24.2.10

O Futuro da Cultura em Portugal: Ministério da Tortura; Para breve?

Tal como anunciado, o Ministério da Cultura, na pessoa da Ministra Gabriela Canavilhas, criou *mais* uma secção dedicada à tauromaquia. Note-se que o Presidente desta secção é o Inspector-Geral das Actividades Culturais, o que não é muito chocante, visto que a anterior Inspectora-Geral era assumidamente aficionada das touradas, e não fazia esforço algum para disfarçar a sua falta de neutralidade. Seguindo esta linha de coerência do Governo, e dada a questionável isenção dos seus agentes, não parece assim tão descabido imaginar um matador de touros e um forcado no lugar de Secretários de Estado da Cultura, passando o Ministério da Cultura a chamar-se Ministério da Tortura. Desta forma, a pouca-vergonha que já está instalada passaria a ser oficial.

As sociedades modernas tendem a tornar-se cada vez mais civilizadas, abolindo, gradualmente, práticas medievais que as envergonham perante si próprias e perante o mundo, e cujo lugar deve apenas pertencer ao passado. Independentemente dos prazeres pessoais de cada cidadão, que, obviamente, tem todo o direito de apreciar o que quer que aprecie, embora, em casos como o que está em apreço, estes devam ser guardados para si, ou, eventualmente, e consoante os casos, ser alvo de análise psiquiátrica, o facto é que, a sociedade não pode, nem deve, a bem da evolução civilizacional e moral, considerar aceitáveis, muito menos oficializar, práticas que impliquem a exploração e/ou sofrimento de quem não se pode representar a si próprio nem escolher participar nelas.
Em pleno século XXI chega a ser ofensivo discutir-se o sofrimento dos outros animais (que não os humanos), como se a ciência não estivesse já evoluída ao ponto de recusar a ideia bacoca de que a capacidade de experienciar dor, angústia e/ou sofrimento deve somente ser atribuída aos animais-humanos. Introduzir esse tópico na discussão acerca da eventual legitimidade da existência de espectáculos sanguinários é uma manobra de diversão, muito usada por parte dos que defendem tais práticas, embora, na verdade, já nem esses acreditem em tal despautério, embora, pela total falta de argumentos para defender o sadismo que os caracteriza, continuem a insistir no dito argumento falacioso. Uma outra manobra de diversão vastamente utilizada é, a de que, sem a indústria que dá vida, tortura, e de seguida, morte (ou reciclagem, dada a crise), a espécie (???) do touro bravo (???), esta extinguir-se-á. Portanto, de acordo com este pressuposto, o que está aqui em causa afinal é a salvação através da tortura… Pois bem, não fosse esta última ideia absurda quanto bastasse, há ainda por esclarecer por parte da indústria em causa, que ramo da Biologia caracteriza o touro como uma espécie, e, já agora, que ecossistema é que depende desta. Obviamente que, na eventualidade de se quererem manter estes animais (que não são mais do que bois não castrados e seleccionados de acordo com as características preferidas dos que destes beneficiam financeiramente), não seria, obviamente, através das touradas. Seria perfeitamente possível manter estes animais em regime de santuário, protegendo-os. Apenas em jeito de nota de rodapé, extinguir uma espécie, sub-espécie, ou agrupamento de animais, não significa exterminá-los.
Lamentavelmente, nem sempre o que é considerado legal (do ponto de vista do Direito) é moralmente admissível. O Direito tende a acompanhar o progresso das civilizações, contudo, não é sempre justo. O facto de determinada actividade estar dentro dos termos da Lei, não faz, por si só, com que ela seja obrigatoriamente aceitável do ponto de vista ético. A História tem-nos mostrado inúmeros bárbaros costumes, que estavam perfeitamente legalizados, e que se foram tornando ilegais, à medida que fomos evoluindo intelectual e moralmente.
Infelizmente, as vítimas da tauromaquia (caso que aqui analisamos) são silenciosas; não podem falar do que sentem, e, assim, comprovar a veracidade dos argumentos dos seus defensores. Todavia, os referidos defensores *podem*, e *devem*, fazê-lo.
Não é incomum verem-se milhares de pessoas na rua, a manifestarem-se; Não é incomum ouvirem-se, na televisão e na rádio, intervenções de cidadãos indignados; Não é incomum lerem-se, na imprensa escrita, artigos de opinião e cartas de leitores. O que é incomum é verem-se similares declarações acontecerem em defesa dos interesses de outros, que não nós próprios.
É exactamente para contrariar a tendência acima referida que a ANIMAL vos vem convocar para um exercício conjunto de altruísmo. Independentemente de ser uma/um cidadã/cidadão anónima/o, fazer parte de um grupo informal, de uma associação legalmente constituída, de simpatizar mais ou menos com a organização que organiza o protesto, se é uma/um protectora/protector dos animais, compareça. Faça-o *pelos animais* e por mais ninguém.
Porque não chega escrever, porque não adianta lamentar, e porque desistir não é uma opção, saia para a rua, no dia 10 de Abril, sábado, e venha mostrar ao país que a maioria silenciosa tem rosto. O tempo é agora!
Daremos mais notícias acerca deste grande protesto, muito em breve.
Rita Silva
Presidente da ANIMAL

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