “Iniciação – Cadernos de Informação Cultural”, editada, em 1943, pelo Professor Agostinho da Silva.
Francisco José de Goya y Lucientes (1746 - 1828) foi um pintor e gravador espanhol que, segundo Agostinho da Silva, embora mantendo relações com gente da corte não perdeu a independência e o “gosto de livre crítica”, continuando a ser um “homem do povo do nascimento à morte”.
Nos últimos anos da sua vida, “apesar da velhice e da doença, a sua capacidade de trabalho não diminui” tendo gravado “os Provérbios e a Tauromaquia”
Talvez pelo simples facto de ter obras sobre a tauromaquia, Goya foi, durante muitos anos, considerado um defensor das touradas, tendo sido um dos grandes vultos da cultura citado pelos adeptos das mesmas em defesa da sua continuação. A título de exemplo, ainda em 2010, Ignacio Gonzalez, vice presidente da Comunidade de Madrid socorria-se do “interesse de grandes artistas pelo espetáculo taurino”, entre eles Goya, para anunciar que o seu governo iria declarar as touradas como “bem de interesse cultural”.
Através de uma leitura mais recente da obra de Goya, os especialistas chegaram à conclusão de que ao contrário de ser defensor das touradas aquele terá sido um crítico da violência tauromáquica.
José Manuel Matilla, conservador do Museu do Prado, referindo-se a uma exposição sobre Goya que esteve patente naquele museu escreveu:
"A crítica romântica apresenta um Goya taurino, que inclusive na juventude chegou a tourear, mas essas gravuras são uma grande crítica à tauromaquia, especialmente pela enorme violência para toureiros e cavalos. A série termina com a morte de Pepe Hillo na Praça de Madrid, o mais famoso toureiro, que levou à proibição de touradas. Para Goya, as touradas não são ações heroicas, mas sim o medo e o terror, a morte, a violência e a irracionalidade”.
Segundo Sabela Rodríguez Álvarez, aquando da inauguração da referida exposição o escultor, Juan Bordes, destacou “quatro pinturas batizadas como Los toros de Burdeos, que mostram “o touro como o único inocente”, frente aos rostos do público e dos toureiros, que são representados de forma "monstruosa", como a personificação de "quem quer se alimentar de sangue”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31058,18 de outubro de 2016, p. 14)
11.10.16
Ferro Alves e as touradas
As touradas vistas por Leonel Ferro Alves
No último texto, apresentamos a visão de Leonel das Dores Ferro Alves sobre a ilha de São Miguel. Hoje aproveitamos o espaço que nos é disponibilizado para dar a conhecer como ele viu uma tourada à corda na ilha Terceira, onde esteve deportado durante quinze dias.
Com referimos no texto anterior, Ferro Alves quando escreveu o livro “A Mornaça” já havia aderido ao Estado Novo, depois de ter participado, em 1931, na Revolta da Madeira e dos Açores que pretendia derrubar a Ditadura Militar.
A seguir, apresentamos alguns extratos de um relato do que viu Ferro Alves, que como aficionado de touradas queria mais, isto é queria que os touros marrassem mais. Segundo ele “a mornaça transforma em insipidez, os mais emocionantes espetáculos”.
Tal como outros autores, como por exemplo o terceirense Alfredo da Silva Sampaio, que descreveram as touradas à corda antes dele, Ferro Alves refere as agressões de que eram vítimas os animais por parte dos participantes, como se poderá confirmar pelos seguintes excertos:
“Na praça da terra reúnem-se todos os habitantes no meio de uma chinfrineira aguda empunhando cacetes e com mais abundância guarda-chuvas. Esse instrumento antipático e avelhado disfruta aqui de irresistíveis simpatias”
“Animados pela mansidão do cornúpeto, los diestros, puxam-lhes o rabo, espicaçam-no com a ponta das malditas sombrinhas, provocam-no com lenços escarlates…”.
“O espetáculo termina com a lide de alguma vaca, mãe respeitada de numerosa prole. Insensível aos guarda-chuvas e às chaquetas permanece estática no meio da praça entre as chufas da multidão. Para arrancá-la à sua passividade chegam a picá-la com sovelas. Eu vi uma tão pachorrenta, que um indígena no meio do entusiasmo da assistência, puxava-lhe cinicamente as orelhas”.
Ferro Alves, muito crítico das “oligarquias” que governavam e dominavam os Açores, no seu livro escreve: “Nestas touradas somente tomam parte como aficionados elementos populares. Os filhos dos sobas e régulos, classifico assim os personagens locais, abstêm-se de participar nestes folguedos. A sua seriedade de jarrões impede-os de se misturarem a tudo o que seja dinamismo.”
A afirmação anterior não contradiz o que sobre o assunto escreveu Paulo Silveira e Sousa, no texto “As elites, o quotidiano e a construção da distinção no distrito de Angra do Heroísmo durante a segunda metade do século XIX” (http://hdl.handle.net/10400.3/399) publicado na revista Arquipélago História, em 2004, que referindo-se às touradas à corda na segunda metade do século XIX, escreve:
“As touradas eram um palco para demonstrações de força, de destreza, e para as relações entre classes segundo o velho modelo paternalista e hierárquico. Apesar de serem frequentadas por todos os grupos sociais, tanto urbanos como rurais, não podemos daqui inferir apressadamente a conclusão de que estas eram uma espécie de espaço igualitário. Só aparentemente a tourada era um espaço sem distinções de classe. A marca do ganadeiro que apresentava os touros, a presença das suas equipes, dos seus pastores, ou a sua própria presença pessoal criavam logo diferenças, dando-lhe visibilidade e notoriedade….Entre os senhores de gravata da cidade, as suas esposas e filhas, que de um balcão seguro observavam o touro, e os camponeses descalços que corriam fugindo das investidas do animal, as diferenças estavam novamente bem claras.
Sobre a atividade propriamente dita, Ferro Alves acrescenta:
“O animal resolve-se finalmente a investir depois de laboriosa deliberação. Os artistas abandonam a presa e os instrumentos de combate. Se porventura o triste novilho consegue alcançar algum dos seus algozes, rasgando-lhe com uma cornada o fundilho das calças, o gentio delira. Há palmas e vivas, desmaios e chiliques. Os marmanjões que sustentam a corda que prende o bicho puxam dela desesperadamente até que imobilizam completamente o bicharoco. Se este num movimento ocasional se volta, enfrentando-se com os moços de corda, então o pânico é indescritível.
Um autêntico salve-se quem puder. Os muros e as árvores são impotentes para conter a correria vertiginosa, alucinada, dos pretensos campinos. Chiam como ratazanas aprisionadas na ratoeira”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31053, 12 de outubro de 2016, p.16)
Imagem: https://www.facebook.com/Basta.pt/photos/a.472890756075069.108951.143034799060668/1253462631351207/?type=3&theater
As primeiras associações de Proteção dos Animais
As primeiras associações de Proteção dos Animais
A primeira associação criada em Portugal com o fim de defender da malvadez humana “os pobres seres, zoologicamente a nós inferiores” terá sido criada por “um conjunto de cidadãos portugueses e ingleses”, em Lisboa, no ano de 1875, com a designação de “Sociedade Protetora dos Animais”.
Três anos mais tarde, em 1878, surgiu na cidade do Porto uma associação congénere com a denominação de Sociedade Protetora dos Animais do Porto (SPAP), a qual durante alguns anos foi dirigida por um açoriano.
De acordo com Alice Moderno, a Sociedade Protetora dos Animais do Porto, presidida pelo micaelense Dr. José Nunes da Ponte, em 1913, que realizava um trabalho, “que tanto honra e levanta o nível moral da cidade onde se expande e progride”, devia servir de incentivo e exemplo aos micaelenses que dois anos antes haviam tomado nas suas mãos a criação da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais.
No ano referido, a SPAP disponha de uma receita de 1505 escudos, na moeda portuguesa, ou sejam 1881 escudos na moeda insulana, o que lhe permitia “proteger eficazmente os animais, mantendo fontenários, distribuindo prémios, custeando um posto veterinário, tendo empregados remunerados, escritório com telefone, que prontamente comunica com todos os pontos da cidade, etc. etc.”
Nos Açores, embora a ideia da criação de uma associação de proteção dos animais seja mais antiga e as primeiras reuniões tenham ocorrido em 1908, a primeira organização que se formou foi a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais (SMPA), com estatutos elaborados tendo por base os da Sociedade Protetora dos Animais, de Lisboa.
Legalizada a SMPA, a 13 de Setembro de 1911, foram seus fundadores: Caetano Moniz de Vasconcelos (governador civil), Alfredo da Câmara, Amâncio Rocha, Augusto da Silva Moreira, Fernando de Alcântara, Francisco Soares Silva, José Inácio de Sousa, Joviano Lopes, Manuel Botelho de Sousa, Manuel Resende Carreiro, Marquês de Jácome Correia, Miguel de Sousa Alvim, Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa.
No ano em que foram aprovados os estatutos da SMPA, surgiu na ilha Terceira, com o fim de “proteger dos maus tratos todos os animais não considerados daninhos… e animar o exercício da caridade para com os animais, estabelecendo para isso prémios e recompensas sempre que permitam os recursos da sociedade”, a SPAAH - Sociedade Protetora dos Animais de Angra do Heroísmo.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31052, 11 de outubro de 2016, p.16)
4.10.16
No Dia do Animal
NO DIA DO ANIMAL
“É bendita a propaganda que se faça a favor dos animais; e é bendita, porque significa Bondade, porque sobretudo tende a minorar o sofrimento dos maiores amigos do homem” (Alice Moderno)
Hoje, 4 de Outubro, celebra-se, uma vez mais, o Dia Mundial do Animal que, de acordo com algumas fontes, terá sido declarado em 1929, num Congresso de Proteção Animal realizado na Áustria.
A escolha do dia está relacionada com a data da morte de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 1226, que em sua vida amou e protegeu os animais, tendo chegado a comprar aves engaioladas apenas com o objetivo de as soltar e de as ver de novo em liberdade.
Nos Açores, quando se comemora o Dia do Animal não se pode esquecer todos os que ao longo da sua vida tudo fizeram para que os animais tivessem uma vida mais digna. Entre estas pessoas, destaca-se a figura de Alice Moderno, uma das fundadoras e grande dinamizadora da SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, de 1914 a 1946.
A maioria das associações e das pessoas que se dedicam à causa animal têm com o seu ativismo um duplo objetivo, defender os animais e educar os humanos. Este desiderato, que não é recente, é bem evidenciado no extrato seguinte, publicado no Zoophilo em 1877: “(…)minorar as sevecias inuteis contra os animaes prestadios, melhorar as condições da sua, forçadamente curta e precaria existência entre nós, seus senhores naturaes, e em summa, e principalmente, por meio do irracional civilisar o homem; essa é a nossa questão; a isso tendem os nossos esforsos (…) levantar o seu nível moral”.
Apesar do Dia do Animal já ser comemorado há cerca de 90 anos e da (pretensa) evolução das mentalidades, hoje os militantes da causa animal continuam a ser vítimas da incompreensão por parte de um sector da sociedade, que por vezes nada faz para que tanto pessoas como animais tenham uma vida mais digna.
O principal argumento usado por alguns políticos, aos mais diversos níveis, para humilhar os defensores dos animais e para menosprezar a causa é o de sempre, isto é considerar que há sempre outra causa que merece ser defendida e que é prioritária. Dar-lhes-ia o benefício da dúvida se eles não fossem os principais responsáveis pelas dificuldades e injustiças de que são vítimas os humanos, para além de também serem corresponsáveis pela falta de civismo e de educação.
Uma resposta a estes ataques já foi dada, em 1909, pela SPAP-Sociedade Protetora dos Animais do Porto que respondeu da seguinte forma: “a proteção contra os maus tratos dos animaes não humanos não prejudica a prática da caridade, antes educa para a bem exercer”. Não sei em que sentido a SPAP usou a palavra caridade, mas apenas concordo com ele se for o que é atribuído por Agostinho da Silva que escreveu: “tempo virá de caridade, entendendo-se caridade não como aquele suplemento de humilhação que se leva aos que caíram na luta, mas como amor irrestrito que, embora consciente dos defeitos do amado, o ama sem pensar em saldo positivo ou negativo”.
Teófilo Braga
( Correio dos Açores, 31047, 4 de outubro de 2016, p.13)
26.9.16
Thomaz Hickling e a proteção às aves (II)
Thomaz Hickling e a proteção às aves (II)
Neste texto, continuarei a apresentar as razões que levaram Thomaz Hickling a não estar de acordo com o combate aos chamados “pássaros daninhos”.
Depois de ter citado um autor norte-americano, Thomaz Hickling menciona o agrónomo
Bernardino de Saint Pierre que depois de referir que os insetos daninhos podem arruinar os grãos e os frutos e as próprias pessoas acrescenta que “os pássaros dos bosques são suficientes para limpar os campos, contanto que se proíba os passarinheiros apanhá-los”
Thomaz Hickling na segunda parte do seu texto, apresenta, por ordem decrescente as dez principais causas dos prejuízos agrícolas, na ilha de São Miguel, que são as seguintes:
1- O Homem, que corta e arranca e não replanta;
2- A alforra;
3- A seca;
4- As chuvas;
5- Os ventos;
6- O rocio;
7- Os bichos (insetos);
8- Os ratos;
9- A ignorância, considerada dez vezes mais prejudicial do que os pássaros;
10- Os pássaros.
Thomaz Hickling, não negando os danos causados pelos pássaros, não admite “a impropriedade d’eleger um mal maior para evitar um menor” e acrescenta que não conhece nenhum meio tão eficaz como os pássaros “para a extinção de bichos e insetos”.
Por último, Thomaz Hickling lançou o seguinte desafio, que terá caído em saco roto:
“Á vista de todo o sobredito, quisera eu que se convocassem de dez até vinte lavradores de todos os pontos da ilha perante uma Comissão formada d’alguns Senhores Membros da Associação Agrícola Micaelense, para responderem separadamente, e sem uns ouvirem os outros, aos dez quesitos apontados, insistindo-se com especialidade no décimo, e exigindo d’eles que declarem em suas consciências, se entendem que o mal produzido pelos pássaros é ou não extenuado por alguma utilidade. Por este modo ou será confirmada a Sentença contra os pássaros, ou serão absolvidos, poupando-se tanto trabalho e tantas despesas.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31048, 27 de setembro de 2016, p.18)
Fotografia: Diogo Caetano
19.9.16
Thomaz Hickling e a proteção às aves (I)
Thomaz Hickling e a proteção às aves (I)
Em texto anterior fiz referência à iniciativa da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense (SPAM) de combater os “pássaros daninhos”. Na altura, o Padre João José do Amaral divulgou, no jornal daquela organização “O Agricultor Micaelense”, dois textos de publicações estrangeiras contra aquela prática.
No mesmo jornal, também, se manifestou contra Thomaz Hickling que apresentou vários argumentos para justificar a sua opinião baseada em reflexões pessoais “corroboradas com autoridades não suspeitas”.
Depois de afirmar que tinha “por indubitável que, em vez de deverem reputar-se “Praga” os habitantes do ar, a eles somos devedores da maior, e até da melhor parte de nossas colheitas”, Thomaz Hickling sintetiza as suas razões no texto seguinte:
“Os pássaros, além da deliciosa harmonia dos seus gorjeios, em que desde a primavera até certo tempo nos enlevam, e mimoseiam, parecendo proclamarem as obras maravilhosas da criação, e a glória excelsa do Criador, ocasionando ao homem a elevação da sua alma à contemplação das cousas Divinas, alimpam os campos da inumerabilidade d’insetos, e vermes, que os infestam; compensando d’esta arte, e mui abundantemente, o insignificante mal, que produzem, o qual nunca é tanto como o que d’ outras causas é proveniente”.
O primeiro perito na matéria citado por Thomaz Hicking é o americano Jorge Emerson que refere que os pássaros são aliados do homem, nos seguintes termo: “Há muitas espécies de pássaros, cujo auxílio é indispensável à subsistência humana, e aos quais, por nossa ignorância, e perversidade, fazemos guerra, como se fossem nossos inimigos”.
Outro autor norte-americano, cujo nome não é referido, depois de afirmar que “se não houvesse aves, que refreassem esses enxames d’insetos vorazes, que nos circundam, é crível que seria inabitável o nosso país”.
(continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31042, 20 de setembro de 2016, p.18)
13.9.16
Tração animal
A Tração animal no século XIX
Durante séculos, algumas pessoas e associações lutaram contra o abuso de que eram vítimas os animais usados para puxar carroças, muitas vezes famintos e doentes.
Entre nós, a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais fundada, entre outros, por Alice Moderno e Maria Evelina de Sousa, dedicou os primeiros anos da sua existência a procurar melhores condições para sobretudo bois e cavalos, quer alertando as autoridades para os maus tratos de que eram vítimas, quer combatendo o uso da aguilhada, quer propondo a melhoria dos caminhos por onde passavam os veículos de tração animal.
Hoje, apesar da evolução dos meios de transporte, os animais continuam a ser usados para transporte de cargas, muitas vezes superiores às suas forças, pelo que algumas organizações continuam o combate pela sua libertação da exploração e maus-tratos.
Outras entidades, entendem que os animais não-humanos não devem ser objeto de posse nem de propriedade pelo que, por princípio, recusam o seu uso para qualquer fim, como é o caso da tração animal, circos, touradas, etc.
No século XIX, a situação era um pouco diferente. Assim, se lermos “O Agricultor Micaelense”, de 1844, concluiremos que para além da questão dos caminhos também se defendia a construção de carros mais adequados. Assim, enquanto uns diziam que “carros d’outra qualidade…não podem resistir a caminhos tão maus; nem os bois tinham forças par os puxar por uns pisos tão descompostos e bravios”, outros argumentavam “que é um errado pressuposto o cuidar-se, que não se haveriam melhor com os caminhos ruins os carros bons do que os maus”.
A terminar, o autor do texto defende “que antes e primeiro de tudo, nós nos devemos arremessar aos carros e obriga-los por todo os modos, pela persuasão e pela força, a transformar-se e civilizar-se para interesse comum dos viandantes e transportes; e até para benefício dos bois, de seus condutores e de seus donos”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31036, 13 de setembro de 2016, p.16)
12.9.16
Amigo da tortura profere banalidades
O aficionado Vítor Rui Dores gosta da tortura de touros e cavalos
Um indivíduo que dá pelo nome de Vítor Rui Dores sempre que pode escreve ou fala em apoio da tortura de touros e de cavalos, isto é da tauromaquia, que anda a passar por maus bocados, pois cresce em todo o mundo o número daqueles que acham que tal prática não faz qualquer sentido nas sociedades do século XXI.
Mas, ao contrário do que seria de esperar, o individuo em questão sempre que fala sobre o assunto não acrescenta uma linha ao que qualquer aficionado de meia tijela é capaz de vomitar pela boca para fora.
Em entrevista à TSF, transcrita no Açoriano Oriental, do passado dia 7 de agosto, o senhor Dores começa por afirmar que na Graciosa existe a única praça de touros no mundo situada na cratera de um vulcão. Ao contrário do que ele pensa tal facto não é orgulho para ninguém, pois no mundo de hoje o que se assiste é à demolição de praças de touros ou a sua adaptação para outros fins, como centros comerciais, centros desportivos ou centros culturais, onde a tortura de animais não é permitida.
Com vistas curtas ou com palas nos olhos, o senhor Dores conhece um estudo que afirma que as touradas à corda contribuem com 11% para o PIB da Terceira e desconhece outro da autoria de Tomaz Dentinho e de João Paes que afirmam que as touradas apenas representam 0,6% do PIB.
De acordo com o Açoriano Oriental o senhor Dores pensa “que 11% do PIB da Terceira está relacionado com as touradas, porque as pessoas compram muita cerveja e bifanas durante as touradas à corda”. Se o senhor em questão não tivesse a idade que tem diria que a afirmação não passava de “coisa de rapazes” como já devia ter idade para ter juízo nada temos a acrescentar.
Como já tivemos a oportunidade de escrever termino esta nota desnecessária, afirmando “que tal como acontece com qualquer tipo de espetáculo, as touradas não são uma atividade produtiva, não contribuindo em nada para a economia real. Será que contribuem para melhorar a vida das pessoas os seguintes contributos para o PIB mencionados no estudo: o dinheiro pago aos ganadeiros (transferência de dinheiro para particulares), o pagamento de licenças (transferência de dinheiro para as autarquias), o consumo de comidas e bebidas (na maioria a partir de produtos importados e que aconteceria na mesma se a tourada fosse substituída por outra atividade festiva) ou o combustível e o desgaste de veículos de quem se desloca para as touradas (que estarão associados a um aumento da importação de derivados do petróleo e de carros ou peças para os mesmos), despesas dos hospitais com os feridos (em média, 300 por ano) e com as funerárias em casos de mortes (em média, uma por ano).
José Ormonde
10 de setembro de 2016
5.9.16
Abate zero
Abate zero
Depois de inaugurado, a 27 de abril de 2007, e de ter sido licenciado como Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia de Ponta Delgada, o Canil Municipal de Ponta Delgada, segundo um dos seus responsáveis irá comemorar os 10 anos de existência com a implementação de uma política de abate zero.
Embora ache que o que se tem feito, ou melhor a política que tem sido seguida até aqui, na esmagadora maioria dos canis de todo o país, não deve ser orgulho para ninguém, não havendo, portanto, razões para comemorar seja o que for, considero que os amigos dos animais devem, por um lado aplaudir a medida que vai ser implementada pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, que vai ser pioneira nos Açores e uma das primeiras a nível nacional e, por outro lado, contribuir na medida das suas possibilidades para que aquela meritória intenção se torne uma realidade que orgulhe toda a região.
Mas, conhecendo a irresponsabilidade que grassa pela ilha, o modo desumano como são tratados os animais e a distância muito longa que muitas vezes separa as intenções dos atos, a medida anunciada só terá sucesso se for precedida e acompanhada de outras que façam com que os animais, sobretudo cães e gatos, em vez de irem parar ao canil sejam abandonados nas ruas, nos caminhos, nos miradouros, nos caixotes de lixo, etc.
Que medidas devem ser essas?
Entre outras, as seguintes:
- Tornar efetivos a identificação e registo obrigatórios;
- Implementar uma continuada educação do público em vez de recorrer a campanhas pontuais como foi a “Campanha Alice Moderno”;
- Reforçar as campanhas de esterilização;
- Estabelecer parcerias com as associações legalmente constituídas e criar mecanismos que incentivem a colaboração das dezenas de voluntários com os serviços oficiais;
- Punir, sem dó nem piedade, todos os prevaricadores.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31030, 6 de setembro de 2016, p.12)
Fotografia: Ilha dos Bichos
Depois de inaugurado, a 27 de abril de 2007, e de ter sido licenciado como Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia de Ponta Delgada, o Canil Municipal de Ponta Delgada, segundo um dos seus responsáveis irá comemorar os 10 anos de existência com a implementação de uma política de abate zero.
Embora ache que o que se tem feito, ou melhor a política que tem sido seguida até aqui, na esmagadora maioria dos canis de todo o país, não deve ser orgulho para ninguém, não havendo, portanto, razões para comemorar seja o que for, considero que os amigos dos animais devem, por um lado aplaudir a medida que vai ser implementada pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, que vai ser pioneira nos Açores e uma das primeiras a nível nacional e, por outro lado, contribuir na medida das suas possibilidades para que aquela meritória intenção se torne uma realidade que orgulhe toda a região.
Mas, conhecendo a irresponsabilidade que grassa pela ilha, o modo desumano como são tratados os animais e a distância muito longa que muitas vezes separa as intenções dos atos, a medida anunciada só terá sucesso se for precedida e acompanhada de outras que façam com que os animais, sobretudo cães e gatos, em vez de irem parar ao canil sejam abandonados nas ruas, nos caminhos, nos miradouros, nos caixotes de lixo, etc.
Que medidas devem ser essas?
Entre outras, as seguintes:
- Tornar efetivos a identificação e registo obrigatórios;
- Implementar uma continuada educação do público em vez de recorrer a campanhas pontuais como foi a “Campanha Alice Moderno”;
- Reforçar as campanhas de esterilização;
- Estabelecer parcerias com as associações legalmente constituídas e criar mecanismos que incentivem a colaboração das dezenas de voluntários com os serviços oficiais;
- Punir, sem dó nem piedade, todos os prevaricadores.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31030, 6 de setembro de 2016, p.12)
Fotografia: Ilha dos Bichos
2.9.16
Priolo
O priolo: de praga a jóia da coroa
Penso que hoje ninguém põe em causa o trabalho que tem sido feito em prol da conservação do priolo, ave única no mundo, que vive na zona montanhosa situada a leste da ilha de São Miguel nem os milhões de euros já investidos nos vários projetos que têm sido implementados nos concelhos do Nordeste e da Povoação.
Se hoje o priolo é classificado como uma espécie em perigo, no passado foi, a par com outras aves, considerado uma praga agrícola e como tal foi combatido pelas entidades oficiais, que incentivavam o seu abate, e foi perseguido pelos agricultores.
Embora a principal causa para o seu quase desaparecimento tenha sido a destruição e redução do seu habitat, sobretudo para a plantação de criptomérias e para a criação de pastagens, a perseguição movida pelos agricultores, que recebiam incentivos para os matar, a sua captura e morte por parte de colecionadores também contribuíram para que o seu número se reduzisse drasticamente.
Segundo uma nota publicada no Correio dos Açores, no dia 18 de novembro de 1971, chegou-se a duvidar da sua existência como se pode ler: “Nos últimos anos tem sido por mais de uma vez discutida ou posta em dúvida, nos sectores mais diretamente ligados aos estudos de ornitologia, a presença em S. Miguel de uma ave rara, que segundo parece, hoje só existe nesta ilha”.
Na mesma notícia, é mencionado o aparecimento de um priolo “na Lagoa das Furnas, na propriedade ao lado do antigo Jardim José do Canto”, tendo o exemplar sido apanhado e ido para o Museu Carlos Machado, “onde se encontra a enriquecer a coleção ali existente”.
Hoje, embora a evolução das mentalidades não tenha acompanhado a evolução da tecnologia, ninguém de bom senso considera mais importante uma ave empalhada num museu do que uma ave viva e em liberdade.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31017, 23 de agosto de 2016, p.16)
Imagem daqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Priolo
1.9.16
Abandono de animais ontem e hoje
Abandono de animais ontem e hoje
Nos últimos tempos muito se tem falado sobre o abandono de animais e sobre o seu abate nos canis que estão sempre cheios apesar de nalguns casos ter aumentado o número de adoções e do trabalho incansável das associações e de muitos voluntários.
É verdade que tem havido excessos verbais por parte de algumas pessoas, mas não é menos verdade que todos têm o direito à indignação, sobretudo os que dão o que podem e às vezes mais do que podem para salvar animais.
Incompreensível é a atitude de afronta e o desrespeito por parte de quem está a falar em nome de uma entidade oficial face a comentários sensatos de quem abraçou a causa animal mas que espera sempre mais de quem tem por obrigação fazer mais do que tem feito. A pessoa (ou pessoas?) em questão não é digna de estar a trabalhar num serviço público por não ser capaz de ouvir e ter compreensão para com quem apresenta pontos de vista diferentes dos seus e por colocar em causa uma entidade e as pessoas que neste momento são seus legítimos representantes e que apesar de tudo querem fazer melhor.
Sobre a quantidade de animais abandonados, sobretudo de cães e gatos, um pouco por todo o lado e nos vários canis, não temos números mas é tal que é incompreensível em pleno século XXI.
Esta situação não é nada diferente da que se verificava no início do século XX e que levou à criação, por Alice Moderno, da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e da que existia em 1972, que foi denunciada pela comunicação social de São Miguel, sobretudo pelo Correio dos Açores, no dia 11 de março, nestes termos:
“Há, todavia, seres humanos com piores sentimentos do que o mais pobre e humilde rafeiro e assim se compreende o abandono a que, muitas vezes, depois de um período de entusiasmo e de encantamento, votam os tristes animais, matando-os à fome ou atirando-os à rua, sacudidos a ponta pé ou a cabo de vassoura, num testemunho de desumanidade e vilania incapaz de se albergar por detrás de uma submissa e dura coleira”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31023, 30 de agosto de 2016, p.16)
18.8.16
17.8.16
A senhora Lysette Figueiredo e o Caldeirão
A senhora Lysette Figueiredo e o Caldeirão
Já, por mais de uma vez, fiz referência ao famoso Caldeirão, situado na Estrada da Ribeira Grande, que era impropriamente usado para sepultura de animais que para lá eram atirados vivos e que por falta de alimento e de água acabavam por morrer.
Neste texto, vou recordar o trabalho meritório da senhora Lysette da Cunha Augusto de Figueiredo que, em 1973, era a presidente da SMPA-Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, tendo sucedido a Fédora Serpa de Miranda, que por sua vez foi eleita presidente após o falecimento da sua fundadora, Alice Moderno.
Infelizmente tenho, até ao momento, muito pouca informação sobre a atividade da Senhora Lysette Figueiredo e da própria SMPA durante a sua presidência, mas das parcas informações recolhidas facilmente se chega à conclusão de que se tratava de uma cidadã muito dedicada à causa dos animais.
Em Janeiro de 1973, o jornal “Açores” elogiou “a dinâmica” presidente da SMPA que por várias vezes desceu ao Caldeirão com o objetivo de “salvar as criaturas vivas que lá se encontravam”.
A 3 de Fevereiro de 1973, o jornal “Açores” publicou um comunicado da SMPA onde aquela associação esclareceu que para o Caldeirão não eram atirados apenas animais mortos, velhos ou doentes. Com efeito, a presidente da SMPA encontrou lá animais “vivos, e outros com saúde relativa, mas todos cheios de fome e sede”, tendo retirado “razoável número de cães, todos eles válidos, cães de gado, como aqui se chamam, e até bons cães de guarda”.
Hoje, já não existindo o Caldeirão, as pessoas continuam a abandonar, impunemente, cães e gatos, não muito longe do local onde se situava o Caldeirão, no Canil Municipal de Ponta Delgada (Centro de Recolha Oficial (CRO) de Animais de Companhia de Ponta Delgada), bem como um pouco por todo o lado, inclusive nos ecopontos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31012, 17 de agosto de 2016, p.16)
9.8.16
Lysette Figueiredo e a SMPA em 1971
Lysette Figueiredo e a SMPA em 1971
No presente texto, faço referência ao funcionamento da SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e às dificuldades encontradas por quem se dedicava, em 1971, à causa animal.
Sobre o associativismo, tanto no tempo de Alice Moderno como sob a presidência da senhora Lysette Figueiredo, a SMPA teve um funcionamento que é exemplo para as associações atuais. Com efeito, sempre houve a comunicação aos associados sobre o que faziam. A título de exemplo, refere-se que nos dias 13 e 27 de novembro de 1971 realizou-se uma assembleia geral onde, de acordo com o jornal “Açores”, de 27 de novembro, naquele dia “a senhora D. Lysette da Cunha Augusto de Figueiredo, que tem com a maior proficiência presidido à Direção, comunicará aos sócios a feliz consecução de alguns dos desideratos da Sociedade”.
Sobre as dificuldades encontradas por quem se dedicava à proteção dos animais, a senhora Lysette Figueiredo, numa carta aberta dirigida ao diretor do jornal Açores mencionu, entre outras, as seguintes:
- Os riscos que “correram aqueles que uma vintena de vezes desceram ao Caldeirão”;
- Os vexames sofridos porque passou ao “chamar a atenção do Fiscal dum recinto público para as condições de alojamento de animais;
- Ser mordida por um cão, de uma senhora que “tem vinte e um cãezinhos dentro de casa”;
- A recusa em ceder terreno para instalar “um recinto para recolha de animais chamados vadios”;
- As coisas bem desagradáveis que ouvia quando pessoalmente ia cobrar as quotas para “economizar a verba dum cobrador”.
Termino com a apresentação de um caso caricato que ocorreu quando um cidadão quis resgatar um animal que tinha sido apanhado na rede. Segundo a senhora Lysette Figueiredo, a pessoa em questão “dirigiu-se ao departamento municipal competente para tirar a licença, e qual não foi o seu espanto ao exigirem-lhe a importância de 200$00 de multa. Mas porquê? Esse senhor não era dono do cão. Portanto difícil de entender a multa que pagou […]. Teve mesmo de pagar, se quis ter a íntima alegria, ditada pela consciência de tomar conta do cãozinho que ia ser abatido”.
Este caso faz-me recordar o que se passa hoje, onde se paga para adotar e não por abandonar. Assim, abandonar um animal num canil é um ato tão banal como atirar um papel de rebuçado para um caixote do lixo. Até quando?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31006 de 9 de agosto de 2016, p.16)
8.8.16
6.8.16
4.8.16
Canil de Ponta Delgada já abateu 600 animais sem potencial de adoção este ano
O veterinário municipal de Ponta Delgada, nos Açores, disse hoje que entre janeiro e julho deste ano foram abatidos 601 animais sem potencial de adoção no canil concelho
"Muitos deles são animais que não são saudáveis, são animais com patologias que já foram diagnosticados por clínicas veterinárias, que são agressivos e que os donos despejam-nos no canil. São animais que não têm potencial nenhum de adoção e o que é que lhes acontece? Obviamente que são abatidos”, afirmou Vergílio Oliveira.
O veterinário municipal de Ponta Delgada salientou que, apesar do número de abates registados no canil municipal de Ponta Delgada, que acolhe animais ainda dos concelhos da Povoação, Nordeste e Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, os dados revelam uma melhoria quando comparados com 2015.
Segundo o responsável, entre janeiro e julho de 2016, “entre entregas e abandonos, entraram menos 100 animais e foram abatidos menos 200” do que no mesmo período do ano passado.
Vergílio Oliveira adiantou que este ano, em igual período, foram doados 423 animais, mais 227 do que no ano passado.
“Os números estão este ano ligeiramente melhores do que os do ano passado”, referiu.
A Câmara de Ponta Delgada quer transformar o canil municipal num canil de “abate zero” já em 2017, mas para tal Vergílio Oliveira alerta para a necessidade de haver uma maior responsabilização de quem maltrata ou abandona animais.
“É preciso responsabilizar os que abandonam e que entregam os animais nos canis, porque muitos dos autos de notícia são levantados e as coimas prescrevem. Ou seja, levantam-se muitos autos de notícia e depois as coimas não são aplicadas”, afirmou.
As declarações do veterinário municipal surgem na sequência de a Câmara Municipal de Ponta Delgada ter sido alvo, nos últimos dias, de críticas nas redes sociais por parte de cidadãos e associações de defesa dos animais, alegadamente por cometer “autênticas chacinas”.
A autarquia, em comunicado, nega as acusações e promete “agir judicialmente” contra “todas as pessoas individuais e/ou coletivas” que apelidaram de “assassinos” os responsáveis pelo canil municipal e que difamaram “o bom nome da autarquia”.
Fonte: http://www.acorianooriental.pt/noticia/canil-de-ponta-delgada-ja-abateu-600-animais-sem-potencial-de-adocao-este-ano
1.8.16
O Dr. Teófilo Braga e os animais
O Dr. Teófilo Braga e os animais
Em texto anterior escrevi sobre a profunda amizade existente entre Teófilo Braga (1843 - 1924), um dos maiores vultos da cultura portuguesa e um dos açorianos que pela sua obra literária, intervenção cívica e política mais alto elevaram o nome dos Açores, e a acérrima defensora dos direitos dos animais Alice Moderno.
Como prova do bom relacionamento entre Teófilo Braga e o movimento de defesa dos animais, é possível encontrar na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada um cartão enviado, a 28 de maio de 1909, pela Sociedade Protetora dos Animais do Porto, àquele, então “Presidente da Academia das Ciências de Portugal”, onde se pode ler o seguinte:
“A Direção da Sociedade Protetora dos Animais esperando ser honrada por V. Exª com duas linhas de apreciação sobre o livro “Um golpe na rotina”, já enviado a V. Exª., saúda-o e associa-se à justa homenagem de consagração que a Academia das Ciências de Portugal vem de prestar a V. Exª.”
O livro “Um golpe na rotina” constava de um parecer, da Sociedade Protetora dos Animais do Porto, sobre o limite de cargas apresentado à Exma. Câmara Municipal do Porto com a colaboração de ilustres professores, engenheiros e médicos veterinários, um dos grandes problemas com que se debatiam as associações na altura em todo o país, não constituindo os Açores uma exceção. Com efeito, a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, surgida dois anos depois, também tinha como grandes objetivos proteger os animais de companhia dos abandonos e os de tiro dos maus tratos e dos excessos de cargas que eram obrigados a transportar.
A atitude de Teófilo Braga de sobre a tauromaquia pode ser conhecida através da publicação da feminista e republicana Vitória Pais Freire de Andrade “A ação dissolvente das touradas”.
De acordo com Vitória Andrade, Teófilo Braga “quando em 1889 foi demolida a célebre praça do Campo de Sant’Ana, e nesse mesmo ano foi apresentada à Câmara Municipal uma proposta para ela conceder terreno no Campo Pequeno, a fim de ali se fazer uma praça de touros, protestou com toda a energia para que tal concessão se não fizesse, atentos os fins desmoralizadores a que se destinava. Como porém se encontrava desacompanhado na luta, muito embora defendendo a verdade e a razão, foi vencido…”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31000, 2 de agosto de 2016, p.16)
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