27.2.10

Açores: O Contributo das touradas para a economia regional




Tal como outras actividades, na tauromaquia os lucros são privados e as despesas socializadas.

A indústria tauromáquica argumenta que a tourada é importante para a economia dos Açores. Será verdade?
Há dias falando com um terceirense (natural e residente) dizia-me ele que tinha conhecimento de que algumas entidades se recusavam a investir na ilha Terceira porque na metade do ano, em virtude da realização das touradas à corda, parte das pessoas não estava disposta a trabalhar a partir de determinada hora.
A mesma pessoa mencionou, também, o facto de as touradas não criarem riqueza, isto é, limitavam-se a transferir dinheiro dos espectadores para os organizadores, para os ganadeiros e para alguns comerciantes de comes e bebes.
Já a terminar o diálogo o meu interlocutor lembrou-se de dizer que, afinal, com a venda dos vídeos das marradas, junto das comunidades emigrantes, sempre entrava algum dinheiro nos Açores.
Não temos quaisquer dados para corroborar ou contradizer o escrito no primeiro parágrafo, mas temos informações para confirmar quase tudo o que foi afirmado a seguir.
Dizemos quase tudo porque consideramos que as contas não estão todas sobre a mesa, isto é, se tivemos o cuidado de contabilizar tudo, as saídas de dinheiro da região seriam superiores às entradas. Com efeito, quanto custa a vinda, aos Açores, de toureiros de renome nacional e internacional? Quanto custa a vinda de touros do exterior, para as touradas de praça, sabendo-se que em 2009, 28% dos touros usados nas ditas “ostentavam ferros e divisas de Ganadarias do Continente”?
Alegam os defensores das touradas que as mesmas trazem turistas. Por não acreditarmos, teríamos todo o gosto que apresentassem números. Além disso, esquecem-se os mesmos de dizer que o que efectivamente tem trazido turistas aos Açores é a sua natureza que tão maltratada tem sido nos últimos anos. Associados à natureza estão sim os passeios pedestres e estes são um dos motivos que atraem visitantes (as entidades oficiais têm estes números) e que a Terceira durante alguns anos não teve percursos oficialmente recomendados devido à presença de gado bravo no trajecto de alguns dos percursos pedestres.
Sendo as duas actividades incompatíveis, dizem eles que há espaço para ambas. Concordamos, mas não nos esquecemos de que o território não é infinito, assim, quando aumentar o espaço para uma das actividades, o da outra míngua.
Outras contas que não são feitas relacionam-se com os acidentados que consoante a gravidade dos ferimentos têm que ser tratados nos hospitais ou mesmo têm de se deslocar de várias ilhas para os hospitais do Santo Espírito ou do Divino Espírito Santo e aí ficam internados durante algum tempo. Nestes casos, bem como nas baixas médicas que se seguem aos internamentos, não são os adeptos ou promotores das touradas a arcar com as despesas, pelo contrário, somos todos nós contribuintes a pagar com o dinheiro dos nossos impostos.
Por último, dizem os defensores da tauromaquia que a mesma é o ganha-pão para algumas famílias. O que é certo é que não divulgam o número de pessoas envolvidas na actividade a tempo inteiro para se perceber da dificuldade ou não na sua reconversão.
Mesmo que estivessem envolvidas muitas famílias, ao longo da história dos Açores tem havido ocupações que desapareceram e foram substituídas por outras. Neste caso, sabendo-se da dependência da região do exterior, em termos de satisfazer as suas necessidades alimentares, não achamos que constituirá qualquer problema social a reconversão de quem está ligado à tauromaquia. O que não percebemos é a apatia ou a incompetência dos nossos sucessivos governantes para por termo à crise permanente em que vivem todas as actividades ligadas à agricultura e por que razão não aposta a região na sua soberania alimentar.
Em suma, a tauromaquia:
- Ao contrário de criar riqueza para a região, gera dinheiro para um número muito reduzido de pessoas;
- É fortemente subsidiada pelas várias instâncias governativas, Governo Regional dos Açores, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, com dinheiro que poderia ser investido na saúde, educação, segurança das pessoas, assistência social, etc.;
- É subsidiada pela Comunidade Europeia, através dos apoios concedidos à criação de touros bravos em sistemas extensivos.

FONTES:
Rodrigues, M. (2009). Os Açores, mais corridas? Inúmeras questões a equacionar e a resolver! A União, 22 de Setembro
http://www.bullfightingfreeeurope.org/index_por.html

Textop de Mariano Soares

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.